O Ground apela mais à emoção do que à formalização abstracta do pensamento
Friday, September 29, 2006
A importância da análise externa
Vamos logo ao que importa. O que se impunha nas questões levantadas aqui e aqui é que existisse um Bourdieu que fizesse uma espécie de "As Regras da Arte" do meio literário português. Um Pierre Bourdieu, repito, e não um João Pedro George que quando foi ao programa do Francisco José Viegas mostrou-se claramente confuso e titubeante quando teve de explicar do que trata realmente a sociologia da literatura. Porém, no meio de tanta hesitação ainda conseguiu criticar (brilhante, João!) o conceito de campo que, por definição, tem um alcance heurístico vastíssimo.
E o propósito de estar a evocar para esta questão um sociólogo e não um crítico literário prende-se com duas ordens de razões:
1 - Bourdieu utilizou o conceito de campo e de "habitus" (as disposições dos actores a partir da posição que ocupam num determinado campo social, seja ele económico, cultural ou político) de modo a analisar as regras do jogo dentro de um determinado campo social, neste caso concreto, o literário;
2 - Bourdieu ao fazer uma análise externa da criação das obras literárias em França desmistificou a ideia do génio criador (o que não é claramente o caso de LMR), realçando, e enuncio aqui em termos básicos, que a emergência de uma obra ou de um autor é toda ela determinada por condições externas à obra e que se trata, antes do mais, de um jogo de forças levado a cabo pelos actores situados dentro de um determinado campo social de modo a colocar-se um autor no centro ou na periferia desse mesmo campo. Como se pode depreender facilmente, este tipo de pensamento causou mau estar nos meios ligados à criação e à cultura em França, pois foi precisamente colocar em causa tudo aquilo que conferiu ao longo dos tempos um estatuto de excepção aos artistas e escritores, a saber, a aura que lhes era conferida pelo génio da obra.
Assim sendo, e querendo ser muito breve, volto a reiterar que relativamente à obra de Luís Miguel Rocha, o que se impunha não era de facto um esclarecimento sobre o valor da obra em si, a verdade incómoda que este tanto faz gala em anunciar, mas sim, uma análise externa que nos permitisse perceber quais são as "forças" e os jogos de "forças" que permitem que aquilo que deveria estar na periferia, de novo Luís Miguel Rocha, passe assim de repente para o centro do campo. A presença na apresentação do livro de uma figura tão proeminente do meio literário e dos meios de comunicção social portugueses como o é Francisco José Viegas (e eu que tanto te admiro!) é bastante elucidativa e esclarecedora relativamente àquilo que quero dizer e, assim sendo, faz-nos perceber que um campo, o literário, vai buscar uma figura central de dois campos, o literário e o mediático, para conferir qualidade (o que duvido) e visibilidade (o verdadeiro propósito da coisa) a um livro que não andará muito longe do horizonte de Jean Baudrillard quando este se refere aos livros de supermercado numa das suas obras capitais, A Sociedade de Consumo. Todas as questões aqui levantadas importariam ser analisadas para que daí fosse possível sinalizar e compreender todo o esforço de bastidores que de certeza foi levado a cabo por LMR para que do nada já surja com a aura, que no caso dele é pérfida, de escritor. E digo tudo isto para homenagear Bourdieu e para que não nos esqueçamos que " La sociologie est un sport de combat".
O Ground
O Ground é o fundamento essencial da cultura contemporânea, pois é o que atribui sentido à figura.
Thursday, September 28, 2006
Esteves Certo - O monotone
Steven Wright... o seu ar, sério, sem emoção, a voz lenta, de tom monocórdico e volume no mínimo, aliada a uma mente confusa, absurda, irónica e paradoxal, fazem dele o meu mestre humorístico. Para quem possa ter dificuldades em reconhecer a voz que tão bem descreve o seu estado de espírito, basta lembrar o frete que fazia DJ K-Billy, na rádio, em Cães Danados.
Um humor que surge das traições da linguagem, do non-sense, one-liners e das questões do dia-a-dia que o assaltam e que resultam em atordoadas epifanias depressivas.
Aconselho o único álbum que editou, em 1985, de stand-up comedy, "I have a pony" ou o seu especial para a HBO, caso prefiram vê-lo, a ouvi-lo. Ando a ver se descubro a sua oscarizada curta "The appointments of Dennis Jennings". De resto, é ir descobrindo as suas pequenas, mas sempre inesquecíveis, participações em diversos programas televisivos. Vejam-no, em desenhos animados, como mais um desiquilibrado paciente do Dr. Katz.
Aconselho o único álbum que editou, em 1985, de stand-up comedy, "I have a pony" ou o seu especial para a HBO, caso prefiram vê-lo, a ouvi-lo. Ando a ver se descubro a sua oscarizada curta "The appointments of Dennis Jennings". De resto, é ir descobrindo as suas pequenas, mas sempre inesquecíveis, participações em diversos programas televisivos. Vejam-no, em desenhos animados, como mais um desiquilibrado paciente do Dr. Katz.
Pura perfeição cómica de alguém que insiste que: "Não tenho ideia nenhuma do que estou para aqui a falar". Ora leiam lá o delírio:
- I saw a close friend of mine the other day... He said, "Stephen, why havent you called me?" I said, "I can't call everyone I want. My new phone has no five on it." He said, "How long have you had it?" I said, "I don't know... my calendar has no sevens on it."
- When I woke up this morning my girlfriend asked me: "Did you sleep good?" I said: "No, i made a few mistakes."
- If you can't hear me, it's because i'm in parentheses.
- Right now i'm having amnesia and deja-vu at the same time. I think i've forgotten this before.
- I saw a subliminal advertising executive, but only for a second.
