Friday, December 26, 2008

mamadas e minetes

Genéricos longos, longuíssimos, era o que ele pedia, de preferência ao som de tambores, gongos e flautas orientais. Eram estes os requisitos exigidos por Jorge Florentino ao projectista dos filmes, o senhor Peres Claro. Pretexto? Uma mamada. Florentino tinha daquelas extravagâncias e ninguém, mas ninguém o demovia da cismação de fazer mamadas durante o genérico de um filme. Por isso queria-os longos, e aparecia junto a Peres Claro cheio de remoques e exigências:
- Eh pá, eu bem sei que essa merda é francesa. Mas eu não o quero curto. Nem que interrompas um pouco a máquina, senão não dá, não achas?
Peres Claro ficava um pouco duvidoso destas especulações, desta vertigem absurda para os diálogos longos e frases bem aprumadas de Florentino. Mas ele, como projectista, tinha a sua reputação a defender. "Em 30 anos de carreira nem um uma vez que a máquina inquinou, nem uma fita baça, quanto mais...", dizia orgulhoso aos netos.
Farta de ouvir as diatribes destes dois, que mais pareciam os velhos marretas, Mariana Pacheco de Guimarães toma o partido do Jorge e reitera!
- Têm que ser longos, longuíssimos! Estou farta dos minetes de 30 segundos que o meu Moisés faz durante os genéricos do Truffaut! Quero entradas à Bond, com músicas inteiras para poder desfrutar decentemente.
Como o profeta não se encontrava na sala, imediatamente trocou uns olhares gulosos como quem pede uns ovos florentinos e Jorge, de nome oval, retribuiu.
Iniciou-se aqui o genérico 69 para agradar aos dois. Longo como se quer!
E vá de mamarem um no outro. Ela empoleirada no mastro vigoroso de Jorge Florentino, sôfrega, como se estivesse a 200 metros do chão e só aquele tendão duro a pudesse amparar uma queda mortífera. Como que agradecida por essa salvação, mamava e mamava, quase sem se conceder tempo para respirar. Fios de baba, cuspo, faziam o elo de ligação entre as amígdalas de Mariana e a glande de Jorge de cada vez que ela se afastava para permitir que o ar lhe chegasse aos pulmões.
Tudo isto se passava longe do olhar de Jorge, que, deitado, só conseguia percepcionar o frenesim de chupanço de pila. Vê-lo, não via. Tinha a visão toldada pela pachacha escancarada sobre o seu rosto. E como ele gostava de ter uma senaita assim, ali, disponível, rosada, aberta, pedindo língua. "Língua funda", pedia-lhe ela, de cada vez que conseguia retirar a glande dele das suas goelas. "Língua funda, cabrão! Mete-me a língua fundo!". E ele dava-lhe. Fundo. Com a língua. E em cada lambidela funda, o seu nariz roçava-lhe o ânus. E nem os pelos incrustados de restos de caca lhe baixavam a tesão crescente.

Tuesday, December 23, 2008

Oremos

Capital nosso que estais neste mundo,
Deus todo-poderoso, que altera o curso dos rios e fura as montanhas, que separa os continentes e une as nações, criador das mercadorias e fonte de vida, que comanda os reis e os súditos, os patrões e os assalariados, que vosso reino se estabeleça sobre toda a terra;
Dai-nos muitos compradores que adquiram nossas mercadorias, tanto as más como as boas;
Dai-nos trabalhadores miseráveis que aceitem sem revolta todos os trabalhos e contentem-se com o mais vil salário;
Dai-nos tolos que creiam em nossos anúncios;
Fazei com que nossos devedores paguem integralmente suas dívidas e que o banco desconte nossos papéis;
Fazei com que Mazas* não se abra jamais para nós e afastai-nos da falência;Concedei-nos rendimentos perpétuos.

Amén
Paul Lafargue
*Mazas: nome de uma prisão francesa no século XIX.

Monday, December 22, 2008

Jantar de Natal Trissómico

(...) submeter-se à sua acção apenas em ambientes ou circunstâncias favoráveis. Sendo toda alegria e todo bem-estar superabundantes, toda dor e toda angústia são imensamente profundas. Tenha alguns cúmplices cujo talento intelectual se aproxime do seu. Suponho que você teve a precaução de escolher bem o seu momento para esta expedição aventurosa. Você não tem deveres a cumprir que exijam a pontualidade e a exatidão; nenhuma tristeza de família; nenhuma dor de amor. É preciso ter cuidado. Esta infelicidade, esta lembrança de um dever que reclama sua vontade, sua atenção a um momento determinado, envenenarão o seu prazer. A inquietação será transformada em angústia; a tristeza, em tortura. Se observadas todas estas condições preliminares, o tempo estiver bom, se você estiver em um ambiente favorável, como uma paisagem pitoresca ou um apartamento poeticamente decorado e se, além disso, você puder contar com um pouco de música, então tudo é para o melhor (...)

Charles Baudelaire

Wednesday, December 17, 2008

Thursday, December 11, 2008

Monday, December 08, 2008

Bica break

Através de Pequenas Conferências Coreográficas conheci o novo teatro. Entre os guias ali estava a Josie do bar 13 em Alvor, o chapeleiro ideal e a minha antropóloga. Mas a maior surpresa surgiu com o projecto de arte comunitárias Caruma criado pela Companhia Instável.
Também aqui o palco é partilhado com habitantes da cidade e actores, bailarinos e músicos profissionais.
Tive a sorte de ficar ao lado destes últimos e observar ao vivo a criação da banda-sonora. Contrabaixo e guitarra mais a parafernália para as alterações sonoras. Enquanto estava tudo de olhos postos no palco, o meu pescoço virava à direita a ver aqueles dois. No fim não pude sair sem deixar de os cumprimentar. E foi assim que, sem saber, dei os parabéns ao Mário Degado e ao Carlos Bica. E finalmente pus a cara ao Mr. Brody, a minha preferida Bica.

Tuesday, December 02, 2008

Curto


O filme. O fim-de-semana. O Hotel Chevalier. O Hotel Pestana Palace.

Monday, December 01, 2008

Versão Kubrik

Amen break

20 minutos que descrevem a história de um dos mais importantes breaks (retirado de um lado B de um grupo funky dos finais dos anos 60 de nome The Winstons) da história da musica.
6 segundos de um loop de bateria responsáveis por ajudar a criar novos géneros de música, principalmente drum and bass,jungle e hip-hop.

Bem, obrigado

"- Como vai isso?
- Mal.
- Mal de quê?
- Se vai mal, porquê acrescentar-lhe ainda uma razão para ir pior?"

Quando o conceito ultrapassa a música

"Enquanto nadava, um peixe que assobiava bolhas e acordes pensou para si:
"Como será o som fora de água?
Só há uma maneira de saber... tenho de aprender a voar."
E assim nasceu o peixe:avião e a sua música. Aprender a voar, mesmo sem penas, através da imaginação. Fluir como nadar, mesmo na ausência de água, através do pensamento."

Tempo de Antena

Não sei porquê...

mas quando leio algumas passagens deste texto ocorre-me o programa Eixo do Mal. Pena estar mal traduzido (em brasileiro) e não ter sido eu a escrevê-lo.


