A procura diária por uma uma sintonia, a tal busca por um posto mágico, de que fala Sam Shepard, que nos satisfaça os anseios das nossas vidas. É o que procuro na rádio quando a sintonizo a cada dia.
António Cartaxo, radialista de longa data, a maior parte do tempo na rádio pública portuguesa (com passado no serviço internacional da BBC em Londres, e uma breve passagem pela TSF nos inícios dos anos 90) é, a par de Francisco Amaral e da sua "Íntima fracção", o meu novo arauto desta sintonia.
A sua voz é inconfundível. Diria mesmo invulgar. Suave, segura, ondulatória. Um tanto ou quanto encantatória. É com toda esta envolvência e classe, de grande contador de histórias, num misto de simplicidade e sensibilidade que a música é-nos apresentada e explicada, despindo-a da aura de distanciamento e de uma certa frieza. Torna-se quente e próxima de nós.
Embora, já tivesse ficado impressionado por anteriores colocações de dilemas contemporâneos de como pronunciar correctamente os nomes dos compositores clássicos, como o do compositor da Paixão Segundo S. Mateus, Johann Sebastian Bach? Com todo o ruir teotónico do som germânico mais puro e enraizado ou simplesmente (e à portuguesa) João Sebastião Bach? Diremos Dvorak (devoraque) ou pronunciar correctamente Dvorak (devorjaque)? Foi a emissão de hoje, que me fez prestar um tributo a este singular comunicador.
Romancistas, filósofos, poetas, categorias intelectuais onde figuram Rousseau, Nietzsche, Anthony Burgess, José Gomes Ferreira. Sabem o que liga todos estes nomes? Todos eles compuseram música! Jean-Jacques Rosseau chegou a julgar-se mais compositor que filósofo. Compôs entre outras obras a primeira ópera cómica francesa e trancreveu para flauta a Primavera das 4 estações de Vivaldi. Nietzsche hesitou muito tempo entre ser músico ou filósofo. Era um notável pianista, embora como compositor alguém o considerasse um Schumman de segunda categoria, compondo entre outras Marcha Húngara e uma miniatura ao piano denominada "Por ali corre um ribeiro". Também Katherine Mansfield hesitou entre a pena que a tornou célebre e o violoncelo.
Surpreendente... ou talvez não... nada como um bom Cartaxo, logo pela manhã, antes de entrar ao serviço, para deixar um indivíduo bem disposto.
O erudito toma forma através das Grandes Músicas, pelas 09h25, na Antena Um, de segunda a sexta. Ou então, se isso não for possível, entrar Em Sintonia, ao sábado, na Dois, pelas 11h00, com repetição às 22. O som tem a dimensão do infinito, mas para quem se deixe limitar pela imposição da imagem, ainda assim, é possível manter uma certa dimensão de transcendência nas Grandes músicas da RTPN.
2 comments:
Absolutamente de acordo quanto ao Cartaxo, parece que finalmente "disponível" para público mais vasto.
Também um bom "salut" para este blog, finalmente por mim descoberto.
Absolutamente de acordo quanto ao Cartaxo, parece que finalmente "disponível" para público mais vasto.
Também um bom "salut" para este blog, finalmente por mim descoberto
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