- For sale: Parachute. Only used once, never opened, small stain.
Wednesday, September 27, 2006
Saúdam-se os regressos...
Um já aqui foi divulgado, mas não queria deixar de me associar ao mesmo visto tratar-se da minha banda preferida... que está de volta! E regressará igualmente ao nosso país em Dezembro. Estarei lá, concerteza!
Quanto ao segundo, é o favorito em termos de pintura... o grito regressa hoje ao Museu Munch! Depois de larapiado e vilipendiado, não se aguenta mais numa parede e terá que ser apreciado na horizontal até à sua recuperação.
É nestas alturas que me sinto estacionado na diagonal num universo paralelo...
Que desastre!
Uma equipa que perde contra outra que tem este homem quase que a assumir-se como "il regista" daquele meio-campo só pode ser considerada uma autêntica fraude. Este Man United é uma verdadeira banalidade, apenas tendo por trás o peso da sua marca: imaginem então o valor do sempre "glorioso"!!!!!!! Alguém ainda terá coragem e senso para colar tal epíteto àquela vergonha de clube? E a tão aguardada e anunciada vitória na Liga dos Campeões, senhor LFV?
Tuesday, September 26, 2006
B-Sides
Passei a tarde a "sacar" e a ouvir compulsivamente (não aquela coisa dos transtornos maníacos) os "B-Sides" dos Arcade Fire e devo dizer que fiquei completamente siderado. Com cada preciosidade musical, meu Deus (esta era escusada, logo eu que faria tão bem o papel de Robespierre a ordenar guilhotina a tudo o que é mente sacra)! Virgin Mary Highway, por exemplo, é uma peça para a eternidade da beleza melancólica que tanto prezo (We've both felt love before even if we deny it/That familiar feeling of believing that we'll die without it/Be we never do, well not completely). E é sempre aprazível sentir o charme da Régine Chassagne a entrar-nos pela casa dentro.
De resto, só espero que um DJ Vajaina qualquer não se lembre agora de vir fazer uma remistura, assim género daquelas pós-modernices manhosas que só os génios alcançam, com umas pitadas de Reggae e com um afro-muçulmano a recitar passagens do Corão. É que para fenómenos merdosos já me chegam aqueles fashion-alternativos que duram assim uns dois meses e após isso já nem na boca dos seus mediadores alcançam qualquer ovação - porque isto de música tem prazos, estão a ver.
No Blogue de Marias
Isto vem no blogue de Javier Marias, de quem sou confesso admirador pela escrita sofisticada, elegante e fascinantemente cosmopolita:
Empecemos a pronunciar más este nombre. Si algún autor del idioma ganará pronto el Nobel, ése es Javier Marías. No puede ser de otro modo. Nadie más dentro de la literatura en castellano tiene hoy su impacto internacional. El boom es cosa vieja. Marías arrasó en Europa durante los años noventa y aun hoy perdura. Los alemanes lo adoran, y los alemanes saben. Nadie protestaría si él ganara. Nadie, salvo nosotros, su idioma. Dentro de nuestra literatura rara vez se perdona el éxito, y Marías ha triunfado. Ya se le trata como a un autor “comercial” cuando es, en rigor, otra cosa: uno de los tres o cuatro escritores que sostienen victorioso a nuestro idioma. Si se le siguiera leyendo como antes, esto se sabría: Marías no sólo persiste, mejora. Su último proyecto narrativo, Tu rostro mañana, es casi inverosímil: una trilogía apenas móvil, tres extensas y hermosas novelas que ocurren menos en la trama que en el lenguaje. Podría pasar, con suerte, esa injusticia: que ganara antes el Nobel que el Cervantes.
RAFAEL LEMUS Ensayista y crítico literario. Director Editorial de Cuaderno Salmón.
Acrescento: que venha o Nobel para o escritor mais envolvente no que toca à reflexão sobre os aspectos mais obscuros e densos de cada ser humano. O detalhe em Marias ganha expressão universal. A Espanha bem que merece um escritor com tamanha dimensão.
Nota: Ando a ler "O Homem Sentimental" (Dom Quixote) e tenho-me demorado tanto naquelas cerca de 140 páginas. É o terrível medo de ficar orfão daquela escrita. Há coisas que o fim produz amplamente o desconforto da nostálgia, outras não, esquecem-se.
Sunday, September 24, 2006
Arcade Fire - No Cars Go
Eu não tenho palavras para isto. Eles são definitivamente a minha banda do momento. A vida só vale a pena ser vivida quando existe alguém que realmente marque a diferença. Urge fugir deste lugarzinho inóspito, sufocante e preconceituoso. E a indumentária delas é do melhor...a amiga Cati com a sua magnífica voz, aquela que em tempos foi a minha Simone de Beauvoir, enquadrar-se-ia aqui na perfeição. Como estou saudoso dos nossos momentos loucos! Eras e és mulher de dimensões etéreas.
Eu não tenho palavras para isto. Eles são definitivamente a minha banda do momento. A vida só vale a pena ser vivida quando existe alguém que realmente marque a diferença. Urge fugir deste lugarzinho inóspito, sufocante e preconceituoso. E a indumentária delas é do melhor...a amiga Cati com a sua magnífica voz, aquela que em tempos foi a minha Simone de Beauvoir, enquadrar-se-ia aqui na perfeição. Como estou saudoso dos nossos momentos loucos! Eras e és mulher de dimensões etéreas.
A dinâmica em palco é absolutamente única!
Saturday, September 23, 2006
O meu Outono começa...
It's time to end my holiday and bid the country a hasty farewell.
So on this gray and melancholy day, i'll move to a Manhattan hotel.
