Saturday, May 15, 2010

Casimiro

"Fujam, fujam, que aí vem ele", ribombavam eles muito afeitos e zelosos da parideira de vilanias mentais a que foram acostumados. Era um aprumo vê-los naqueles rigores que só cabem aos justos. E o rapaz, que diziam chamar-se Casimiro, sofria muito, ou pelo menos aparentava sofrimento rigoroso. Não fora Casimiro aparecer, tudo estaria bem naquele recato, naquela ordem que antes fora do senhor e que agora dava ares de rigores burgueses e trabalhadores. E a preguiça, meus senhores, ou a sua aparência, era a máxima transgressão que lhes era permitida. Casimiro, de quem se dizia ser maluco, não se conformava. Ria ou acabrunhava numa vertigem pouco vista naquela gesta, muito situada a bem receber quem lhe era conforme. Como Casimiro não era assim, e para que não lhe causassem muito desmerecimento, levou a justa pena, que nestas coisas não pode tolerar desleixo. O pontapé no cu já se esperava, o cinismo, ainda vá. Mas, tratando-se de Casimiro, que aguardava com penitência a decisão, um tiro nos cornos a aviá-lo para a exclusão social até soava a exagero. Mesmo assim, como a justiça por ali não era branda, assim foi. Mas bem podem desunhar-se que ele, Casimiro, muito resistente e probo, há-de por cá continuar a enfrentar todos os desmandos que, por destino, lhe calharam impantes e cruéis.

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