Tuesday, October 10, 2006

Com este texto antigo despeço-me. É um misto de análise com depoimento:

Depressão
O aspecto mais ignóbil de uma depressão é o seu estado de pura subjectividade que não permite ao paciente aceder às condições básicas da comunicação - recepção de códigos compreensíveis pelo interlocutor - em relação ao seu sentir patológico. Quem nunca experimentou não compreende! Sendo a comunicação, em condições de eficiência para os vários interlocutores, o requisito mais elementar para o estar em grupo e em associação com os outros, torna-se natural que, para o deprimido, o destino mais natural seja a exclusão - muitas vezes auto-exclusão - pois todos sentimos a necessidade de partilhar o que sentimos e, não havendo uma compreensão do fenómeno por parte do outro com quem partilhamos esse sentir, o paciente isola-se, na medida em que perde as faculdades que lhe permitem aceder à eficiência da comunicação (compreensão dos códigos por parte do emissor e receptor das mensagens).

Para isso, institucionaliza-se a doença, o que faz com que se crie um corpo de instituições, constituídas por vários especialistas, que permite o reconhecimento e a visibildade social da doença. A doença passa a ter um rosto, o paciente é catalogado e, inserido nesse espaço institucional, passa a ter a identidade de doente mental. Aí, as suas mensagens são codificadas, dissecadas, por forma a que o indivíduo se reconheça na sua nova identidade, pois é-lhe permitido um espaço de comunicação com todo o conjunto de especialistas que o reorientam para um um ponto bem específico do espaço social, o da relação entre médico/paciente, entre analista/analisado.

Esta naturalização institucional, remete-nos para uma das preocupações que orientou o trabalho intelectual de Foucault, a relação que se estabelece entre os saberes e o poder. Ou seja, de uma forma ou de outra, todos estamos submetidos a uma ordem disseminada de poderes/saberes. Em todo o campo institucional há uma ordem discursiva, uma episteme, que sanciona o que é dito e o que não é dito. No campo social da doença, os especialistas conduzem o doente para um discurso que os faz aceitar a sua nova identidade e que, em muitos casos, poderá ser uma identidade para a vida. É desta axiomática magnífica que a psiquiatria se alimenta.

É a vida de muitos que sofrem em silêncio! E um conselho: vivam plenamente as vossas vidas porque na verdade não há pachorra nenhuma para aturar quem padece disto!

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