I'll dispose of my rose-colored chattels and prepare for my share of adventures and battles, here on the twenty-seventh floor looking down on the city I hate and adore!
Autumn in New York, why does it seem so inviting?
Autumn in New York, it spells the thrill of first-nighting.
Glittering crowds and shimmering clouds in canyons of steel, they're making me feel i'm home.
It's autumn in New York that brings the promise of new love.
Autumn in New York is often mingled with pain.
Dreamers with empty hands may sigh for exotic lands
It's autumn in New York. It's good to live again.
Billie Holiday
Thursday, September 21, 2006
Álbum de Família
Um exercício porreiro aquele que a Radar está a fazer, no seu blogue, em conjunto com os ouvintes: escolher qual o melhor dos 50 álbuns já emitidos na rubrica “Álbum de Família”.
Já lá deixei os meus votos quanto aos cinco melhores álbuns emitidos e as propostas para álbuns que ainda não foram contemplados pelo programa.
Sugiro-vos que façam o mesmo. Ás vezes sabe bem armarmo-nos em clones do John Cusack (ou do Nick Hornby, como preferirem) e organizar pequenas parcelas da nossa vida em rankings de cinco lugares.
A votação está a decorrer aqui: http://blogradar.blogspot.com/
Já lá deixei os meus votos quanto aos cinco melhores álbuns emitidos e as propostas para álbuns que ainda não foram contemplados pelo programa.
Sugiro-vos que façam o mesmo. Ás vezes sabe bem armarmo-nos em clones do John Cusack (ou do Nick Hornby, como preferirem) e organizar pequenas parcelas da nossa vida em rankings de cinco lugares.
A votação está a decorrer aqui: http://blogradar.blogspot.com/
Wednesday, September 20, 2006
Viagens
O vetusto Mayol, senhor catalão, vê-se sozinho e abandonado. Personagem de grande dignidade, faz a sua viagem vertical e, vingando-se do filho, imerge, por fim, como a mítica Atlântida descrita no Timeu de Platão.
Tuesday, September 19, 2006
Esclarecimento
Sim, bem se podem queixar que este "blog" é de uma incongruência temática que roça a mais aguda boçalidade. Mas é para isso que cá andamos e, para provar que a nossa linha editorial não é para levar assim muito a sério, para breve, estamos a pensar deixar aqui patente uma exposição fotográfica de pilinhas. L'art pour l'art, meus amigos...
Thursday, September 14, 2006
e este fiasco de gente, que não tem outro nome...
acha que, agora, é moda pôr a ridículo o Dr. Soares. Mas, sempre admirei o seu ar bonacheirão de quem se está perfeitamente a marimbar para esta gente. O que é que eles queriam, que o homem seguisse as ideias simples, simplórias de quem põe o mundo a fogo é que defende a natureza humana? se é que ela existe, ou melhor, a existir, está nos compêndios César das Neves para quem o mundo se resume à máxima de que "não há almoços grátis".
O ser anti-americano
De ambos os lados existem posições ridículas, porém, temos sempre de pender para um lado e, neste caso, defender o exemplo de democracia que vigora no Iraque, como se para haver democracia não fossem necessárias condições culturais e de mentalidades para isso - sim, qualquer manual de ciência política que se preze defende por princípio que as democracias florescem sobretudo em sociedades tribais e não em sociedades em que houve a consolidação de valores assentes no individualismo racionalista. Mas enfim, achar Bush um idiota é sinónimo de ser anti-americano, assim como Paul Auster o é, por colocar esse rancheiro ainda num patamar mais elevado de cretinice.
Sobre os intelectuais muçulmanos
O Dr. Yiossuf M. Adamgy até pode ter ideias ridículas, como foi o caso, mas daí a colocar aspas nas sua condição de intelectual vai uma grande distância.
E como...
estou a ficar assim um pouco inteligente demais para o meu gosto, assim ao jeito de província, retiro-me e...não digo mais nada até amanhã.
ai
E qual seria a opinião desses neo-liberais ou neoconservadores, ou que raio é, de conveniência que existem em Portugal, antes da queda do Muro? O derrube, claro, com a douta opinião que teríamos chegado ao fim da História. Esfíngica sociedade do bem-estar e da esquizofrenia.
blasfémia, se ainda fossem capazes...
O dr. Pacheco Pereira, essa empresa de opinião, embora não goste assim muito de futebol, fez-se acompanhar de claque enquanto falou. Assumiu como bandeira uma mulher marreca que elevou o estandarte em nome de algo tão insofismável como um blogue de nome a blasfésmia, o qual, fez questão de transmitir para este mundo pequenino que iria levar para lá o seu enlevo, sempre e sempre medíocre. Com o inconveniente, claro, de estar presente uma comitiva de intelectuais que faz rir a malta blasfémica, só e apenas só, por não ter a perna esticada na frequência redutora dessa capital de distrito que é Lisboa. Basta existir alguém que frequente o cabeleireiro ao lado e eles não convêm, não admitem e, enfim, não suportam, porque, afinal, está um mundo tão largo ali mesmo ao lado. É esta a merda de intelectuais que temos em Portugal. Porque os verdadeiros não existem, disse!...nem aparecem
beijinhos
Wednesday, September 13, 2006
Frase
«Nós ganhámos a uma grande equipa porque somos uma grande equipa». Marco Caneira, lateral do Sporting que, segundo um amigo meu benfiquista, não sabe atacar. Ora toma lá, Nuno!
Estatísticas
meio-campo com uma média de 21 anos de idade controla o jogo durante 90 minutos sem se deixar intimidar com o colossal "peso" do meio-campo adversário.
