No prefácio à Edição Francesa do "Elogio da Intolerância", agora traduzido para português, obrigado Costa, Slavoj Zizek estabelece uma original relação entre as disposições de um povo e a forma como este lida com a sua actividade excrementícia, a saber, a merda que sai do ânus de cada indivíduo. Assim, enquanto que a configuração da sanita alemã apela para uma atitude de ambiguidade contemplativa que pode estar relacionada com a propensão que os Alemães têm para a metafísica, a configuração da sanita francesa apela para uma atitude de fazer desaparecer o mais rapidamente da vista tais excrementos desagradáveis, o que pode estar relacionado com a célebre propensão dos Franceses para o radicalismo revolucionário. Já os ingleses deixam que a merda fique a flutuar de forma bem visível sem que por isso deva ser contemplada ou observada, o que indica a típica atitude utilitarista anglo-saxónica no que se refere à economia. Zizek aborda este triângulo, pois, ao fim ao cabo, é aqui que assentam os pilares da civilização ocidental, fazendo com que um povo como o português seja, por razões óbvias, obnubilado.
Porém, das minhas pequenas e pouco profundas reflexões acerca da especificidade antropológica do povo português, saliento que, ao observarmos as sanitas das casas de banho públicas, podemos inferir dos portugueses uma clara propensão para a nostalgia, isto quando permanentemente confrontados com os já célebres resquícios de cócó que ficam colados no fundo da sanita. Pode chegar-se mesmo a considerar que esta específica relação com a excrescência, indica-nos um claro espectáculo de potlach público relativamente à merda, como se cada indivíduo que sai da casa de banho quisesse transmitir ao outro que vem a seguir a merda na qual todo o português está, de forma nostálgica, no presente e no passado, constantemente atolado.
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