Wednesday, November 26, 2008

Momentos

Uma crónica de viagem seria um bom paliativo para o estado de nojo constante que é a minha mente. Mas não dá! O subsídio não o permite e, além do mais, não estou sindicalizado. É verdade que seria muito do meu agrado erguer bandeiras, vir para a rua e gritar contra o governo, mas na linha da frente, a falar para os telejornais. Uma espécie de Bettencourt Picanço pós-moderno que reivindicaria constantes aumentos salariais para uma classe tão desmoralizada como é toda aquela gente que serve o Estado, essa figura moderna e benemérita especialista em reproduzir prateleiras, ofícios e donas Odetes. Ainda para mais sabendo eu que a luta do senhor Picanço tem vindo a dar frutos. É que, ao contrário dos trabalhadores do Estado, muito colaborador privado (aqui há que estabelecer a diferença entre trabalhador e colaborador, porque dá sempre uma conotação mais sofrida aos primeiros, não sei se me estão a entender...) anda com um dos tomates arrepiados com a perspectiva de pouco vir a ser aumentado em termos reais, isto se, segundo alguns cenários, não vier mesmo a ser despedido.

Mas não. Do que eu precisava mesmo era de uma crónica de viagem, não armado em Heródoto, mas com o único propósito de entender as reais preocupações das pessoas espalhadas pelo mundo. Por exemplo, seria tentador perguntar a uma criança subnutrida de África sobre o que esta acha do Obama, do twitter ou, porque não, do maior especialista português nas matérias anteriores, o Paulo Querido, isto atribuindo alguma modéstia às suas análises, o que seria, de algum modo, injusto. Certamente que a criança seria pronta a mandar-me para o caralho. E ainda acabaria por dizer que Picanço é nome abichanado. Mesmo assim, do que eu precisava era de um Bettencourt ao meu lado, que desse provisão aos meus delírios e me permitisse fugir para um lugar onde não tivesse de gramar com Queridos, Oliveiras e todos aqueles que, percorrida a blogosfera, nos permitem ter uma visão mais abrangente e fracturante da sociedade. Porque o twitter, sim, é a verdadeira homenagem ao telos que são as reais preocupações do mundo.

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