Tuesday, September 12, 2006
A minha nova desigualdade
A Nova Era das Desigualdades (referência ao livro de Fitoussi e Rosanvallon, por uma questão de honestidade intelectual, obviamente... n me venham agora dizer que estou armado em pseudo) faz-nos perceber que os indicadores clássicos da desigualdade já não bastam para explicar o cada vez mais complexo e, afinal, sempre o mesmo fenómeno da exclusão social. As causas e as origens são mais difusas. Mas do que estes autores se esqueceram foi da referência a exemplos televisivos que, no meu caso, fazem perceber o verdadeiro sentido hodierno da exclusão. É ver blogue de toda a gaja e gajo que passam por inteligentes, de gaja e gajo que são inteligentes de uma maneira muito muito fashion, de gaja e gajo que são inteligentes de uma maneira muito muito cool e está encerrado o meu auto-case-study.
É que não sendo um gajo assim muito regular na personalidade, nunca tive, não posso ter, nem nunca virei a ter a propensão para ver séries televisivas, mais em concreto, aquelas que em determinados circulos conferem uma aura de super-cool-boy-or-girl a quem as cita, a quem faz questão de afirmar que as vê, a quem faz questão de fazer notar a idiossincrassia da personagem A ou B, a quem com exagerado garbo relembra uma situação do último episódio, senão mesmo a sequência literal de um diálogo, e se for em inglês, tanto melhor. Um fenómeno que anda um pouco à semelhança da geração anterior, citadora de Barthes em francês, e que o nosso grande Cardoso Pires caricaturou tão bem numa personagem d'Alexandra Alpha que até sonetos do Camões citava na língua de Baudelaire e de Balzac. Face a estes novos critérios na abordagem do que é a integração na "boa cultura", e que passam por indicadores como ver ou não ver "Donas de Casa Desesperadas", "O Sexo e a Cidade", "Sete Palmos de Terra", isto para mencionar as mais conhecidas, vejo-me na contigência de passar por estúpido, néscio e sei lá mais o quê, por não acompanhar as tão interessantes conversas sobre a gaja rica, bem posicionada na vida e desprendida sexualmente que andava a comer um gajo podre de bom, ainda por cima com dinheiro, só que com um senão, por azar, o gajo tinha uma pilinha muito, mas mesmo muito pequenina. Enfim...depois não se queixem se vos disserem que sou um gajo muito calado e tal...
Monday, September 11, 2006
9|11 - conspiração Naudet
Depois de ter visto o documentário de Jules e Gedeon Naudet, que passou esta madrugada na Sic Notícias, fiquei com a sensação reforçada que há tipos com muita sorte no mundo. É que começar a fazer um documentário sobre um bombeiro principiante de Nova Iorque e acabar por documentar um dos episódios mais trágicos da História dos Estados Unidos é sinónimo de ter a reforma garantida ainda antes dos 30 anos. Fosse eu mais dado a teorias da conspiração e escreveria um livro a defender a estúpida tese de que foram os prosaicos irmãos Naudet a congeminar o atentado de 11 de Setembro. Como não o sou, deixo esse tipo de reflexões elevadíssimas para os intervenientes do programa "Opinão Pública".
O triunfo do estrabismo!
Saturday, September 09, 2006
... e assado...
Fazendo parte do trio, não quis deixar de meter a pua. Como não sou jornalista, imparcialidade não quis nada comigo. Mas devido a padrecos moralistas (FP e sua veia Estalinista), com más experiências de tricas de comadres e onde o universo gira em torno dele, sofri uma censura atroz e esta tem que ser exposta! Calo-me, então, por respeito ao provedor deste blog! Mas ninguém me tira as piadas cretinas! E sobre o assunto, apenas posso escrever que enquanto lia as vossas diatribes, ouvia a abertura do Guilherme Tell. E pus-me a pensar... qual dos dois intelectuais é o Lone Ranger? |
é assim...
como tenho vindo a servir de mediador na querela quase assassina que se instalou neste espaço, vejo-me na obrigação, pelo apreço que nutro por estes dois verdadeiros "gladiadores", de afirmar sem quaisquer reservas a minha total neutralidade relativamente à polémica em causa. Contudo, não resisto a uma piada cretina, deixando a sugestão que a vossa Guerra Púnica fique conhecida, não como a Primeira, não como a Segunda, mas sim como a Guerra "Tom vs Contéudo". Minudências, meu rapazes.
Friday, September 08, 2006
Carta aberta a um intelectual
Caro Alexandre Nunes Oliveira,
Antes de mais, gostaria começar esta carta com quatro notas prévias:
1) dou-me ao trabalho de escrever-te apenas pelo facto de te saber amigo de uma pessoa por quem tenho grande estima e consideração. Não fosse esse o caso, garanto-te que o tom inflamado da tua resposta não me mereceria qualquer tipo de comentário, tamanha é a disparidade de registo entre o que ambos escrevemos;
2) o facto de te escrever não tem por base o desejo de alimentar qualquer tipo de polémica: não tenho tempo, vontade ou disponibilidade mental para esgrimir retóricas. Por isso, após o envio desta carta, darei por encerrado qualquer tipo de argumentação sobre este episódio;
3) perante a contundência dos teus comentários, senti-me no direito de – para além de te enviar esta carta – publicar a minha resposta no blogue. Numa primeira fase, tinha dito que iria tratar o assunto em privado, mas o tom insultuoso com que me interpelaste fez-me mudar de ideias;
4) a acentuação que usaste por duas vezes na palavra conteúdo está incorrecta: escreve-se “conteúdo” e não “contéudo”. Se achares que esta falta de preciosismo faz de ti um ignaro, devolvo-te o rótulo. Se a entenderes apenas como um mero lapso, então aqui fica a correcção;
Posto isto, vamos então ao que interessa...