"Um caminho para levar o pensamento crítico de filósofos realmente dignos desse nome ao grande público e resistir à onipresença midiática de intelectuais de segundo escalão a serviço do poder

Na Antiguidade, o termo filósofo designava o indivíduo que põe em prática uma teoria que lhe permite alcançar a sabedoria.
Depois do que atualmente se chama o fim dos grandes discursos – cristianismo, freudismo, marxismo, estruturalismo – e não obstante sua pretensa morte, nunca a filosofia esteve tão bem. E, ao mesmo tempo, nunca esteve tão mal… Bem, porque, sem descontinuar, esperam-se dela sentido, respostas a questões éticas e políticas, existenciais portanto: como pensar, viver e agir sem referências transcendentais num mundo submetido unicamente às leis do mercado? Mal, porque, diante dessa demanda generalizada, a oferta permite aos medíocres, aos comerciantes, aos cínicos, aos oportunistas passarem adiante uma série de mercadorias de má qualidade.
Primeiro tempo: misérias da filosofia. Nesse universo tão implacável quanto os outros – o sábio nunca se separa de sua adaga e de seus venenos! –, falsamente policiado, mas verdadeiramente brutal e selvagem, quem legitima o filósofo? Os estudos universitários? O concurso de ingresso ao magistério de nível médio? O doutorado? O ensino da disciplina? Com certeza não, pois haveria uma excessiva abundância. Um Michel-Edouard Leclerc, por exemplo, aluno de seu amigo Michel Serres, diplomado pela Sorbonne, parece dificilmente merecer esse epíteto.Linhagem existencial e linhagem de gabinete
Na Antigüidade, a coisa era simples: o filósofo vive como filósofo. A prova de sua essência? Sua existência. Vê-se, por seus hábitos alimentares, pelo corte rente de seus cabelos ou por seus pelos hirsutos, por seu bastão, sua tigela, sua veste de linho branco ou seus andrajos, que se está diante de um pitagórico, um estóico ou um cínico. Porque, nessa época, o termo filósofo designa o indivíduo que põe em prática uma teoria que lhe permite alcançar a sabedoria – um estado de beatitude entre ele e ele, entre ele e os outros, entre ele e o mundo.
O cristianismo oficial modificou a definição ao longo dos séculos. Ainda hoje, vivemos em parte sob o regime cristão. Este chama de filósofo o personagem que coloca sua inteligência, seu saber, sua retórica e seu trabalho a serviço do poder instalado e forja para o uso dos poderosos um arsenal conceitual que permite, em seguida, a legitimação política de sua ação. Durante séculos, a filosofia funcionou como disciplina incestuosa e numa lógica de gabinetes. As pessoas se esforçavam para dissertar sobre o sexo dos anjos, seu número e a disposição dos tronos no Paraíso, a excelência da guerra santa e justa, os fundamentos ontológicos aristotélicos da transubstanciação e outras questões apaixonantes de um corpus escolástico que continua fascinando alguns filósofos contemporâneos que têm o gosto dos sofismas e das retóricas abstrusas.O cristianismo oficial chamou de filósofo o personagem que coloca sua inteligência, seu saber, sua retórica e seu trabalho a serviço do poder
Ainda hoje, a filosofia é trabalhada por essas duas tradições: linhagem existencial e linhagem de gabinete. Os primeiros pensam em função de uma salvação individual e visam a uma vida transfigurada, para além da vida mutilada da maioria das pessoas. São filósofos 24 horas por dia e tentam fazer coincidirem seus pensamentos e suas ações. Os segundos refletem por outrem, os outros, o mundo, e não aplicam necessariamente a si suas conclusões, e são, em contrapartida, muito hábeis em dar lições a todo o planeta.Epicuro e Heidegger
É difícil imaginar Epicuro sendo epicurista das 9 horas ao meio-dia, das 14 horas às 18 horas, tirando férias em agosto – onde? Em Saint-Paul de Vence; ou aspirando à aposentadoria – para fazer o quê? Gerenciar suas ações na bolsa; preocupado em preservar seus fins de semana – com que objetivo? Convidar seus amigos para irem a Marrakesh… Em compensação, não há contra-indicação ao que Heidegger, em sua pequena cabana na floresta negra e, depois, na Universidade, explica à sombra dos crematórios sobre o esquecimento do ser, o niilismo europeu, a restauração da metafísica, e depois denuncia colegas – Eduard Baugmarten – ao NSDAP1 , com sua carteira do partido nazista no bolso. Os dois modos de ser são radicalmente antinômicos.
Em que ponto estão os filósofos hoje? Uns acreditam ainda nas potencialidades magníficas do Jardim, outros na convivência com a época. Houve filósofos a soldo do Estado cristão, depois os famosos “idiotas úteis” à ideologia marxista-leninista, passando pelos cúmplices dos poderes instalados – Platão e Denys, Voltaire e Frederico II, Carl Schmidt e Adolf Hitler, Jean Guitton e Philippe Pétain, Alexandre Kojève e Antonio de Oliveira Salazar, Jean-Toussaint Desanti e Josef Stalin, Jacques Attali e François Mitterrand etc.Fratura recenteOs filósofos de gabinete refletem por outrem, os outros, o mundo, e não aplicam a si suas conclusões, e são, em contrapartida, muito hábeis em dar lições a todo o planeta
Uma parte das misérias da filosofia contemporânea decorre de um momento de fratura recente: 1977. Esta data permite, na verdade, pensar os “novos filósofos” de outro modo que não como uma pura e simples moda midiática, o que se fez com demasiada freqüência. É necessário reler ou ler os textos a fim de parar de reduzir esse tempo filosófico a uma história recortada, de aparição de efebo no estúdio do programa Apostrophes ou de happening de um Maurice Clavel, autoproclamado “jornalista transcendental” – muito jornalista mas, no todo, bem pouco transcendental..
Que diz esse momento dos “novos filósofos? Gilles Deleuze faz, em seu tempo, uma análise dessa máquina de guerra: nada de livro, nada de idéias, mas uma orquestração midiática de amigos e malandros do meio parisiense das “pessoas de letras” para debates televisionados.. A obra desses filósofos? Sua cena na telinha. Gilles Deleuze enganou-se ao acreditar que se tratava de uma concha vazia. Aliás, será que se deu o trabalho de ler esses livros? Ele tinha mais o que fazer e ninguém o critica por isso. Mas as três ou quatro obras que monopolizaram a crônica na época declaravam guerra à esquerda realmente de esquerda sob o pretexto de que ela provinha de Marx, portanto de Lênin, portanto do Gulag. Para evitar o stalinismo na França, seriam celebrados então novos ídolos: o advento de Tocqueville, a reabilitação de Raymond Aron, seguidos, mais tarde, por Marcel Gauchet e consortes.
L’archipel du Goulag2, tão celebrado pelos “novos filósofos”, demonstrava, pois, que a esquerda francesa era perigosa! Jean-Marie Benoist, professor assistente de Claude Lévi-Strauss, escreve Les Nouveaux primaires3, em 1978. A última capa esclarece: “Simpatizante ativo dos novos filósofos”. Visitado pelo ímpeto que estimula Chateaubriand lutando contra Napoleão, o filósofo disputa uma vaga de conselheiro geral no Val-de-Marne contra Georges Marchais. E perde…A vitória dos “novos filósofos”Uma análise da “nova filosofia”: nada de livro, de idéias, mas uma orquestração midiática de amigos e malandros do meio parisiense das “pessoas de letras”
No entanto, os “novos filósofos” ganharam: seu ódio de uma esquerda verdadeira, a assimilação desta ao gulag, ao terrorismo, ao stalinismo, portanto, in fine, ao nazismo, substituída por dois mandatos lamentáveis, para a esquerda, de um François Mitterrand que, convertido ao liberalismo alguns meses após sua chegada ao poder, acelerou o movimento de decomposição. Desde então, no Partido Socialista, a leitura de De la Démocratie en Amérique4 substitui a de Jaurès. Laurent Fabius instala-se na cadeira de Léon Blum, cadeira que não acha suficientemente grande para si.
Trinta anos depois, o balanço é conhecido: desesperança política, abstencionismo recorde, oportunismo dos partidos que se revezam no poder, violência urbana, aumento da delinqüência, desemprego exponencial, instabilidade do emprego exacerbada, transferências de empresas para outros países, acompanhadas agora por ameaças patronais, retrocesso do social, racismo, xenofobia, anti-semitismo, miséria social, sexual, mental, afetiva, triunfo da mediocridade mercantil nos canais de televisão e entre um bom número de editores, desmembramento das políticas de saúde, de educação, de cultura etc. E presença de Jean-Marie Le Pen no segundo turno da eleição presidencial.Oferta débil para qualquer demanda
