Wednesday, July 19, 2006

After peace, swim twice...

Foi ouvi-la à primeira, sentir a paz invadir-me e duas braçadas depois, ainda me encontrava no início... voltei a ouvi-la e não conseguia afastar-me. Comigo, há sons assim. Fazem um remoinho no ouvidinho e ficam. E basta um contrabaixo monstruoso que é acariciado enquanto se deixa acompanhar por uma guitarra em Trips lânguidas para ficar preso. Assim se faz a minha minimalista, sinistra e atmosférica melancolia. Como sou um mau intérprete da mais profunda forma de ser português, faço-o aliando-me à música, a este fado que traz pó, vindo do Western. Paris Texas anda por ali.
Neste filme feito a dois (três se contarmos comigo), embora não nos encontremos propriamente num ambiente propício a grandes mudanças, tal não causa o indesejado ambiente das bandas-sonoras que repetem a sua fórmula à exaustão. E como Fernando Pessoa, "Quando a alma não é pequena", surgem várias faces, várias personalidades, várias músicas dentro do corpo musical que é criado.
Assim como neste duelo intimista entre a guitarra e o contrabaixo, também eu me duelo na procura das músicas em que não existe um tempo. Afinal, são estas que perduram...
Enquanto espero pela próxima, aguardo a todo o momento que o Clint Eastwood entre por uma casa de fado a dentro. Se calhar, já este fim-de-semana no Xico... é a tasca pá...!

desabafos

Este espaço foi encarado como um hiper-espaço em segunda mão, género as sobras que saem do frigorifico e vão prontinhas para o forno em processo de ultrajante requentamento. Felizmente, os insuspeitos autores desta coisa ainda não sofreram qualquer processo de criogenização, o que os leva a circular e a pensar em liberdade sem terem de andar em demanda da Conquista do Pão (algo em tempos editado por uma instância grosseira e burguesa com o nome de Guimarães Editora). Sim, porque não é por não destruirmos palácios que virá a má-consciência das iniquidades mundanas pairar sobre estas bandas. São concepções, e boa razão tinha Bernard-Henri Lévy quando afirmou que a nostalgia das comunidades justas não é senão uma espécie de fascismo de outra ordem. Mas vão-lhes dizer isso e depois não se queixem de ser atirados para o lamaçal da indignidade, típico de uma tragédia grega, quais Creontes posteriormente castigados pela ira dos deuses por não terem feito justiça aos seus filhos. Valeria, portanto, a pena que os teólogos da moral dessem uma saltada cinematográfica pelo Adeus Minha Concubina para verificarem que afinal tudo é questionável e sempre pensável sob várias perspectivas. É essa a minha concepção do mundo e em relação a isso não farei a mínima cedência.
A Rede é um espaço rizomático, sem centro, consequentemente, quem aleatoriamente vier parar aqui por engano e não gostar, nós não nos importamos. Deixem fluir as possibilidades do rizoma e sigam para outras paragens, desde que estas contenham, pelo menos, algumas multiplicidades e não se guiem sempre pelo mésmo código.

Monday, July 17, 2006

multiculturalidades

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فيما قبلَ طلوعِ الشمسْمِن غرةِ هذاك الأمسْجَال بنفسي ألفُ سؤالْفي الأمالِ وفي الأحوالْوبصحةِ تلكَ الأقوالْتلك ال (تزعمْ)ء
حين تباغتُنا أو تهجمْأن المجرم يعني يالمسلمْوجلستُ على أثرِ الفجرْأتأملُ في هذا الأمرْوأفتشُ في غرفِ الصدرْعما يوقفُ غليَ القدرْوخَلَصتُ إلى أمرٍ هامْأخمدَ ألسنةَ الأوهامْوأضافَ (المَدَّ)إلى (اللامْ)*ءلا يا ولديليس الكفرُ هوَ الإيمانْوالبطشُ يُرىْ كل زمانْوالمسلمُ يعني الانسانْ

Sunday, July 16, 2006

Batatas


O produto e a embalagem.
Desde aquela noite, em amena parvalheira, onde soube que afinal, a intenção, a ideia original da companhia que fabrica as Pringles' era fazer bolas de ténis, que tento enquadrar tudo o que me rodeia no rótulo exacto.
A escolha há muito que estava feita. O nome de marca raquetídea, a embalagem, as cores, os logos a utilizar e até a catch phrase inicial da campanha: "Once they pop... they won't stop", alusão feita à característica única deste novo produto - eram ainda mais saltitantes.
A ideia tinha surgido após a descoberta de uma nova espécie de sapo por um Malaico, Etíope que vagueva as terras da Malásia e aí se deparou com os cocas que, por ali, se deslocavam em alturas e distâncias nunca antes vistas, sempre pousando em troncos e árvores ao seu redor.
Afinal, o sapo apenas chamou a atenção para as seringueiras ali existentes e para aquela madeira que, por uma combinação bizarra da natureza, continha uma espécie invulgar de óleo resinoso condensado que era sugado por aquelas patinhas, proporcionando-lhes o primeiro lugar no salto em comprimento e altura de qualquer competição.
Pringle's seria a inovadora companhia que iria colocar esta nova borracha na manufacturação de um produto, tornando as futuras bolas de ténis mais explosivas e de uma pressão estonteante comparativamente com as restantes existentes no mercado.
Foi, então, que no dia em que esperavam a matéria-prima para a sua produção, eis que chega um camião carregado de batatas. Mas o Malaico, jovem e relaxado, assim como os seus restantes colegas directores da companhia, entre eles o famoso Martin, não esmoreceram e disseram... que se foda, cortem-nas!
E se o produto original deixou de ter qualquer interesse após a descoberta da borracha sintética, a Pringle's não deixou de ser original na mudança do produto, ligando duas indústrias opostas, através da sua nova embalagem inovadora e nunca antes vista no mercado das batateiras.
Assim aprendi enorme lição na minha vida, aquela valiosa máxima de não julgar um livro pela sua capa. E quando digo isto, não é só relativamente àqueles que conhecemos, mas a tudo.
Por isso, juro que quando me falarem novamente em festa na Praia da Batata, não vou imediatamente imaginar, camiões repletos daqueles tubérculos a serem despejados na areia, já num estado de puré, num divertimento tão ou mais ímpar que a Tomatina. Juro!