O ‘post’ intitulado «A dimensão cósmica da minha ignorância» teve por base dois princípios: o primeiro, como poderás confirmar pelo título e pelo que escrevi ao longo do texto, foi a simples constatação da minha ignorância quanto às virtudes do cinema contemporâneo russo; o segundo, foi ‘brincar’ com aquilo que considero ser um mau trabalho jornalístico.
Quanto ao primeiro ponto, creio que não há muito a dizer. Ou seja, eu (o ignaro), não conheço o cinema russo da actualidade e fiz uma tentativa de iniciar-me na matéria através da leitura da tua entrevista a Sokurov. Posteriormente, eu (o mesmo ignaro) cheguei à conclusão de que a leitura da tua entrevista não seria a melhor das portas de entrada para conhecer o homem, o realizador e a obra. Subsequentemente, eu (ainda e sempre o ignaro), decidi relatar a história do meu insucesso. Parece-me pacífico...
No que respeita ao segundo ponto, reconheço que o meu texto possa não ter sido suficientemente claro para transmitir a ideia que esteve na génese da paródia à entrada que antecede a tua entrevista. Porque, de facto, faltou-me explicar que, na minha opinião, a elaborada prosa com que nos presenteias antes de debitar a primeira pergunta é, no fundo, e jornalisticamente falando, uma valente merda. E digo jornalisticamente falando, porque tu apresentas e defendes o texto como “um artigo”. Assim sendo, é dessa forma que ele deve ser avaliado.
E porque é que eu digo, então, que aquilo é uma valente merda? Porque o registo desmesuradamente elogioso que pauta o texto, coloca imediatamente de parte, um a um, todos os princípios de isenção, rigor, distanciamento e imparcialidade que devem reger não só a escrita de um texto jornalístico, mas também a relação de um entrevistador com o seu entrevistado.
No panorama jornalístico este é, de resto, um problema cada vez mais comum. Mas a verdade é que o fenómeno tem sempre tendência a agravar-se exponencialmente na esfera do ‘jornalismo cultural’. Há quem diga que isso se prende com o facto de os jornalistas de cultura serem, no fundo, potenciais artistas que nunca conseguiram livrar-se do estigma e da frustração de nada terem feito em prol da arte. Consequência: vingam-se nos artigos que escrevem, entretendo-se em prolongados exercícios pseudo-literários e massacrando os leitores com demonstrações de habilidade absolutamente parolas.
É raro, por exemplo, ler um artigo sobre um concerto, um filme ou uma exposição que não tenha por eixo aquilo que o jornalista “acha”. E, pior, depois de o jornalista “achar”, entretém-se a divagar sobre o porque é que ele “acha” e a justificar o porquê de “achar” isso. Mete-se pelo meio aquilo que os outros – os “especialistas” – acham, contextualiza-se todo este “achismo” numa determinada corrente, compara-se com os que pertencem a essa corrente ou a outras correntes, diz-se o que é que se “acha” disso e... pronto! Está feita a peça...
E isso, meu caro, é triste. Primeiro, porque quem compra um jornal deve ter direito a formular a sua opinião com base em informação factual e não em informação subjectiva. Segundo, porque informação e opinião devem ser coisas perfeitamente distintas e como tal assinaladas, para não enganar quem lê. Terceiro, porque infelizmente a esmagadora maioria dos nossos ‘jornalistas de cultura’ não consegue tirar os olhos do umbigo ou escrever para além do círculo de leitores formado pelas tertúlias que frequenta.
É nesse âmbito que eu não posso deixar de considerar hilariante a leitura de frases como «superior estilista do cinema contemporâneo», «demiurgo de uma experiência filmíca totalmente inovadora, mesmo nos círculos mais alternativos», ou «personalidade única e absolutamente singular, autor de um cinema contemplativo, filosófico, profético e de autênticas dimensões cósmicas». Jornalisticamente falando, pior do que ler isto, só mesmo o facto de colocares estas frases na boca de «especialistas» que nem te dignas a identificar.
Feita esta (longa) exposição sobre os motivos que me levaram a brincar com a tua entrevista, coíbo-me de aprofundar quaisquer considerações acerca da tua lamentável dissertação sobre as idiossincrasias do Portugal medíocre e dos pobres coitados que o habitam. Quem se arroga o direito de se colocar num patamar de superioridade intelectual e de julgar os restantes como pessoas que devem “instruir-se e elevar-se mais” não merece mais do que um sorriso misericordioso como resposta.
1) dou-me ao trabalho de escrever-te apenas pelo facto de te saber amigo de uma pessoa por quem tenho grande estima e consideração. Não fosse esse o caso, garanto-te que o tom inflamado da tua resposta não me mereceria qualquer tipo de comentário, tamanha é a disparidade de registo entre o que ambos escrevemos;
2) o facto de te escrever não tem por base o desejo de alimentar qualquer tipo de polémica: não tenho tempo, vontade ou disponibilidade mental para esgrimir retóricas. Por isso, após o envio desta carta, darei por encerrado qualquer tipo de argumentação sobre este episódio;
3) perante a contundência dos teus comentários, senti-me no direito de – para além de te enviar esta carta – publicar a minha resposta no blogue. Numa primeira fase, tinha dito que iria tratar o assunto em privado, mas o tom insultuoso com que me interpelaste fez-me mudar de ideias;
4) a acentuação que usaste por duas vezes na palavra conteúdo está incorrecta: escreve-se “conteúdo” e não “contéudo”. Se achares que esta falta de preciosismo faz de ti um ignaro, devolvo-te o rótulo. Se a entenderes apenas como um mero lapso, então aqui fica a correcção;
Posto isto, vamos então ao que interessa...