Surfando no mercado liberal, a filosofia tem também seus oportunistas: houve o que Daniel Accursi chama, em La Nouvelle guerre des dieux5 , os “filósofos de sacristia” que atacavam o pretenso “pensamento 68”, fabricado inteiramente com um pouco de leituras mal feitas e muita má-fé, para tentar ocupar o lugar deixado vago no mercado midiático pela explosão da Nova filosofia, enquanto cada ex-combatente dessa defunta corrente agia agora por conta própria.. O humanismo kantiano, a volta à ética do autor da Doctrine de la vertu, desemboca, para Luc Ferry, seu principal bajulador, num ministério onde o nietzschianismo de opereta fez mais a lei do que o imperativo categórico…Foi uma guerra à esquerda realmente de esquerda sob o pretexto de que ela provinha de Marx, portanto de Lênin, portanto do Gulag
Houve, depois, La Sagesse des modernes6 , novo breviário ético para os tempos pós-modernos em que se podia ler que uma canção de Edith Piaf vale mais que todo Pierre Boulez, que o dodecafonismo é uma impostura porque não se pode assobiar Répons embaixo do chuveiro (sic…), que a moral cristã merece uma espanada para tirar o pó conceitual quanto à forma, certamente, mas de modo algum quanto ao conteúdo, que o slogan da Frente Nacional, “primeiro os franceses”, não é monstruoso, que em termos de bioética é urgente esperar e nada fazer, tudo isso regado com uma gota de Epicuro, uma pitada de Kant e de uma pequena dose de Espinosa.
Eis porque é preciso votar em Raffarin – que não se engana quanto a isso, visto que ele confessa na imprensa sua amizade, sua preferência, seu interesse por Luc Ferry, André Comte-Sponville, Bernard-Henri Lévy, Alain Fienkelkraut e alguns outros autores do mesmo nível.. Falsamente indignados, surpresos, um ou outro relatou que não conhecia o primeiro-ministro, que só o havia encontrado uma vez etc. Mas também se pode gostar das idéias dessas pessoas que falam e publicam! Que eles não se queixem, portanto, pelo fato de que alguém os leia, excepcionalmente… E, que se saiba, essas idéias não são francamente incompatíveis com… digamos, para rir um pouco, a Weltanschauung do Poitevin.
As misérias da filosofia, para acabar esse aspecto, supõem algumas palavras sobre a produção formatada por e para o mercado de uma oferta débil para responder a qualquer demanda filosófica: pequenos tratados, breves manuais (sic), sínteses sobre as grandes questões em tamanhos pequenos, obras para filosofar sem Prozac, breves vade-mecum, convites para se tornar filósofo em 24 horas ou utilizando o celular, e outros livros que constituem uma biblioteca cor-de-rosa da filosofia. Será possível descer mais baixo?Filósofos dignos desse nomePara evitar o stalinismo na França, seriam celebrados então novos ídolos: o advento de Tocqueville, a reabilitação de Raymond Aron
Segundo tempo, para não morrer de desespero: grandeza da filosofia. De fato, existem filósofos simpatizantes daquilo que fundamentalmente nega a filosofia, oportunistas, cínicos, jovens lobos que têm pressa em utilizar o mundo midiático para se tornar uma figura, um nome suscetível de ser barganhado, depois reciclado no mercado: jornalista pago por artigo em algum jornal nas páginas “idéias”, responsável pelo setor cultural de uma revista, consultor de televisão, figurante em um programa de idéias divulgadas depois da meia-noite, diretor de coleção, conselheiro literário, membro de um júri, leitor de uma editora e outras prebendas que apontam sem dificuldade o amigo dos poderes. O testemunho concreto, contentemo-nos com olhar.
Mas há, igualmente, filósofos dignos desse nome, aqueles que dão as costas, por sua vida, seu pensamento, sua obra, seus escritos, seus comportamentos, seus engajamentos, aos simpatizantes da infâmia. Há algum tempo, podia-se contar com um Michel Foucault e Gilles Deleuze; recentemente, com Pierre Bourdieu; hoje, com um conjunto de filósofos que pensam nossa modernidade de maneira crítica: como Jacques Derrida refletindo sobre a hospitalidade, o direito à filosofia, a amizade, a televisão, o terrorismo; Alain Badiou pensando a ética, a estética, mas também o Kosovo, o 11 de setembro e Le Pen/Chirac; René Schérer efetuando novas variações seriais e fourieristas sobre o cosmopolitismo; Jacques Bouveresse analisando o poder da imprensa e a nocividade dos jornalistas na fabricação de uma opinião pública; Noam Chomsky provando a existência de um Estados-Unidos diferente daquele do Império; Raoul Vaneigem persistindo num situacionismo lírico e alegre; Toni Negri dissecando a globalização; depois, Annie Le Brun, fiel aos vislumbres negros do surrealismo; André Gorz pensando radicalmente o trabalho, a renda de subsistência, o capital imaterial; François Dagognet formulando uma epistemologia de esquerda, radical e progressista; Bernard Stiegler analisando a miséria simbólica e seus efeitos reais hoje. Como não se alegrar com a fecundidade de um pensamento contemporâneo intenso, crítico, que mostra a vitalidade de uma filosofia enfrentando aquela que colabora com o mundo do jeito que ele vai?Vozes necessárias
Outra razão para se alegrar: a possibilidade de fazer ouvir uma parte de suas idéias através da televisão. Porque é preciso sair da alternativa que obriga a responder à pergunta de maneira simples e sucinta, binária e maniqueísta: a favor ou contra a televisão em si, de modo absoluto! Igualmente, paremos de acreditar que existe uma linha de ruptura entre filósofos midiáticos e os outros. Donde a necessidade de definir uma ética que recuse os dois excessos: a recusa pura e simples, por princípio – que, com freqüência, é a posição daqueles que não são convidados e para os quais se torna uma questão de honra nunca pôr os pés na televisão! –, ou a aceitação sistemática, para ali dizer qualquer coisa. De modo que é preciso agir como nominalista (o nominalismo é a arma de guerra contra todos os platonismos), saber que não há televisão em si, mas programas específicos nos quais se pode, ou não, propor um discurso alternativo à opinião pública comum, alimentada 24 horas por dia por essa mídia que é financiada pela publicidade…Trinta anos depois, o balanço é conhecido: desesperança política, abstencionismo recorde, violência urbana, retrocesso do social e Le Pen no segundo turno das eleições
Que Jacques Derrida fale no programa de Edwy Plenel, no canal LCI, sobre o 11 de setembro, sobre os Estados delinqüentes, que François Dagognet defenda há muito tempo a homoparentalidade ou a excelência da transgênese na telinha, que se possa também ouvir Peter Sloterdijk, no programa de Franz-Olivier Giesbert, tentar uma definição do pós-moderno contemporâneo, que Toni Negri converse com o excelente Pierre-André Boutang no canal Histoire, como outrora se pôde ouvir e ver Jankélévitch no programa de Bernard Pivot, Pierre Bourdieu em La Marche du siècle, Jean-Grançois Lyotard no de Guillaume Durand, que convidou igualmente Paul Ricœur, René Girard, Claude Lévi-Strauss etc… Todas elas são vozes necessárias e é útil ouvi-las.Fórum hiper-moderno
A televisão não é a Sorbonne: nela não se professa durante duas horas diante de um público que assiste à aula do professor, o qual lê suas notas sem ser interrompido ou questionado. Não lhe peçamos o que nunca pretendeu dar: ela não é a mídia servil do Collège de France, da Universidade ou da Ecole pratique des hautes études, mas um fórum hiper-moderno. De modo evidente, se esse lugar não é o anfiteatro do douto, não deve tampouco ser sua sarjeta: colocar a filosofia na rua não obriga a deixá-la se prostituir. Cada pessoa deve saber, conforme o convite que lhe é feito, se quer aparecer no programa “Tout le monde en parle”, ou no “Vivement dimanche” – para onde convergem, em contrapartida, aqueles que vivem no mundo liberal como um peixe dentro d’água.
Quanto ao resto, a aparição de um filósofo crítico na televisão vale sobretudo pela possibilidade de pôr outras pistas à disposição de quem assiste: o essencial começa depois de desligar o televisor. Comprar o livro, ler, trabalhar. A televisão é um meio – etimologia de mídia -, não um fim. Para um pensador crítico, ir a ela não é um pecado mortal, nem mesmo venial, mas um possível gesto militante, uma resistência de pixel7 , como se pôde falar, nos anos negros, de uma resistência de papel.
Em resumo: há um pensamento crítico e filósofos em quantidade, animados, atuantes. Eles podem aparecer midiaticamente para fazer ouvir uma palavra alternativa ao mundo liberal. Se essa oportunidade não for aproveitada pelo telespectador para efetuar um trabalho pessoal, é menos um problema da televisão transformada em bode expiatório do que de preguiça intelectual do telespectador que não se interessa pela filosofia.Ofertas dignas da filosofiaA aparição de um filósofo crítico na televisão vale pela possibilidade de pôr outras pistas à disposição de quem assiste: o essencial começa depois de desligar o televisor
