lembrei-me de uma passagem deliciosa do "Tratado do Estilo" de Louis Aragon - livro renegado pelo próprio, imagine-se - acerca dos jornalistas. Não é que a dita o seja, mas faz de conta, pois é a forma mais rápida de enquadrá-la biograficamente (escritora não é; como literata, está para Virginia Woolf como o Eduardo Madeira e o Nilton estão para o Woody Allen; aparece na televisão, logo existe: como te enganaste Descartes. Actualmente, há a TV, logo não é necessário pensar).
Mas deixemos de falar de gente foleira e vamos ao que interessa. Dizia Aragon algo que se mantém muito actual e que até poderia causar nós no estômago da referida, caso ela o lesse: «Declaro portanto ser possível apertar a mão a um jornalista. Com certas reservas, obviamente. Lavar-se uma pessoa logo a seguir, e não só a mão contaminada, mas também as restantes zonas do corpo, em especial as partes sexuais, visto não saber ainda muito bem como envenena o jornalista as vitimas e por isso paira a incerteza quanto à possibilidade de ele expandir por todos os poros da pele ou da roupa uma espécie de peçonha volátil e singularmente pestilenta detentora de extraordinária aptidão para se alojar nas rugas flexoras, e até nas mais dissimuladas pelo hábito e pela decência». Por aqui se pode constatar que já no ano 1928, data da publicação do "Tratado" pela Gallimard, havia uma insuspeita clarividência no que concerne as estas questões. E quanto a escritores malditos, por cá, o que se aproxima mais do epíteto é um tal de Luiz Pacheco cuja última informação recolhida foi a de que estava asilado num lar de idosos e, se já morreu, eu não soube porque estes, por certo, não ganham as honras de Panteão destinadas às celebridades produzidas pelo nosso tão criterioso sistema político e cultural.
No comments:
Post a Comment