O ‘post’ intitulado «A dimensão cósmica da minha ignorância» teve por base dois princípios: o primeiro, como poderás confirmar pelo título e pelo que escrevi ao longo do texto, foi a simples constatação da minha ignorância quanto às virtudes do cinema contemporâneo russo; o segundo, foi ‘brincar’ com aquilo que considero ser um mau trabalho jornalístico.
Quanto ao primeiro ponto, creio que não há muito a dizer. Ou seja, eu (o ignaro), não conheço o cinema russo da actualidade e fiz uma tentativa de iniciar-me na matéria através da leitura da tua entrevista a Sokurov. Posteriormente, eu (o mesmo ignaro) cheguei à conclusão de que a leitura da tua entrevista não seria a melhor das portas de entrada para conhecer o homem, o realizador e a obra. Subsequentemente, eu (ainda e sempre o ignaro), decidi relatar a história do meu insucesso. Parece-me pacífico...
No que respeita ao segundo ponto, reconheço que o meu texto possa não ter sido suficientemente claro para transmitir a ideia que esteve na génese da paródia à entrada que antecede a tua entrevista. Porque, de facto, faltou-me explicar que, na minha opinião, a elaborada prosa com que nos presenteias antes de debitar a primeira pergunta é, no fundo, e jornalisticamente falando, uma valente merda. E digo jornalisticamente falando, porque tu apresentas e defendes o texto como “um artigo”. Assim sendo, é dessa forma que ele deve ser avaliado.
E porque é que eu digo, então, que aquilo é uma valente merda? Porque o registo desmesuradamente elogioso que pauta o texto, coloca imediatamente de parte, um a um, todos os princípios de isenção, rigor, distanciamento e imparcialidade que devem reger não só a escrita de um texto jornalístico, mas também a relação de um entrevistador com o seu entrevistado.
No panorama jornalístico este é, de resto, um problema cada vez mais comum. Mas a verdade é que o fenómeno tem sempre tendência a agravar-se exponencialmente na esfera do ‘jornalismo cultural’. Há quem diga que isso se prende com o facto de os jornalistas de cultura serem, no fundo, potenciais artistas que nunca conseguiram livrar-se do estigma e da frustração de nada terem feito em prol da arte. Consequência: vingam-se nos artigos que escrevem, entretendo-se em prolongados exercícios pseudo-literários e massacrando os leitores com demonstrações de habilidade absolutamente parolas.
É raro, por exemplo, ler um artigo sobre um concerto, um filme ou uma exposição que não tenha por eixo aquilo que o jornalista “acha”. E, pior, depois de o jornalista “achar”, entretém-se a divagar sobre o porque é que ele “acha” e a justificar o porquê de “achar” isso. Mete-se pelo meio aquilo que os outros – os “especialistas” – acham, contextualiza-se todo este “achismo” numa determinada corrente, compara-se com os que pertencem a essa corrente ou a outras correntes, diz-se o que é que se “acha” disso e... pronto! Está feita a peça...
E isso, meu caro, é triste. Primeiro, porque quem compra um jornal deve ter direito a formular a sua opinião com base em informação factual e não em informação subjectiva. Segundo, porque informação e opinião devem ser coisas perfeitamente distintas e como tal assinaladas, para não enganar quem lê. Terceiro, porque infelizmente a esmagadora maioria dos nossos ‘jornalistas de cultura’ não consegue tirar os olhos do umbigo ou escrever para além do círculo de leitores formado pelas tertúlias que frequenta.
É nesse âmbito que eu não posso deixar de considerar hilariante a leitura de frases como «superior estilista do cinema contemporâneo», «demiurgo de uma experiência filmíca totalmente inovadora, mesmo nos círculos mais alternativos», ou «personalidade única e absolutamente singular, autor de um cinema contemplativo, filosófico, profético e de autênticas dimensões cósmicas». Jornalisticamente falando, pior do que ler isto, só mesmo o facto de colocares estas frases na boca de «especialistas» que nem te dignas a identificar.
Feita esta (longa) exposição sobre os motivos que me levaram a brincar com a tua entrevista, coíbo-me de aprofundar quaisquer considerações acerca da tua lamentável dissertação sobre as idiossincrasias do Portugal medíocre e dos pobres coitados que o habitam. Quem se arroga o direito de se colocar num patamar de superioridade intelectual e de julgar os restantes como pessoas que devem “instruir-se e elevar-se mais” não merece mais do que um sorriso misericordioso como resposta.
Thursday, September 07, 2006
E já que falas em jornalismo...
... atrevo-me a sugerir a leitura de um artigo muito interessante e já bastante comentado no universo jornalístico. “Who Killed The Newspaper” é um trabalho publicado no final de Agosto na revista The Economist, sobre o futuro (ou a inexistência dele) da imprensa.
Eis os links:
http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=7830218
http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=7827135
Acredito que a minha avaliação à qualidade e pertinência destes artigos possa ser, sobretudo, fruto de uma espécie de deformação profissional. Mas de certeza que é uma boa sugestão de leitura para quem se interessa pelo sector da imprensa, nem que seja apenas na óptica do consumidor de jornais.
Já que me referi à Clarinha...
lembrei-me de uma passagem deliciosa do "Tratado do Estilo" de Louis Aragon - livro renegado pelo próprio, imagine-se - acerca dos jornalistas. Não é que a dita o seja, mas faz de conta, pois é a forma mais rápida de enquadrá-la biograficamente (escritora não é; como literata, está para Virginia Woolf como o Eduardo Madeira e o Nilton estão para o Woody Allen; aparece na televisão, logo existe: como te enganaste Descartes. Actualmente, há a TV, logo não é necessário pensar).
