Há mais de dez anos que li o meu único Saramago e a primeira reacção foi cinematográfica tal a adaptação brutal que seria a sua transposição para o cinema, finalmente realizada por Meirelles, este ano, provocando-me um turbilhão de sentimentos quanto à própria humanidade, frente a uma situação de caos, ou, ainda pior, na questão que coloquei, relativamente ao tipo de vivência que teríamos, se a visão não fizesse parte da nossa existência desde os primórdios?
A outra, como já devem ter notado, pela minha tentativa parva, com que escrevo este post, à la Saramago, é a forma da sua escrita, com poucos pontos, muitas vírgulas e discurso corrente que faz com que os acontecimentos passem pela mente do leitor com uma velocidade incrível, mas, isto são outras histórias, diferentes da súbita e inexplicável epidemia de cegueira que nos guia para a desorganização e a superação dos valores mais básicos da sociedade transformando-nos em animais egoístas na luta pela sobrevivência.
O filme, visualmente impressionante, fez-me querer reler o livro, recuperar a lucidez, resgatar o afecto, a anonimicidade que se requer para que isso aconteça, nas cidades, nas pessoas, em tudo, de forma a que seja realmente possível ver a sua essência.
"Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."
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