Outro motivo para se alegrar e para diagnosticar um excelente estado de saúde: o desejo de filosofia. Deixemos de lado os sucessos de livraria fabricados pela moda, pelo tempo, o que chamo acima de biblioteca cor-de-rosa. Olhemos, antes, para o lado dos intempestivos gregos e romanos que têm tiragens consideráveis: sonho, por exemplo, com as reedições, em novas traduções, de livros ou de fragmentos escolhidos de Sêneca, sobre a velhice e a vida feliz, de Marco Aurélio, sobre a preocupação consigo e com a sabedoria, de Cícero, sobre a amizade, o dever, o sofrimento, a morte, de Plutarco, sobre a consciência tranqüila, de Aristóteles, sobre a ética, muitas provas do desejo de um saber e, depois, do desejo de reatar com os problemas das filosofias existenciais.
Visto que a filosofia constitui o objeto de um desejo, é necessário que haja ofertas dignas dela. Deixemos de lado o café filosófico que recorre ao modelo do estúdio de televisão com um animador raramente formado em filosofia. Sobre assuntos amplos, imprecisos ou formulados como uma questão de curso para a última série do ensino médio, freqüentemente aparecem improvisações pessoais sem método, sem argumentos, sem lógica, sem substância e, principalmente, sem conteúdo crítico. A máquina de café filosófico funciona vagamente lubrificada por um ou dois nomes de filósofos úteis para decorarem discursos públicos, que tomam a filosofia como refém mas que, em seu nome, fabricam muito mais uma oportunidade de sociabilidade do que um exercício filosófico comunitário.Pensar fora dos guetos
Deixemos também de lado a Universidade, que reproduz o sistema social, ensina uma historiografia fabricada sob medida por ela e para ela – platonismo, idealismo, cristianismo, escolástica, tomismo, cartesianismo, kantismo, espiritualismo, hegelianismo, fenomenologia e outras oportunidades para não tocar no mundo do jeito que ele vai….
Depois, reencontremos formas para praticar diferentemente a filosofia. Quando Bergson ensinava no Collège de France, as senhoras ali se espremiam, as pessoas se instalavam nas janelas, as saídas de emergência ficavam apinhadas de público, punham-se flores sobre a mesa à qual se sentava para fazer sua intervenção – a tal ponto que ele confessava não ser, afinal de contas, nenhuma bailarina… Ou Sartre que, em 1945, fez sua conferência sobre o existencialismo em uma sala perturbada pelos fãs: correria nos guichês de entrada, empurrões, cadeiras quebradas, pancadas e ferimentos, mulheres em síncope, desmaios, polícia… Dois momentos em que o público de não especialistas vinha em massa ouvir falar da relação entre liberdade e vontade, ou das relações entre essência e existência. Nos dois casos, o público não iniciado veio à filosofia sem a mediação das instituições habituais.Houve momentos em que o público de não especialistas vinha em massa ouvir falar da relação entre liberdade e vontade, ou das relações entre essência e existência
No espírito dessa vontade de pensar fora dos guetos, foi criada, em 2002, a fórmula da Universidade Popular de Caen, conservando o mais interessante da fórmula universitária: a transmissão de um conteúdo, o trabalho de pesquisa colocado à disposição do público, a seriedade das informações, a progressão no tempo. A mesma coisa com o café filosófico, interessante pela liberdade de entrar e de sair, de ir e vir sem nenhum controle, sem exigência de diplomas, sem nenhuma condição para vir – gratuidade integral, uma fórmula sem qualquer obrigação ou sanção. Na primeira hora, propõe-se um curso, com teses críticas e alternativas; na segunda, examinam-se, coletivamente, as propostas do primeiro período.Filosofia alternativa e radical
Nessa Universidade Popular8 , os conteúdos são alternativos: nela se ensinam as idéias feministas (Séverine Auffret) ou o pensamento político (Gérard Poulouin) na perspectiva de um pensamento crítico e no espírito da Escola de Frankfurt; nela se abordam também, numa lógica existencial, a psicanálise (Françoise Gorog), o cinema (Arno Gaillard), a epistemologia (Jean-Pierre Le Goff), o jazz (Nicolas Béniès), a arte contemporânea (Françoise Niay); e se pratica a filosofia para crianças (Gilles Geneviève) a partir da idade de sete anos, considerando-se que a filosofia não se resume a seu exercício escolar e calibrado – a dissertação e o comentário de texto canônico – mas que ela pode também consistir na conversa sobre o natural questionando – e portanto, filosófica - as crianças. Mais tarde, tendo trabalhado durante anos com eles, pode-se, de modo razoável, considerar os trabalhos práticos institucionais aos quais, com demasiada freqüência, se reduz a disciplina para a maior parte dos alunos. Porém, somente mais tarde. A equipe considera a fórmula de Antoine Vitez, falando sobre o Teatro Nacional Popular (TNP) – “O elitismo para todos” –, um imperativo categórico.
No que me diz respeito, proponho ali uma contra-história (filosófica) da filosofia, concentrando-me nos mecanismos da historiografia clássica: contra a tradição denunciada acima – a tirania dos idealismos platônicos, cristãos e alemães –, é proposta, ano após ano, uma leitura do arquipélago pré-cristão visto do lado antiplatônico, atomista, materialista, cínico, cirenaico, epicurista; uma desconstrução da fábula cristã e o exame das diversas dimensões, bem como de seu contexto, das resistências ao cristianismo – agnósticas, epicuristas renascentistas e humanistas; depois, a proposta de um outro Grande Século que reabilite o pensamento barroco dos libertinos, antes de continuar, nos anos seguintes, observando o princípio cronológico. O objetivo? Mostrar a existência, ocultada pela instituição, de uma filosofia alternativa, crítica, radical, hedonista, praticável, útil e existencial.Misérias limpas e misérias sujasA Universidade Popular, com base no princípio libertário do fundador Georges Deherme, se propõe a ser um “intelectual coletivo”
A Universidade Popular, com base no princípio libertário do fundador Georges Deherme, se propõe ser um “intelectual coletivo” para usar uma fórmula de Pierre Bourdieu. Em outros termos, trata-se, primeiro, de uma equipe constituída por indivíduos que têm, todos eles, suas particularidade, mas que estão sempre preocupados em confrontar suas teses, suas teorias, seus trabalhos, suas leituras com o grupo. Essa comunidade filosófica não visa a uma univocidade ideológica, mas a uma coerência: uma prática existencial, feliz e política da filosofia, um engajamento de esquerda que pressupõe que não se acumula o saber para fins pessoais mas, sim, que o saber seja partilhado, dado e distribuído aos que, normalmente, dele são privados – o popular da Universidade Popular.
Com freqüência, tenho sido criticado pelo uso de “popular” na fórmula Universidade Popular porque nossa época vendida ao liberalismo transforma em populista todo empreendimento popular e denuncia como demagogia a aspiração a uma real democracia direta. O filósofo mundano, parisiense, superexposto pela mídia, preocupa-se preferencialmente com as misérias limpas: Kosovo, Ruanda, Afeganistão, Argélia, o 11 de setembro. A miséria suja? O povo, as periferias, o operário, o proletário, o sem-teto, o sem-direito, o assalariado que recebe apenas o salário mínimo, o empregado com contrato temporário e, para dizer numa só palavra, o pobre: que importância podem ter? É a negligência deles que fabrica o segundo turno da eleição presidencial que conhecemos: da miséria suja nascem as políticas sujas. Não as impedir, ainda que modestamente, sobretudo modestamente, é contribuir para elas.Combate ao microfascismoEssa comunidade filosófica não visa a uma univocidade ideológica, mas a uma coerência: uma prática existencial, feliz e política da filosofia, de esquerda
O fascismo de farda, militar, de botas, desapareceu enquanto tal. O poder está em toda parte – ensinamento de Foucault – e o microfascismo substituiu, portanto, a fórmula totalitária maciça – ensinamento de Deleuze. Como combater esse microfascismo? Por meio de micro-resistências. Construir individualidades esclarecidas, fortes, serenas, poderosas, decididas, dotadas de uma vontade firme, bem consigo mesmas – que é a condição para se estar bem com os outros. Passar da vida mutilada à vida justa e boa através da vida transfigurada. Um projeto existencial e político.
O intelectual coletivo que é esta comunidade filosófica da Universidade Popular propõe, como anti-república de Platão (fechada, cercada, totalitária, hierarquizada, racial), um Jardim de Epicuro (aberto, livre, igualitário, amigável, cosmopolita) fora dos muros. Não mais confinado num espaço arquitetônico e sedentário, mas nômade, irradiando a partir de si. Essa micro-sociedade móvel pode produzir efeitos por capilaridade: após o desaparecimento do projeto revolucionário insurrecional e do único apoio deleuziano do “devenir revolucionário dos indivíduos”, restam-nos as revoluções moleculares – ensinamento de Guattari. Tarefa eminentemente apaixonante…"