Mas deixemos de falar de gente foleira e vamos ao que interessa. Dizia Aragon algo que se mantém muito actual e que até poderia causar nós no estômago da referida, caso ela o lesse: «Declaro portanto ser possível apertar a mão a um jornalista. Com certas reservas, obviamente. Lavar-se uma pessoa logo a seguir, e não só a mão contaminada, mas também as restantes zonas do corpo, em especial as partes sexuais, visto não saber ainda muito bem como envenena o jornalista as vitimas e por isso paira a incerteza quanto à possibilidade de ele expandir por todos os poros da pele ou da roupa uma espécie de peçonha volátil e singularmente pestilenta detentora de extraordinária aptidão para se alojar nas rugas flexoras, e até nas mais dissimuladas pelo hábito e pela decência». Por aqui se pode constatar que já no ano 1928, data da publicação do "Tratado" pela Gallimard, havia uma insuspeita clarividência no que concerne as estas questões. E quanto a escritores malditos, por cá, o que se aproxima mais do epíteto é um tal de Luiz Pacheco cuja última informação recolhida foi a de que estava asilado num lar de idosos e, se já morreu, eu não soube porque estes, por certo, não ganham as honras de Panteão destinadas às celebridades produzidas pelo nosso tão criterioso sistema político e cultural.
Thom Yorke
Gosto de Thom Yorke.
A música do homem deprime-me, é certo, mas gosto. Poucas vozes conseguem transmitir-me simultaneamente, e no mesmo sussurro, calma, angústia, candura, raiva, paz de espírito e inquietude.
Escrevo isto porque a estreia do homem a solo – no álbum The Eraser – tem sido a banda sonora da minha vida ao longo das últimas semanas. Com uma faixa em particular, “Black Swan”, a ‘encalhar’ insistentemente no repeat.
Black Swan
What will grow quickly, that you can't make straight
It's the price you gotta pay
Do yourself a favour and pack you bags
Buy a ticket and get on the train Buy a ticket and get on the train
Cause this is fucked up, fucked up
Cause this is fucked up, fucked up
People get crushed like biscuit crumbs
And laid down in the bed you made
You have tried your best to please everyone
But it just isn't happening
No, it just isn't happening
And it's fucked up, fucked up
And this is fucked up, fucked up
This your blind spot, blind spot
It should be obvious, but it's not.
But it isn't, but it isn't
You cannot kickstart a dead horse
You just crush yourself and walk away
I don't care what the future holds
Cause I'm right here in your arms today
With your fingers you can touch me
I'm your black swan, black swan
But I made it to the top, made it to the top
This is fucked up, fucked up
You are fucked up, fucked up
This is fucked up, fucked up
Be your black swan, black swan I'm for spare parts, broken up
PS: Digamos que é uma música que me eleva a alma a dimensões cósmicas... :-)
Acerca do meu ùltimo "post"
Fica a promessa que, no futuro, entrarei numa linha meticulosamente pop e, assim sendo, procurarei produzir exultantes panegíricos a tudo o que esteja em relação directa ou indirecta com as actividades das Produções Fícticias, com os livros do Eduardo Madeira e, por que não, com o livro "Óculos Azuis" do Nilton. Farei a barba a reflectir sobre as doutas opiniões da nossa Clarinha Ferreira Alves e juro, mas juro mesmo, que não perderei uma única linha da sua frívola Pluma Caprichosa, nem do seu último romance que está em forma de esboço desde os anos 80. Com todas estas referências, escusado será dizer que não haverá nenhum motivo que me faça parar ou abrandar na compulsão destas destemidas leituras. Será mais sensato fazê-lo quando "As Metásteses do Gozo" de Slavoj Zizec for editado pela Relógio d'Água. Aí sim, todas as razões serão plausíveis para parar, abrandar ou bater em retirada assim que estabeleça uma relação visual com o título, não vá eu ficar com um olho estrábico.
Wednesday, September 06, 2006
A dimensão cósmica da minha ignorância
Bem sei que raramente cá venho. Mas acreditem que sigo com grande atenção os escritos dos meus colegas de blog. E, por conseguinte, as pistas, recomendações, sugestões, críticas ou análises por eles aqui expressas constituem-se frequentemente como uma espécie de ‘guia’ para ler, ver, ouvir, conhecer ou explorar. O respeito que tenho pelas suas opiniões e a amizade que sinto por eles faz-me acreditar quase cegamente que vou, à partida, apreciar o que me aconselham.
O exemplo mais recente foi a sugestão que consta no post anterior: uma entrevista de Alexandre Nunes Oliveira a Alexander Sokurov, de quem se diz ser o mais importante cineasta russo da actualidade. Um facto que eu desconhecia e que, portanto, motivou a ‘necessidade’ de preencher esta lacuna na minha cultura geral.
Mas... fracassei. Sim, confesso que fracassei. A simples leitura da entrada que antecede a entrevista propriamente dita fez-me recuar na intenção. Peço desculpa, mas não consigo...
Enquadrar mentalmente o conceito de «superior estilista do cinema contemporâneo» foi, digamos assim, um exercício acessível. Quem está habituado a folhear os suplementos de cultura dos diários generalistas depara-se frequentemente com estas coisas e habitua-se. “Siga”, pensei eu...Uns quantos caracteres a seguir, no entanto, o grau de exigência eleva-se e atira-nos, de forma rude com um «demiurgo de uma experiência filmíca totalmente inovadora, mesmo nos círculos mais alternativos»... Uff... Ora deixa cá ver... “demiurgo”... ok... “experiência fílmica”... ok... Contextualizam-se os elogios... percebe-se a lógica laudatória... arregaçam-se as mangas e preparamo-nos para começar a ler a entrevista.
