Tuesday, December 23, 2008

Oremos

Capital nosso que estais neste mundo,
Deus todo-poderoso, que altera o curso dos rios e fura as montanhas, que separa os continentes e une as nações, criador das mercadorias e fonte de vida, que comanda os reis e os súditos, os patrões e os assalariados, que vosso reino se estabeleça sobre toda a terra;
Dai-nos muitos compradores que adquiram nossas mercadorias, tanto as más como as boas;
Dai-nos trabalhadores miseráveis que aceitem sem revolta todos os trabalhos e contentem-se com o mais vil salário;
Dai-nos tolos que creiam em nossos anúncios;
Fazei com que nossos devedores paguem integralmente suas dívidas e que o banco desconte nossos papéis;
Fazei com que Mazas* não se abra jamais para nós e afastai-nos da falência;Concedei-nos rendimentos perpétuos.

Amén
Paul Lafargue
*Mazas: nome de uma prisão francesa no século XIX.

2 comments:

Anonymous said...

"Mas, ensurdecidos e tornados idiotas pelos seus próprios berros, os economistas continuam a responder: Trabalhem, trabalhem sempre para criarem o vosso bem-estar! E, em nome da bondade cristã, um padre da Igreja Anglicana, o reverendo Townshend, prega: “Trabalhem, trabalhem noite e dia! Ao trabalharem, fazem crescer a vossa miséria e a vossa miséria dispensa-nos de vos impor o trabalho pela força da lei. A imposição legal do trabalho exige demasiado esforço, demasiada violência e faz demasiado estardalhaço; a fome, pelo contrário, não só é uma pressão calma, silenciosa, incessante, como também o móbil mais natural do trabalho e da indústria, ela provoca também os mais poderosos esforços.”

O Direito à Preguiça

Anonymous said...

"As mulheres da alta sociedade têm uma vida de mártir. Para provarem e fazerem valer as “toilettes” feéricas que as costureiras se matam a fazer, andam de manhã à noite de um lado para o outro, de um vestido para outro; durante horas abandonam a sua cabeça oca aos artistas capilares que, a todo o custo, querem saciar a sua paixão pelos montões de postiços. Apertadas nos seus espartilhos, pouco à vontade nas suas botinas, decotadas de maneira a fazer corar um sapador, voltejam noites inteiras nos seus bailes de caridade para recolherem alguns soldos para os pobres. Santas almas!"

Paul Lafargue

Não é que no século XIX já se escrevia sobre o Banco Alimentar contra a Fome...