Michel Onfray

Sunday, November 30, 2008

Wednesday, November 26, 2008

Momentos

Uma crónica de viagem seria um bom paliativo para o estado de nojo constante que é a minha mente. Mas não dá! O subsídio não o permite e, além do mais, não estou sindicalizado. É verdade que seria muito do meu agrado erguer bandeiras, vir para a rua e gritar contra o governo, mas na linha da frente, a falar para os telejornais. Uma espécie de Bettencourt Picanço pós-moderno que reivindicaria constantes aumentos salariais para uma classe tão desmoralizada como é toda aquela gente que serve o Estado, essa figura moderna e benemérita especialista em reproduzir prateleiras, ofícios e donas Odetes. Ainda para mais sabendo eu que a luta do senhor Picanço tem vindo a dar frutos. É que, ao contrário dos trabalhadores do Estado, muito colaborador privado (aqui há que estabelecer a diferença entre trabalhador e colaborador, porque dá sempre uma conotação mais sofrida aos primeiros, não sei se me estão a entender...) anda com um dos tomates arrepiados com a perspectiva de pouco vir a ser aumentado em termos reais, isto se, segundo alguns cenários, não vier mesmo a ser despedido.

Mas não. Do que eu precisava mesmo era de uma crónica de viagem, não armado em Heródoto, mas com o único propósito de entender as reais preocupações das pessoas espalhadas pelo mundo. Por exemplo, seria tentador perguntar a uma criança subnutrida de África sobre o que esta acha do Obama, do twitter ou, porque não, do maior especialista português nas matérias anteriores, o Paulo Querido, isto atribuindo alguma modéstia às suas análises, o que seria, de algum modo, injusto. Certamente que a criança seria pronta a mandar-me para o caralho. E ainda acabaria por dizer que Picanço é nome abichanado. Mesmo assim, do que eu precisava era de um Bettencourt ao meu lado, que desse provisão aos meus delírios e me permitisse fugir para um lugar onde não tivesse de gramar com Queridos, Oliveiras e todos aqueles que, percorrida a blogosfera, nos permitem ter uma visão mais abrangente e fracturante da sociedade. Porque o twitter, sim, é a verdadeira homenagem ao telos que são as reais preocupações do mundo.

Tuesday, November 25, 2008

Momentos

Ela inclinava o rabo, e eu, atento, debruça-me sobre o movimento. Eu gostava. Ela gostava. Apreciava, aliás, aquele hino atentatório à pudicidade. O defecho era sempre feliz. O lava-louça ou a cómoda reservados para o nosso riso. Só uma coisa mudava, o seu cabelo. Umas vezes lilás outras tenaz. É que, por vezes, eu puxava, estão a ver? E não sem que ela me permitisse. É que a devassa, neste caso, tinha critério, embora um tanto vago e marginal. Os nossos corpos não tinham intriga de novela. Eram, antes, expostos e postos um no outro. Tanto que, entre gritos e gemidos, o verbo foder surgia como sendo uma coisa natural. Mas um foder com carinho, com princípio, com ética. A ternura não andava, para nós, dissociada da foda que infligíamos aos nossos corpos. Pelo contrário. É que é quem mais amamos que fodemos, seja na cona, no caralho ou na vida, desde que com respeito e atenção.

Friday, November 21, 2008

O Prof...