Eis senão quando nos surge um impiedoso «personalidade única e absolutamente singular, autor de um cinema contemplativo, filosófico, profético e de autênticas dimensões cósmicas». Cinema de ”autênticas dimensões cósmicas”?!?! Desisti... Até conseguir perceber se isto é uma masturbação ao ego do entrevistado ou se é uma masturbação ao ego do entrevistador, em forma de delírio literário, não serei capaz de avançar para a leitura da entrevista.
O exemplo mais recente foi a sugestão que consta no post anterior: uma entrevista de Alexandre Nunes Oliveira a Alexander Sokurov, de quem se diz ser o mais importante cineasta russo da actualidade. Um facto que eu desconhecia e que, portanto, motivou a ‘necessidade’ de preencher esta lacuna na minha cultura geral.
Mas... fracassei. Sim, confesso que fracassei. A simples leitura da entrada que antecede a entrevista propriamente dita fez-me recuar na intenção. Peço desculpa, mas não consigo...
Enquadrar mentalmente o conceito de «superior estilista do cinema contemporâneo» foi, digamos assim, um exercício acessível. Quem está habituado a folhear os suplementos de cultura dos diários generalistas depara-se frequentemente com estas coisas e habitua-se. “Siga”, pensei eu...Uns quantos caracteres a seguir, no entanto, o grau de exigência eleva-se e atira-nos, de forma rude com um «demiurgo de uma experiência filmíca totalmente inovadora, mesmo nos círculos mais alternativos»... Uff... Ora deixa cá ver... “demiurgo”... ok... “experiência fílmica”... ok... Contextualizam-se os elogios... percebe-se a lógica laudatória... arregaçam-se as mangas e preparamo-nos para começar a ler a entrevista.
Eis senão quando nos surge um impiedoso «personalidade única e absolutamente singular, autor de um cinema contemplativo, filosófico, profético e de autênticas dimensões cósmicas». Cinema de ”autênticas dimensões cósmicas”?!?! Desisti... Até conseguir perceber se isto é uma masturbação ao ego do entrevistado ou se é uma masturbação ao ego do entrevistador, em forma de delírio literário, não serei capaz de avançar para a leitura da entrevista.
Tuesday, September 05, 2006
Cinema
Entrevista a Sokurov por Alexandre Nunes Oliveira, essa criatura intratável e de péssima fama. Fiz esta ligação tarde, mas vale sempre a pena. Considerações sobre a arte, a literatura, o cinema, e o vínculo necessário e sempre actual que se estabelece entre o criador e a cultura humanista. Para ler!
Sunday, September 03, 2006
Prazeres da vida...
Saturday, September 02, 2006
Uma cópia... dum ponto final... para dar mais a conhecer...
"Acabou O Independente. Nos seus tempos de glória, quando Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas lideravam o semanário, a IF era por lá considerada o melhor programa da rádio portuguesa. A certa altura... publicam uma página inteira de publicidade completamente gratuita à Íntima Fracção ! O anúncio (uma foto com um miúdo de costas, no meio da noite, frente a um posto fronteiriço) foi das mais belas imagens criadas sobre a IF. Nunca soube de quem foi a ideia. Obrigado Indy ! É estranho o fim deste jornal." In Íntima...
Friday, September 01, 2006
E sete anos depois... Chill out...
É estranho como uns gajos de Inglaterra constroem o seu meio musical de transporte para o sul dos Estados Unidos, ao invés do campo britânico como o fez Astley. Ainda para mais, gravado ao vivo, sem cortes, num take.
Talvez fosse essa a sua trip, fugir sem parar para o oeste, num comboio para o deserto, ao som de uma pedal steel guitar, enquanto o padre prega: "Get ready... all the way down the east coast... come back fat as a rat"!
De KLF Trancentral studio apanho boleia pós states...
De KLF Trancentral studio apanho boleia pós states...
No verão... de jardins donde nos sentimos seguros ouvimos...
Virginia Astley
11 anos depois de ouvir pela primeira vez... 23 depois da sua campestre construção ambiental... chegou a minha edição especial!
Desde que me tornei pirata, só cedo às pressões da indústria fonográfica quando surge um álbum que considero digno de uma colecção e que exista numa edição diferente. Procurava a original e não a sua reedição. A da capa com textura e não da imagem presa num quadrado de plástico. A diferença, tal como ela existe no próprio álbum, por ter sido gravado na época do auge pós-punk. Claramente à frente do seu tempo, ignorado na altura, algo que não aconteceria nos tempos de hoje. Instrumental como os ambientes de Eno, mas melódico de mais, o que o afasta destes.
Quanto aos sons, a mistura da natureza com delicados pianos e flautas pastorais, fazem-me perder pelo campo...
ainda haverá subversão?
Não! Estes senhores que estão a ver na imagem foram aqueles que desafiaram a lei do tempo, do tempinho seguro, do conforto e da monotonia burguesas. Desafiaram costumes retrógados e hipócritas, iniciaram o movimento contracultural nos Estados Unidos. A sua vida confunde-se com a obra e o inverso também acontece. Estes senhores, apesar da desgraça em que cairam Kerouac e Burroughs, foram sinónimo de integridade no plano da obra e, como tal, emana das suas palavras uma força invulgar. Uma força que adveio de uma raiva incontida pela vida, talvez uma antropologia nietzschiana como numa das personagens de Kerouac.
Mas pergunto, ainda haverá subversão? A resposta é certamente não, pois a obra destes senhores não constituiu, seguramente, uma forma de marketing para atrair novos nichos de mercado. Se é que querem perceber onde quero chegar.
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