Recebi este mail do Eduardo Esperança que foi meu professor na Universidade e que até hoje ainda me atura. Como gostei do mail e estimo muito quem mo enviou, atrevo-me a partilhá-lo. Aqui vai:
A Mulher Portuguesa
Passou ontem na RTP1 às 22.30, Maria Belo, psicóloga e psicanalista, grã-mestre da loja feminina do grande oriente lusitano em entrevista conduzida por Rui Ramos. Gostei de ver e ouvir.
Ver, porque há muito não a via, desde os idos inícios de 80, em que foi minha professora na Universidade Nova.
Gostei de ouvir e perceber alguém que conhece a cultura portuguesa por dentro, isto é, da experiência e vivência das pessoas que ela observa na rua e com quem fala no consultório. Alguém que se pode dar ao luxo de dissertar acerca da cultura, ao lado e por cima dos literatos, dos historiadores, dos importadores, com mão na genuinidade do que sobrevive no quotidiano e imaginário português.
Gostei de a ouvir falar da mulher portuguesa, do matriarcado nacional «por mais que isto custe às feministas» (sic) ; do peso que a família tem na vida portuguesa e, em particular, a mãe; da infantilidade a que os homens portugueses são reduzidos pelo modelo afectivo materno nacional. D'a mulher portuguesa que nunca chega a ser mulher porque passa directamente de "filha" a "mãe" (dos filhos e do marido).
Gostei de a ouvir falar do modo nacional de estar em "grupinho", e da gestão das fidelidades nos partidos, no trabalho (padrão de acção maternal dos portugueses) que entorpece as instituições e todos os tecidos de poder.
D'a mãe que tradicionalmente proíbe tudo e protege de tudo... e que vai buscar o filho à escola da "voz do operário", ele trás o bibe sujo e ela passa-lhe um tremendo raspanete - "ora, para que é que serve um bibe?!"
O modelo "banana" em que o homem português é encarcerado assim que entra em casa; da cultura portuguesa essencialmente popular e arcaica porque muito antiga, que digere mal todos os estrangeirismos; da fragilidade das elites, precisamente por isto; das espertezas de Salazar no modo de mobilizar as mulheres - o movimento nacional feminino durante a guerra colonial, em que madame Supico Pinto Y sus muchachas aparecem triunfais e resplandecentes a dirigirem-se às tropas e a voar de helicóptero sobre a mata e, do outro lado.... o soldadito, "adeus mãezinha, até ao meu regresso"!
D'a mãe minhota, que controla tudo em absoluto. D'a inépcia dos portugueses e portuguesas para gerirem o dinheiro - porque nunca o tiveram antes, e ninguém os ensinou. D'a mais recente geração que encontramos agora no Liceu e na Universidade, alheada de tudo, porque não recebeu nada, não quer receber, não sabe receber - quase impossível de ensinar - uma geração ao mesmo tempo hiper-protegida , mas esvaziada de toda a herança cultural e familiar.
Maria Belo está justamente preocupada com as jovens de hoje, que não sabem como vão desinvencilhar-se - como as mães, não sabem o que é ser mulher, mas o pior é que nem sequer aprenderam das mães a ser mães.
Gostei de a ouvir falar dos países mais desenvolvidos do norte da Europa, descendentes de civilizações ainda recentemente bárbaras, mais longe do Mediterrâneo, com culturas mais impostas e de repressão externa (do Estado), e que estão agora a deslocar-se para o "feminino"; Portugal, que sempre viveu no feminino, deveria estar agora a deslocar-se no sentido contrário...
Gostei de ouvir.
Ver, porque há muito não a via, desde os idos inícios de 80, em que foi minha professora na Universidade Nova.
Gostei de ouvir e perceber alguém que conhece a cultura portuguesa por dentro, isto é, da experiência e vivência das pessoas que ela observa na rua e com quem fala no consultório. Alguém que se pode dar ao luxo de dissertar acerca da cultura, ao lado e por cima dos literatos, dos historiadores, dos importadores, com mão na genuinidade do que sobrevive no quotidiano e imaginário português.
Gostei de a ouvir falar da mulher portuguesa, do matriarcado nacional «por mais que isto custe às feministas» (sic) ; do peso que a família tem na vida portuguesa e, em particular, a mãe; da infantilidade a que os homens portugueses são reduzidos pelo modelo afectivo materno nacional. D'a mulher portuguesa que nunca chega a ser mulher porque passa directamente de "filha" a "mãe" (dos filhos e do marido).
Gostei de a ouvir falar do modo nacional de estar em "grupinho", e da gestão das fidelidades nos partidos, no trabalho (padrão de acção maternal dos portugueses) que entorpece as instituições e todos os tecidos de poder.
D'a mãe que tradicionalmente proíbe tudo e protege de tudo... e que vai buscar o filho à escola da "voz do operário", ele trás o bibe sujo e ela passa-lhe um tremendo raspanete - "ora, para que é que serve um bibe?!"
O modelo "banana" em que o homem português é encarcerado assim que entra em casa; da cultura portuguesa essencialmente popular e arcaica porque muito antiga, que digere mal todos os estrangeirismos; da fragilidade das elites, precisamente por isto; das espertezas de Salazar no modo de mobilizar as mulheres - o movimento nacional feminino durante a guerra colonial, em que madame Supico Pinto Y sus muchachas aparecem triunfais e resplandecentes a dirigirem-se às tropas e a voar de helicóptero sobre a mata e, do outro lado.... o soldadito, "adeus mãezinha, até ao meu regresso"!
D'a mãe minhota, que controla tudo em absoluto. D'a inépcia dos portugueses e portuguesas para gerirem o dinheiro - porque nunca o tiveram antes, e ninguém os ensinou. D'a mais recente geração que encontramos agora no Liceu e na Universidade, alheada de tudo, porque não recebeu nada, não quer receber, não sabe receber - quase impossível de ensinar - uma geração ao mesmo tempo hiper-protegida , mas esvaziada de toda a herança cultural e familiar.
Maria Belo está justamente preocupada com as jovens de hoje, que não sabem como vão desinvencilhar-se - como as mães, não sabem o que é ser mulher, mas o pior é que nem sequer aprenderam das mães a ser mães.
Gostei de a ouvir falar dos países mais desenvolvidos do norte da Europa, descendentes de civilizações ainda recentemente bárbaras, mais longe do Mediterrâneo, com culturas mais impostas e de repressão externa (do Estado), e que estão agora a deslocar-se para o "feminino"; Portugal, que sempre viveu no feminino, deveria estar agora a deslocar-se no sentido contrário...
Gostei de ouvir.
E. Esperança
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