A revista Visão desta semana apresenta na capa o meu prof de filosofia do secundário Aires Almeida.
Aires era a par do Café a dupla filosófica da Escola Teixeira Gomes. Há 15 anos eram conhecidos pela juventude que evidenciavam. Fosse pelo estilo, maneira de estar ou certos gostos artísticos que deixava escapar durante as aulas, Aires era diferente dos restantes pela forma como não debitava a matéria, comunicando com os alunos sempre para o fazer pensar e sempre de uma forma interessante.
Engraçado é como aquele que foi o Prof que marcou a minha educação naquele tempo, foi também o que mais dissabores me trouxe. Sim, porque eu era tido como aquele que copiava nos testes, que os emendava após os receber e que ia pedinchar alteração de nota.
Nunca hei-de esquecer a conversa tida com o meu querido progenitor antes da reunião escolar para discutir estas maravilhas que já faziam parte do meu cadastro escolar e onde me foi dito: "Abre o jogo porque se vier a saber que é tudo verdade, ESTRAÇALHO-TE!"
Não era. Mas muita coisa mudou. Começando pela palavra. Adorei e ainda hoje a uso:
Estraçalhar. Fazer ou fazer-se em pedaços.; partir ou partir-se em bocados; deixar ou ficar despedaçado; esfrangalhar; espatifar.
E acabando na bela arte de cabular, esta sim utilizada nos meus estudos universitários porque pedinchar por notas é que não!
Ainda hoje o encontro por aí. A ele e à sua companheira, minha colega com a qual simpatizo muito. Ainda não li a revista, mas não me parece que fale muito de filosofia e até consigo adivinhar a razão pela qual o Aires deu a cara: é que com a burocracia obligé do novo estatuto dos professores não resta praticamente tempo algum para um professor se dedicar ao estudo e ao ensino que é, afinal, o que se deveria exigir a um professor de filosofia.

Thursday, November 20, 2008

Qual o som de uma mão a bater palmas?

Nenhum.
Se não tivermos duas mãos, ninguém bate palmas.
Isto para dizer que todos precisamos de alguém: Yin & Yang, Romeu & Julieta, Fish & Chips, Tom & Jerry, Egas & Becas, Jorinhs & Pica, Boogie & Baccall e, neste caso, Neil & Rachel.
Os Slowdive foram o factor de união do casal, mas paragens sonoras, marcadamente mais bucólicas fazem nascer os Mojave 3 e este Love songs on the radio.
Registo duma simplicidade encantadora, beleza em estado puro.

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara"

Há mais de dez anos que li o meu único Saramago e a primeira reacção foi cinematográfica tal a adaptação brutal que seria a sua transposição para o cinema, finalmente realizada por Meirelles, este ano, provocando-me um turbilhão de sentimentos quanto à própria humanidade, frente a uma situação de caos, ou, ainda pior, na questão que coloquei, relativamente ao tipo de vivência que teríamos, se a visão não fizesse parte da nossa existência desde os primórdios?
A outra, como já devem ter notado, pela minha tentativa parva, com que escrevo este post, à la Saramago, é a forma da sua escrita, com poucos pontos, muitas vírgulas e discurso corrente que faz com que os acontecimentos passem pela mente do leitor com uma velocidade incrível, mas, isto são outras histórias, diferentes da súbita e inexplicável epidemia de cegueira que nos guia para a desorganização e a superação dos valores mais básicos da sociedade transformando-nos em animais egoístas na luta pela sobrevivência.
O filme, visualmente impressionante, fez-me querer reler o livro, recuperar a lucidez, resgatar o afecto, a anonimicidade que se requer para que isso aconteça, nas cidades, nas pessoas, em tudo, de forma a que seja realmente possível ver a sua essência.
"Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

Ensaio (musical) sobre a cegueira

Saturday, November 08, 2008

Visões do Sul

A única possibilidade deste blog em estar presente na 1ª Mostra Internacional de Cinema de Portimão aconteceu ontem. Agradável e interessante surpresa o filme de Jafar Panahi e o comentário e visão da convidada Joana Amaral Dias.
Combinando ficção e documentário ao filmar a qualificação do Irão para o Mundial de 2006 praticamente em tempo real, temos um olhar de bastidores, já que o jogo em si nunca é mostrado para o espectador e sim as paixões e emoções que o futebol desponta em todas nós e, neste caso em particular, nas mulheres Iranianas, proibidas de assistir ao vivo um jogo de futebol.
Foi com o entusiasmo com que vejo um jogo de futebol que me senti neste filme e só me apetecia no final do pontapé feminista da Joana Amaral Dias contra o sistema Iraniano levantar-me de braços abertos e gritar: Porquéééé´ que dizesissu?

Thursday, November 06, 2008

Wednesday, November 05, 2008

Tuesday, November 04, 2008

Wednesday, October 29, 2008

Tocqueville e a revolução

Os últimos dias levaram-me a leituras distintas. Uma delas, mais lúdica, é uma compilação de entrevistas ao Luiz Pacheco. A outra, mais sociológica, é a análise que Alexis Tocqueville faz da revolução francesa.

Na primeira, dado o carácter do autor da Comunidade, fiquei com a sensação que pertenço a uma geração agarrada às circunstâncias.

Na segunda, dada a dimensão clássica das análises do autor francês, fiquei com a sensação que pertenço a uma geração com pouca profundidade na perspectiva.

Thursday, October 23, 2008

Wednesday, October 22, 2008

Estate

Estate
Sei calda come i baci che ho perduto
Sei piena di un amore che è passato
Che il cuore mio vorrebbe cancellare
Estate
Il sole che ogni giorno ci scaldava
Che splendidi tramonti dipingeva
Adesso brucia solo con furore
Tornerà un altro inverno
Cadranno mille pètali di rose
La neve coprirà tutte le cose
E forse un po' di pace tornerà
Estate
Che ha dato il suo profumo ad ogni fiore
L' estate che ha creato il nostro amore
Per farmi poi morire di dolore
Estate

Drummond

"Eterno é tudo aquilo que dura uma fracção de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica"

Língua

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosádia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira!
Fala!

Monday, October 20, 2008

Orelha negra de curiosidade...

Revisto o filme da peça de John Guare.
Existe uma conexão entre as pessoas? Que vidas estarão ligadas a ti? Dizem que, neste planeta, as pessoas estão conectadas umas às outras por cadeias de seis pessoas, o que significa que ninguém permanece no anonimato…

Saturday, October 18, 2008

Friday night lights


A razão para conhecer o filme (que não vale) e dar uma hipótese à série (que se entranha) foi sentir, logo da primeira vez que ouvi, a energia e versatilidade que a banda-sonora imprimia às imagens largadas por uma câmara desinteressada, a documentar. Assombrosa a forma como estes instrumentais colocam-me em sentido a tentar entender um desporto que nem sequer aprecio. Your hand in mine...

Friday, October 17, 2008

Beat on the brat
Beat on the brat
Beat on the brat with a baseball bat

Oh yeah, oh yeah, uh- oh
What can you do?
What can you do?

With a brat like this always on your back

What can you do?

