Sunday, October 29, 2006

Premiere

Como é hábito, a Humanidade está a um passo da sua própria extinção. Desta vez, o problema é a infertilidade.
Classificado de ficção-científica (apenas por se passar em 2027) e baseado no romance de P.D.James, Cuarón apresenta-nos uma distopia, num futuro não muito distante, mas muito reconhecível, realista e convincente. Um drama por antecipação, mas um thriller de acção.
Após mais um caso peculiar de fama, com o mundo todo em consternação e desespero, surge um "milagre" que poderá evitar que mais casos destes surjam. Clive Owen, afasta por momentos a garrafa de whiskie e, com a ajuda de Michael Caine, o patriarca da marijuana, somos guiados para o Amanhã.
Num futuro Orwelliano, caracterizado por um controlo social opressivo, de índole de extrema.direita, os risos das crianças são substituídos pelo miar e ladrar daqueles que tomaram o seu lugar. A violência aí existente surge, por vezes, sem se esperar e faz-nos reagir tal a brutalidade visual. De câmara ao ombro, numa impressionante long-shot de guerrilha urbana ou numa emboscada, Cuarón filma o detalhe futurista da cinematografia de Lubezki. Os pormenores, referências e toda a informação estão presentes em cada cena, mas sem o exagero visual de ter que enfatizar Londres daqui a duas décadas. Um local soturno e não a sofisticada utopia que sempre sonhámos, embora com uma lindíssima luz natural de tonalidades azuis pálidos e cinzentos.
Com um elenco de luxo, Julianne Moore e Chiwetel Ejiofor, sobressai a presença de Caine que é a única personagem, a par do local onde vive, que transmite alguma alegria e luz a um filme sombrio. De realçar igualmente uma banda-sonora estranha, mas eficaz, onde surge Roots manuva como o representante musical da revolta.
No final, impõe-se a pergunta: quando toda a esperança se perde, pode um bater de coração, uma única pessoa fazer a diferença? Neste filme faz, sente-se essa mensagem subtil durante o tempo todo, por mais incerta que seja. Por isso, também a minha mensagem final é de esperança, por mais filmes honestos como este. Aos outros, já dizia Caine: "Pull my finger!"

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