Fazemos o que nos dizem para fazer. Ouvimos o lema, abanamos a cabeça, ritmada, numa espécie de compasso militar. Sentimos a raiva, sentimos a fúria e sonhamos. Achamos que sim, que isto tem de acabar. De facto, fazemos o que nos dizem para fazer. Eles gritam isso, eles abrem-nos os olhos para isso e nós concordamos que é isso que acontece. E que não pode acontecer mais.
Crescemos com essa ânsia de revolução entalada cá dentro. Fode-te, não farei o que me dizes. Repetem e repetem. Em crescendo. Fode-te, não farei o que me dizes. Percebemos o apelo. Revoltem-se, mandem-nos foder, não façam o que eles dizem. Eles gritam e nós gritamos. O compasso militar anarquiza-se e nós vamos atrás dele. Revolução, revolução, não faremos o que nos dizem, puta que vos pariu.
Depois calam-se. Acaba. Os palhaços e o circo. Eles metem a guitarra no saco e vão embora. Nós também. Sem quitarra, ao longo da vida, vamos metendo no saco aquilo que está mais à mão. A revolta, os gritos, a crença, o sonho instantâneo que nos serviram. Tudo. Custa, mas acabamos por perceber que a revolução não é coisa de ir ao micro-ondas.
Aceito que crescer também seja um pouco isso. Mas às vezes sinto que preferia mesmo ter 17 anos. Come on! Solo de guitarra. Fode-te, não farei o que me dizes. Convenhamos, tinha muito mais piada.
Thursday, August 21, 2008
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