(lose? )

Thursday, October 16, 2008

Tempus fugit

"Que era é esta em que nós vivemos? Quais são as nossas reais opções? Como devemos pesar essas opções?
Escolhemos caminhos, cheiros, sítios que podem ser opções, probabilidades de uma vida em linha continua. Mas neste tempo fantástico, de criatividade sem limites e sem fronteiras, saberemos, nós, estar no sitio certo e no momento certo para olhar e contemplar? Sim, porque no tempo que vivemos, esta precisa coordenação é tudo o que precisamos para receber. Muita coisa mudou e há muita mais por mudar.
Mas por favor, estes livros, discos, cinema, pintura, dança ou arquitectura, estas pessoas que me rodeiam, estas cidades, estes países de oriente a ocidente, estes novos caminhos, digitais ou não, que se abriram, são particularmente fantásticos e devem ser admirados na mesma proporção das dificuldades que ultrapassamos para a eles chegarmos. A dificuldade é mesmo seleccionar e ter tempo para alcançar, porque a única grande limitação da nossa era começa a ser mesmo o tempo.
Pode estar quase tudo mal mas se chegamos a este ponto algo de correcto já foi feito.
O tempo oferece."

Monday, October 13, 2008

E o Estado mínimo?

Os liberais sempre foram avessos à intervenção do Estado na economia: iniciativa privada, regresso às funções do Estado definidas por Hobbes, etc., etc., etc. Em suma, o famoso Estado mínimo em contraponto com o Estado social que, em rigor, nunca existiu em Portugal (eu, pela minha parte, defenderia um Estado nulo, num feliz registo anárquico). Mas agora esses mesmos liberais, como é o caso do vice-presidente do PSD, aplaudem a medida do ministro Teixeira dos Santos, que acaba de anunciar 20 mil milhões de euros em garantias às operações de financiamento das instituições financeiras.

O ministro das finanças diz: «Se, por acaso, houver um incumprimento [por parte de algum banco que tenha contraído crédito de outra instituição], o Estado chama a si essa responsabilidade». (citação retirada do Sol). Ou seja, durante os últimos anos, para manter o funcionamento de uma economia baseada na irresponsável e laxista cultura de endividamento dos portugueses, os bancos tiveram de recorrer sistematicamente a financiamentos da banca internacional e, agora, como se não bastasse, os portugueses contraem, no fundo, outro crédito, que é o do Estado estar a impedir com os seus impostos a derrocada do sistema financeiro. Talvez o mereçam. Mas não é isso que está em causa. É, isso sim, a coerência da direita que, em boa verdade, nunca existiu.

A falta de coerência traduz-se, claro está, em oportunismo. E as seguintes palavras de Tony Iltis só vêm reforçar essa convicção:

"However, the failure of this expensive government intervention to halt the global collapse of sharemarkets — and remove the spectre of a massive downturn in production, fuelling unemployment and poverty — reflects that the old orthodoxy has not, in fact, been overturned. The thrust of the “emergency” economic interventions has been to pump money into the finance industry in the hope that this will encourage the banks to restart the flow of credit to productive industry. The “hidden hand of the market” still reigns".

Thursday, October 09, 2008

Dr.

Tirando a noite em que o gozo foi à minha pala, devido aos meus excessos no 13 e perguntas sobre "família", pouco mais sabia do meu colega Dr. que as conversas de circunstância nessa noite e noutro jantar, mais as duas ou três diligências que efectuamos em Portimão.
Soube agora que após dois anos nesta terra, Setúbal foi o teu destino e Almada o da música, como frontman dos Dr. Estranho Amor.
Considerações à parte em termos musicais, aqui fica a minha pequena homenagem ao Proc. Luís - O porreiro.
Parabéns pela banda, pelo sucesso e pelo quarto que vem a caminho. Abraço e aparece!

Monday, October 06, 2008

Olé! Olé! Olé!

A propósito... era uma vez um Português na cena do apedrejamento quando lhe dizem... quem nunca falhou que atire! O Tuga manda logo uma certeira na cabeça e responde: a esta distância nunca falho!

Saturday, October 04, 2008

Thursday, October 02, 2008

Sunday, September 28, 2008

Saturday, September 20, 2008

França - Alemanha

1982
Música: Arca´

Friday, September 19, 2008

Monday, September 15, 2008

Porque sim

Nem de pantufas evitava uma boa récita de oximoros. Quando ficava calado, perguntavam-lhe: "O que se passa"? E, ele, prontamente respondia: "É esta tristeza feliz que não me larga". Envolto pela penumbra, pegou na arma e chorou. Ao sinal do disparo não evitou contudo um sorriso. Só ele percebeu o oximoro que é a ligação entre a vida e a morte e, talvez por isso, só tenha tido direito à exéquia de uma flor. Da mulher que o amou e nunca o quis.

Sunday, August 31, 2008

Jealous Enemies - Dark Captain Light Captain

Provas empírcas

Descobri esta banda britânica, por um acaso que já não me recordo, e decidi partilhar. A sonoridade é aberta, fresca, algo melancólica, é certo, e dá vontade de ouvir. São os Dark Captain Light Captain e não me foram, certamente, impostos pela Radar, aquela que ao lado da Antena 2 é uma menina virgem em termos de pedantismo. Também não sei se consta na playslist da dita, o que, pelos meus cálculos, e segundo palavras do gajo que escreveu o post anterior a este, faria com que a minha quota musical proveniente daquele ninho de pseudo-intelectuais aumentasse para os 40 por cento. Ou seja, fica aqui mais do que provado que esse grande projecto do dono da Música no Coração é totalmente incompatível com as paredes da minha casa.

Friday, August 29, 2008

32 anos e 4 meses, uma conclusão

O homem é, genuinamente, um ser estúpido.

Wednesday, August 27, 2008

Tuesday, August 26, 2008

Momento "Xis"

You're probably right, seen from your side, that I've been lucky.
But I've been meaning to crack all week.
Yes I've been involved, it never resolved into anything shocking.
Pain's playing yoyo in my body as we speak.

And now I found something to look for, but I can't decide,
'cause I might find that to stroll behind is better than to score.
Just like I did before.
(Tom Barman/dEUS)
(Todos temos direito aos nossos momentos "Laurinda Alves". Invoco esse direito para escrever "ando a sentir-me assim". A modos que a precisar de uma Instant Street)

Thursday, August 21, 2008

Raiva contra as máquinas

Fazemos o que nos dizem para fazer. Ouvimos o lema, abanamos a cabeça, ritmada, numa espécie de compasso militar. Sentimos a raiva, sentimos a fúria e sonhamos. Achamos que sim, que isto tem de acabar. De facto, fazemos o que nos dizem para fazer. Eles gritam isso, eles abrem-nos os olhos para isso e nós concordamos que é isso que acontece. E que não pode acontecer mais.

Crescemos com essa ânsia de revolução entalada cá dentro. Fode-te, não farei o que me dizes. Repetem e repetem. Em crescendo. Fode-te, não farei o que me dizes. Percebemos o apelo. Revoltem-se, mandem-nos foder, não façam o que eles dizem. Eles gritam e nós gritamos. O compasso militar anarquiza-se e nós vamos atrás dele. Revolução, revolução, não faremos o que nos dizem, puta que vos pariu.

Depois calam-se. Acaba. Os palhaços e o circo. Eles metem a guitarra no saco e vão embora. Nós também. Sem quitarra, ao longo da vida, vamos metendo no saco aquilo que está mais à mão. A revolta, os gritos, a crença, o sonho instantâneo que nos serviram. Tudo. Custa, mas acabamos por perceber que a revolução não é coisa de ir ao micro-ondas.

Aceito que crescer também seja um pouco isso. Mas às vezes sinto que preferia mesmo ter 17 anos. Come on! Solo de guitarra. Fode-te, não farei o que me dizes. Convenhamos, tinha muito mais piada.

Monday, August 18, 2008

Frases míticas


"Scolari exultava e até o bigode de Murtosa parecia mais resplandecente do que nunca".




