Thursday, January 29, 2009

Merda!

Vila-Matas criou uma personagem que surripiava a intimidade e as conversas dos outros, num autocarro específico de Barcelona. Era essa a minha esperança para Ermenudeu Lá Lá, mas num registo diferente, mais trágico. Ermenudeu esperava que, em cada paragem, entrasse uma gaja boa, ainda mais porque nenhum dos veículos que frequentava tinha por destino a Amadora. Mas, para seu azar, aquilo era uma pilha frenética de velhos a entrar, todos muito reumáticos, curvados e apoiados em bengalas.

Um deles, chegou a atirar o seu último dente, um molar, à fronha do condutor. Outro, muito nervoso, chorava de comoção ao avistar o Santa Maria. «Estou salvo». E, com isto, Ermenudeu conveceu-se que o mundo não é perfeito e passou a andar de metro. Sem resultado, pois os cegos substituíram os velhos, e as garrafas de água do Luso a chocalhar moedas o odor fétido de Xano, o agarrado, sempre prostrado no banco de trás.

O mundo é um lugar estranho, sempre cheio de obstáculos à ordem de homens sensíveis como Ermenudeu. Estranho, quando não ausente, porque a maior dor de Ermenudeu era que a sua vida fosse sempre feita de expectativas, não as suas; mais grave, a dos outros. Sempre os outros, porque mesmo os Xanos, ainda que por minutos, acabam por ter algum pendor na impostura que é esta presuntiva tentativa de vida, aliás de fôlego, sem que a asma (me, te, vos) condene. (aqui, uso a asma como expressão figurada da morte em vida)

Agora eu já sei...

Da onda que se ergueu no mar...

Sunday, January 25, 2009

I heard she...

Imaginem que era sempre a mesma pessoa.
As situações mudavam, nos contextos. Os nomes alteravam-se. Sucediam-se. As pessoas, os nomes e os contextos. As personalidades, formas e feições também. Mudavam. Mas imaginem que era sempre a mesma pessoa. Uma espécie de transcendência destinada. A mesma pessoa.
E por isso a história repetia-se. Porque era sempre ela.
É disto que me lembro quando ouço o “Heartbreaker” dos Metronomy.
Idiotices.
[http://www.youtube.com/watch?v=MsduHmjQlgI]

Friday, January 23, 2009

Ermenudeu Lá Lá...

a minha póxima personagem.

Monday, January 19, 2009

Benoit Pioulard,

Cancro

João Aguardela
(1969-2009)

Thursday, January 15, 2009

O mito do escarafaboncho

Na penumbra do além,
sirvo três profiteroles
Sozinho, não vejo quem
Mos coma antes de ficarem moles
(Ditado peruano, cantado pelos guerrilheiros do Sendero Luminoso, antes de atacarem as carrinhas de transporte de pão)

Tuesday, January 13, 2009

Friday, January 09, 2009

Monday, January 05, 2009

Punk Rock (ou outras coisas)

"When I'm in the grips of it I don't feel pleasure and I don't feel pain, either physically or emotionally. Do you understand what I'm talking about? Have you ever felt like that? When you just couldn't feel anything and you didn't want to either. You know? Like that? Do you understand what I'm saying sir?"

Entrevista de Iggy Pop "musicada" pelos Mogway

Sunday, January 04, 2009

Ontem...

senti muito, muito, muito, e de tanto sentir, acabei por descobrir que também...sinto. sinto tanto, tanto, tanto, que sou diferente, humanamente diferente, intransigentemente diferente; sim, porque o mundo é uma merda, e só eu sinto, eu e os que estão comigo aliás. Sentimos as imagens, os sons; epicuro. os arrebatamentos artísticos são nossos e de mais ninguém. Os outros não entendem, de tão embrenhados que estão no Capital. Nós sentimos, eu sinto, mas vocês não sentem. Nós sentimos a arte com o estômago, com fome ninguém sente, mas com beringelas macrobióticas sentimos, e sentimos muito, não pensem. Tudo começou quando li, lemos, aliás - ai este meu devaneio e-gótico - o Capital de Marx...aos quadradinhos - existe, existe, sim senhor, porque não pensem que o povo iria ficar imprudentemente inculto, sem nada para ler, sem façanhas com que sonhar, sem facetas para explorar. continuemos, porque a malta esquerdalha não é incauta.
Cada quadrado, um capítulo, e cada página um tomo. Feitas as correspondências, é somar os tomos e temos o número de páginas do Capital dado ao povo, mais vernáculo, mas nem por isso menos erudito. Sinto, os meus amigos sentem, sentimos, com os olhos, c'os dedos, c'a boca, e c'o nariz, mesmo quando algo constipados e com a gripe. nem a sinusite nos tolda e maltrata os sentidos. Feita a crítica da faculdade do juízo, o génio artístico apodera-se-me, nos, e não vos. Achei que, aqui, ficava bem uma referência a Kant, porque eu sinto. eu sinto, prontos, portantes, a modos que...eu sinto, sentimos, e é bom descobrir que, no fundo, há um sentir profundo em cada um de nós, um sentir que mais ninguém sente; eu sinto, nós sentimos, eu sentirei, nós sentiremos, e por aí adiante...sentir

I'm a victim of this song

Saturday, January 03, 2009

Cool hand Luke

What we've got here is... failure to communicate.
Some men you just can't reach. So you get what we had here last week, which is the way he wants it...
well, he gets it.

Friday, January 02, 2009

Islaja

A finlandesa Islaja, sobejamente conhecida pela estranheza que dá o tom à sua música circunspecta, é uma das mais fortes influências dos portugueses Guru do Noise, que se preparam para compor uma faixa em sua homenagem: Zaidi.

Zaidi é uma das musas do poeta finlandês Filünas Halamek, e figura central da obra poética Hakea Turvapaikkaa Minulle Säteiden Sateenkaaren, cujo primeiro poema é precisamente dedicado à deusa do gelo (jumalatar jäätä).

Aqui fica

Zaidi, minua puistattaa
kuin ukkonen myrskyn
heikentää elinten eturintamassa
aikaa

Zaidi, Haluan tehdä asiat kaunis
tuntea vapina, että luut
hehkulangan hehkulangan
Sulje silmäsi ja huutaa kovaan ääneen, onnellisuus

Lau Nau: Painovoimaa, valoa

hauschka

Bom ano.