Tuesday, October 24, 2006

Assim vai o jornalismo desportivo que temos...

O mesmo assunto, tratado por três jornais. Um diário generalista, um diário de economia e um diário desportivo. Notem as diferenças.

Público, pág 29:
Título:Benfica SAD com passivo de 151 milhões
Início do texto: “A Benfica SAD terminou o exercício de 2005/2006 com um passivo de cerca 151 milhões de euros, mais 26,1 milhões do que a temporada transacta (um crescimento de cerca de 20 por cento).”

Site do Jornal de Negócios:
Título: Passivo agrava-se para os 151,86 milhões de euros; Prejuízos da Benfica SAD melhoram 79,1%
Início do texto: “Benfica SAD anunciou hoje que os que seus prejuízos do exercício 2005/2006 apresentaram uma melhoria de 79,1% face ao mesmo período do ano passado. O passivo da SAD encarnada agravou-se em 20,8% para os 151,86 milhões de euros.”

A BOLA, pág 15:
Título: “SAD reduz prejuízo sem vender estrelas”
Início do texto: “O Relatório e Contas da Sociedade Desportiva, do clube e as contas consolidadas, isto é os números de todo o universo benfiquista (clube, SAD, Benfica Estádio, Benfica SGPS, Benfica Multimédia e Benfica Comercial) foram ontem divulgados. Os resultados, aprovados por unanimidade, demonstraram uma redução do prejuízo da SAD na temporada 2005/2006, mesmo sem a venda de Simão. O passivo global do Benfica mantém-se na ordem dos 315 milhões de euros”.

Abstendo-me de comentar a disparidade dos títulos, chamo apenas a atenção para o facto de a entrada do texto d’A BOLA não discriminar o passivo da SAD (que aumentou para os tais 151 milhões), optando antes por englobá-lo (ou disfarçá-lo) no somatório de passivos de todo o universo empresarial do Benfica. O que não deixa de ser estranho, atendendo ao título escolhido para a peça.

Referência ao crescimento do passivo? Só de raspão, no último parágrafo da notícia. Mas até chegar a essa breve nota de rodapé informativo, existe todo um texto que deveria fazer corar de vergonha qualquer benfiquista isento. Lê-se, por exemplo, que “a venda do passe de um jogador como Simão, que esteve quase a sair para o Valência por verbas a rondar os 20 milhões de euros, possibilitaria, por si só, um resultado positivo” no exercício contabilístico da SAD. Pergunto: mesmo que isso fosse verdade (é?) o que é que o assunto tem a ver com dados factuais constantes num relatório e contas?

Depois, cita-se o vice-presidente do clube, Rui Cunha, para corroborar a tese: «Na cedência de direitos desportivos apenas realizámos um valor de pouco mais de sete milhões de euros, mas se aceitássemos as propostas que recebemos por um conjunto de jogadores que temos poderíamos aumentar significativamente esse montante.» Seria descabido perguntar ao senhor dirigente porque é que não venderam? Não teria interesse saber se foi por opção ou por incapacidade negocial? E porque raio não fez o jornalista esta pergunta? E porque é que ele também não perguntou se não é estranho que o passivo do clube tenha aumentado num ano em que a equipa fez a melhor carreira na Liga dos Campeões nos últimos 15 anos? Não convém? Raios partam a merda do compadrio!!!

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