Alexandre Albuquerque, jornalista da RTP, a propósito da goleada do Chelsea sobre o Portsmouth.

Saturday, August 16, 2008

Um reparo

No meu último post, como referência, surgiram apenas os pós-modernos com óculos de massa que, para citar Bourdieu, têm como habitus a reprodução de um gosto, de um estilo, de uma tendência ou qualquer coisinha mais que eles queiram. Com isto o sociólogo francês quis provar que a estética, desmistificando a teoria de kant, não tem nada a ver com o génio individual de um artista em particular, mas com uma construção social que cria um determinado estatuto a quem dela se apropria. Mas, para o caso, e como estamos a falar da Radar, até é um desperdício estar a evocar um dos nomes cimeiros da intelectualidade francesa do último século, pois o que eu queria mesmo referir, e peço desculpa aos pós-modernos com óculos de massa, é que a tal lista também contempla jovenzinhas depressivas, sensíveis e, que na sua deriva neurótica, cortam superficialmente os pulsos para chamarem a atenção de meio mundo. Basta pegar no caso de Damien Rice e percebemos que essas jovenzinhas também estão na rota dessa grande rádio que, em Portugal, dita todas as grandes tendências. Posto isto, voltarei a uma análise da Radar em ocasião oportuna.

Radar uma merda de rádio

ANTÓNIO VARIAÇÕESA NAIFAART BRUTANABELA DUARTEACID HOUSE KINGSANTONY & THE JOHNSONSTHE ARCHIE BRONSON OUTFITAIR TRAFFICTHE AVALANCHESA CERTAIN RATIOAT THE DRIVE-INADULT.AUDIOSLAVETHE ARCADE FIREALICE IN CHAINSALBERT HAMMOND JR.THE AFGHAN WHIGSAQUALUNGAMBULANCE LTDAMY WINEHOUSEA HAWK AND A HACKSAWANIMAL COLLECTIVEANDREW BIRDAIMEE MANNARCTIC MONKEYSARAB STRAPARTHUR RUSSELLASHARCHITECTURE IN HELSINKITHE ANGELS OF LIGHTA PERFECT CIRCLEANNIEAIRAPHEX TWINAND YOU WILL KNOW US BY THE TRAIL OF DEADBEN FOLDSBRAZILIAN GIRLSBRYAN FERRYBAND OF HORSESBRIAN ENOBAUHAUSBLACK DICEBJORKBRIGHT EYESBRIAN WILSONBALLABADLY DRAWN BOYBARRY ADAMSONTHE BEESBRAKESBABY DEEBRITISH SEA POWERBATTLEBOBBY CONNBEIRUTBELL ORCHESTREBENJAMIN BIOLAYTHE BLACK KEYSTHE BLOOD ARMBE YOUR OWN PETTHE BLOWBONNIE "PRINCE" BILLYBEN LEEBEN KWELLERBROKEN SOCIAL SCENEBLOC PARTYTHE BEATLESBAT FOR LASHESBATTLESBLONDE REDHEADBLOOD RED SHOESBLACK KIDSBLONDIETHE BOOKHOUSE BOYSBRETT DENNENBOB DYLANBEASTIE BOYSBURAKA SOM SISTEMABLACK REBEL MOTORCYCLE CLUBBOY KILL BOYTHE BRAVERYBLURTHE BIRD AND THE BEEBECKBEN HARPERBYPASSBUNNYRANCHBETH ORTONBELLE & SEBASTIANBUILT TO SPILLBRUCE SPRINGSTEENBROADCASTTHE B-52'STHE BRIAN JONESTOWN MASSACREBRADBLIND ZEROBLACKALICIOUSBABYSHAMBLESCAMERA OBSCURACLINICCHARLOTTE GAINSBOURGCOOL HIPNOISETHE CHARLATANSCANSEI DE SER SEXYTHE CURECOLD WAR KIDSCORTNEY TIDWELLTHE CORALCLAP YOUR HANDS SAY YEAHCHIN UP CHIN UPCAVEIRACASSIUSTHE CARDIGANSCLÃCARLA BRUNITHE CLIENTELECHROMATICSTHE CRAMPSCODY CHESTNUTTCOLDPLAYTHE CLOUD ROOMCHEMICAL BROTHERSCHRIS GARNEAUTHE CLASHCOCTEAU TWINSTHE CONCRETESCAKECUT COPYCHRIS CORNELLCAT POWERCHICKS ON SPEEDCHROMEOCALVIN HARRISCORNELIUSCOCONUT RECORDSCOCO ROSIECEXCARIBOUCALEXICOCORNELIUSCIBELLEDATAROCKDANIEL JOHNSTONdEUSDEPECHE MODEDESTROYERDEVENDRA BANHARTDIGITALISMTHE DUB PISTOLSTHE DEAD 60'STHE DUKE SPIRITDENGUE FEVERDIVISION DAYDJ SHADOWTHE DATSUNSTHE DUB PISTOLSDIRTY PRETTY THINGSDEVASTATIONSDEERHOOFDEFTONESDAVID FONSECADAMIEN RICETHE DEARSDA WEASELDEATH CAB FOR CUTIEDAVID BYRNEDEAD COMBODAVID PAJODURAN DURANDINOSAUR JR.DAFT PUNKDELIA GONZALEZ & GAVIN RUSSOMDAVID SYLVIANDIRECTORTHE DANDY WARHOLSDIGITALISMDEVOTCHKATHE DECEMBERISTSDAVID BOWIEDOVESDIZZEE RASCALTHE DIVINE COMEDYELVIS COSTELLOEINSTÜRZENDE NEUBAUTENEDANELLEN ALLIENELECTRELANEEXPLOSIONS IN THE SKYELLIOTT SMITHEDWYN COLLINSELBOWESGEVERYTHING BUT THE GIRLEELSEDITORSED HARCOURTEL PERRO DEL MAREASY ALL STARSECHO & THE BUNNYMENEDITH FROSTEMILY HAINES & THE SOFT SKELETONFEROMONAFRANK BLACKFARIS NOURALAHFRENCH KICKSFIONA APPLETHE FALLFEISTFANTOMASFUJIYA & MIYAGITHE FUTUREHEADSFIONN REGANFOUR TETFINAL FANTASYTHE FRATELLISFOO FIGHTERSFRANZ FERDINANDFINKTHE FIERY FURNACESFRIENDLY FIRESTHE FLAMING LIPSFISCHERSPOONERTHE GO! 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Esta é uma lista da Radar, onde certamente o bom gosto prevalece, urbana, disruptiva e feita à medida de gajos com óculos de massa pós-modernos. Nesta triagem do bom gosto é sintomática a presença dos Xutos & Pontapés, dos The Vicious Five, para que conste uma bela merda de banda, da Tori Amos, dos Underworld, dos Muse, do Sam The Kid, uma excrescência musical aplaudida desde o gueto até aos meninos ipod, dos Scissor Sisters, dos Red Hot Chili Peppers, outra grande merda de banda, Mercury Rev, um autêntico vómito sonoro. Mas para que a coisa fique com uns laivos mais pseudo, nada como incluir o francês Sylvain Chauveau sem qualquer referência que seja a Arca, a banda da qual o homem é mentor e, por sinal, 200 vezes mais interessante do que muitas das que constam aqui. O mais fatal é incluir Philip Glass nesta lista. Já agora a questão: se está Glass, por que não Reich ou Adams? Serão menos minimalistas que o Glass ou menos stupid trendy?