Tuesday, June 20, 2006

Neuróticos Anónimos


Sou um rapaz neurótico imerso e diluído em aporias que estorvam os meus passos, a respiração. Também tenho asma. W. Benjamin sentia a iminência da morte no ataque de asma, ausência de respiração, negação da vida. A natureza assim o quis, já não me importo. Benjamin suicidou-se e legou-nos uma obra onde em cada parágrafo descobrimos um plano original, um vislumbre que os outros não captaram. Viveu num tempo em que o sentido era depurado a partir das grandes clivagens ideológicas. Preferiu a morte pelas suas mãos a ser capturado pelos Nazis. Fim do ataque de asma.

O sentido de Benjamin está morto. No começo do séc. XX os soldados marchavam gloriosamente para o campo de batalha. Hoje, dá-se o absurdo de um soldado ficar estacionado no Iraque e vir de lá sem ter tido sequer a oportunidade de confrontar-se cara a cara com o inimigo. Sam Mendes retratou isto sem grande brilho no seu último filme. As guerras sempre serviram para isso, para o confronto com a morte na presença do Outro. Logo, perdeu-se o sentido original da guerra. Como se tem vindo a perder o sentido de consciência colectiva onde cada indivíduo assumia a sua identidade numa ideologia ou nessa entidade forjada pela modernidade que é a nação. Esse é um tempo outro que já não nos diz respeito porque o nosso tempo presente encontra-se hiper-fragmentado em múltiplas comunidades de interessese onde até mesmo a dor, a angústia e o sofrimento são trazidos para o centro, ou seja, a dor psiquica é mais do que nunca institucionalizada. Daí o título deste post - Neuróticos Anónimos.
No meu caso, a convivência regular com os abismos da alma já decorre com a normalidade de quem não partilha qualquer entusiasmo por essas comunidades carregadas de rituais próprios, códigos de estabilização da experiência e regras com as quais nunca me dei nem darei bem. Prefiro acreditar que da neurose também surjem coisas belas e é aí que encontro o meu mais do que merecido conforto. Segue aqui apenas um exemplo.
Street Spirit (Fade Out).
Rows of houses all bearing down on me
I can feel their blue hands touching me
All these things into position
All these things we'll one day swallow whole
And fade out again and fade out.
This machine will not communicate
These thoughts and the strain I am under
Be a world child, form a circle
Before we all go under
And fade out again and fade out again.
Cracked eggs, dead birds
Scream as they fight for life
I can feel death, can see it's beady eyes
All these things into position
All these things we'll one day swallow whole
And fade out again and fade out again.
Immerse your soul in love.
Immerse your soul in love.
(Thom Yorke) Radiohead - 1995. The Bends.

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