Bernard Stiegler
Quero, antes de mais, sublinhar que o post do meu companheiro de blog não irá condicionar em nada aquilo que irei aqui escrever no futuro. Por uma razão muito simples: não tenho qualquer pachorra para andar a discutir aqueles assuntos consensualmente pertinentes como quem quer retirar daí algum protagonismo, nem que para isso sejam proferidas as mais soberbas banalidades por quem, de direito, já conquistou o seu lugar ao sol na blogosfera. Poderia dar alguns exemplos sobre a mais recente discussão sobre a IVG, mas não. Prefiro recuar um pouco tempo e recordar alguns posts do blog Atlântico sobre o que seria a Belle France e a França de merda. No primeiro caso, mostravam-se capas de alguns livros de Raymond Aron. No segundo, bem, aí não me recordo, mas sendo figuras tão sábias devem ter colocado capas de livros do Althusser, do Foucault, do Deleuze e, por que não, do Onfray. Tudo, porque com toda a certeza já os leram, e daí retiraram as mais brilhantes conclusões: "lá vêm estes tipos querer desmontar as engrenagens sociais, quando todos sabemos que o mercado a funcionar livremente é que é bom e qualquer outra forma de conceber a sociedade é pura e simplesmente um logro". Ou, "os terroristas são uns mauzões e, como tal, os E.U.A. têm é que promover guerras à grande para que possamos defender o estilo de vida das sociedades ocidentais". Basta observar a postura dos E.U.A em relação à Coreia do Norte, onde o respeito pelos Direitos humanos é nulo, para ficarmos mais elucidados acerca coerência discursiva da direita lusa militante que, diga-se com propriedade, é uma das que na Europa mimetiza mais o discurso de Bush. E, com isto, está tudo dito.
Bom, mas como não vim aqui escrever para falar do sistema de "massagens" instituído na blogosfera portuguesa, sigamos em frente. Domingo, li na "notícias magazine" que o Centro Pompidou comemora este mês trinta anos e, aproveito o facto, para dizer algo sobre aquele que é actualmente o director do departamento para o desenvolvimento cultural dessa instituição. E porquê falar dele, quando o Centro Pompidou, pela sua história e arquitectura, nunca poderá ser reduzido a uma figura do presente? Pela razão de ser Bernard Stiegler, homem que teve um percurso de vida bastante curioso, senão mesmo fascinante.
Aquando jovem, Stiegler foi proprietário de um bar e, durante esse período, dedicou-se de alma e coração àquilo que um dos mais eminentes representantes das letras drogadas (esta expressão é do grande Vila-Matas), Charles Baudelaire, designou por "paraísos artificiais". Arruinado e com as contas canceladas, Stiegler não se fez rogado e prontificou-se a assaltar o banco. Não contente com isso, assaltou mais uns 5 ou 6, tendo sido, posteriormente, detido. Cumpriu uma pena de prisão e saiu 7 anos mais tarde por bom comportamento. Durante esse período, Stiegler dedicou-se exaustivamente à leitura, tendo completado os seus estudos oficiais neste curioso regime de "internato". Ao sair, não fez a coisa por menos e foi falar precisamente com Derrida que, a pedido do jovem, aceitou orientar a sua tese académica. Confrontado com o seu passado, Stiegler confessa: «a melhor coisa que me aconteceu na vida foi ter estado preso». E, de facto, foi! Bernard Stiegler é actualmente um dos mais prolíficos filósofos franceses e, para além do cargo que já referi, é também director do IRCAM (Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique).
Bem sei que este não é um assunto fracturante que vá dar azo a muitos comentários, mas tinha de o escrever para sublinhar que, ao contrário do que nos possam fazer crer, nem todos os trajectos de vida terão de ser lineares.
Nota: Stiegler tem um livro publicado em Portugal, pela Editora Vendaval.
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