Tuesday, September 12, 2006

A minha nova desigualdade

A Nova Era das Desigualdades (referência ao livro de Fitoussi e Rosanvallon, por uma questão de honestidade intelectual, obviamente... n me venham agora dizer que estou armado em pseudo) faz-nos perceber que os indicadores clássicos da desigualdade já não bastam para explicar o cada vez mais complexo e, afinal, sempre o mesmo fenómeno da exclusão social. As causas e as origens são mais difusas. Mas do que estes autores se esqueceram foi da referência a exemplos televisivos que, no meu caso, fazem perceber o verdadeiro sentido hodierno da exclusão. É ver blogue de toda a gaja e gajo que passam por inteligentes, de gaja e gajo que são inteligentes de uma maneira muito muito fashion, de gaja e gajo que são inteligentes de uma maneira muito muito cool e está encerrado o meu auto-case-study.
É que não sendo um gajo assim muito regular na personalidade, nunca tive, não posso ter, nem nunca virei a ter a propensão para ver séries televisivas, mais em concreto, aquelas que em determinados circulos conferem uma aura de super-cool-boy-or-girl a quem as cita, a quem faz questão de afirmar que as vê, a quem faz questão de fazer notar a idiossincrassia da personagem A ou B, a quem com exagerado garbo relembra uma situação do último episódio, senão mesmo a sequência literal de um diálogo, e se for em inglês, tanto melhor. Um fenómeno que anda um pouco à semelhança da geração anterior, citadora de Barthes em francês, e que o nosso grande Cardoso Pires caricaturou tão bem numa personagem d'Alexandra Alpha que até sonetos do Camões citava na língua de Baudelaire e de Balzac. Face a estes novos critérios na abordagem do que é a integração na "boa cultura", e que passam por indicadores como ver ou não ver "Donas de Casa Desesperadas", "O Sexo e a Cidade", "Sete Palmos de Terra", isto para mencionar as mais conhecidas, vejo-me na contigência de passar por estúpido, néscio e sei lá mais o quê, por não acompanhar as tão interessantes conversas sobre a gaja rica, bem posicionada na vida e desprendida sexualmente que andava a comer um gajo podre de bom, ainda por cima com dinheiro, só que com um senão, por azar, o gajo tinha uma pilinha muito, mas mesmo muito pequenina. Enfim...depois não se queixem se vos disserem que sou um gajo muito calado e tal...

1 comment:

Quim Zofrénico said...

Digamos, portanto, que tu estás para as séries como o Pacheco Pereira está para o futebol: não acompanha, não percebe o fenómeno, irrita-se com a importância que lhe dão e quando se pronuncia sobre ele é para criticar, porque "há coisas mais importantes"... :-)