Saturday, July 15, 2006

E já agora...

Aqui!

À descoberta

Vem hoje no Mil Folhas e acho que vale a pena dar uma saltada aqui.

O drama de não ter gaja ao sábado

Um homem procura normalmente um ente feminino (não me acusem de ser homofóbico) com quem partilhar coisas do corpo, coisas da alma, coisas da braguilha, coisas suspirantes e sussurantes, coisas doces e amenas, coisas que revolvem e se tornam violentas.
Ao Sábado, o drama de não ter gaja não passa tanto por aí. É mais o acto simbolicamente falhado de, ao comprar o Público, não ter uma, de preferência burguesinha e burra, para o singelo acto de: "Olha, toma este suplemento (Xis) para teres alguma coisa com que te entreter". O mesmo é dizer: "Toma lá isto e fica calada". Não sejamos, portanto, ingénuos e apreciemos a funcionalidade social de cada objecto. Na minha situação presente, a questão torna-se mais bicuda, pois há ali algo que carece de funcionalidade. Aquele objecto curandeiro das maleitas hedonistas da sociedade contemporânea fica para ali jogado, vago e morto, à espera do lugar que merece, the garbage.

Friday, July 14, 2006

Syd Barrett

A minha geração não cresceu a ouvir os Pink Floyd dos primórdios, pois quando se ouvia o nome da banda, imediatamente a associávamos a concertos mais aparatosos em termos visuais do que propriamente a algo que fosse musicalmente relevante.
Foram ressuscitados os Doors, ou melhor, o mito de Jim Morrison, com o filme de Oliver Stone. Ressurreição que tem vindo mais a inspirar os ímpetos de adolescentes neuróticos(as) do que a gerar um entendimento amplo daquilo que foi a cultura libertária dos anos 60. Aliás, o filme de Stone resumiu-se a isso, a mostrar um Morrison bêbado e pedrado no ecrã.
Porém, para quem gosta de música, como eu, não pode deixar de recuar no tempo para ouvir "The Piper at the Gates of Dawn", obra primeira dos Pink Floyd e dominada pelo génio louco de Syd Barrett. Por vezes, o génio tem destas coisas e, no caso de Barrett, a reclusão foi a forma encontrada para apaziguar os fatídicos demónios do espírito. A sua derradeira morte aconteceu há dias e com mais competência do que eu para dar conta do acontecimento temos o "blog" do Francisco Amaral, melómano de largo espectro.

São João Bom, Mártir

Em Portugal, qualquer governante tem a obrigatoriedade de deparar-se com o drama de fazer de São João Bom, Mártir. O herói do livro de Miguel de Unamuno viveu o angustiante problema de ser o pároco que perdeu a fé, mas que até ao fim da vida optou por esconder a sua descrença como forma de manter a ordem espiritual dos seus fiéis.
Guterres e Barroso não conseguiram cumprir até ao fim o papel de São João Bom porque fugiram assim que puderam para não terem de entrar em desespero existencial e, mesmo sabendo que faz parte do papel do político mentir aos seus súbditos, não iríamos pedir aos nossos governantes que cumprissem tamanho fardo existencialista, pois, para além de estar fora de moda, não parece haver figura com envergadura para cumprir essa tarefa em toda a sua extensão. O problema é que São João Bom que cumpre até ao fim só tem aparecido no futebol e, assim, a mentira apaziguadora das almas foi transferida dos domínios mais letrados para o balneário gigante que é hoje em dia este país. E é isso e tão só isso que deixa tão irritadas certas elites intelectuais em relação ao futebol.

Consensos

Ao ouvir os rasgados elogios de Luís Delgado ao Primeiro-Ministro, após a entrevista deste na Sic, fiquei convencido que finalmente o país vive num consenso alargado. Ficou assim bem claro que o PSD vai ficar a pregar no vazio até ao fim da legislatura e que para quebrar o marasmo restarão apenas as sempre fracturantes causas do Bloco de Esquerda e os discursos inflamados e neoconservadores dos capangas de Paulo Portas.
Para o Luís, o Engenheiro Sócrates está a ir mais longe do que o seu parceiro de Regime, o Presidente e ex-Primeiro-Ministro Cavaco. Sendo assim, é caso para perguntar se chegamos ao bizarro de termos um Presidente de centro-esquerda eleito com o apoio do centro-direita e um Primeiro-Ministro de centro-direita eleito com o apoio do centro-esquerda. Pode parecer bizarro, mas não é, pois é no ponto de intersecção destas duas linhas que se dará a convergência estratégica em Portugal nos próximos anos. O que mais me intriga é o facto de uma pessoa com a sageza política do Dr. Soares não ter percebido isto mais cedo ao ponto de se sujeitar ao vexame eleitoral que o seu próprio partido ardilosamente lhe preparou. No fundo, Soares e Alegre não foram mais do que duas marionetas manejadas com arte e engenho no quadro de uma peça muito bem montada nas últimas presidenciais.

Wednesday, July 12, 2006

E porque não uma cabeçada no Blatter?


Segundo consta, a FIFA está a ponderar retirar ao Zidane o troféu de melhor jogador do recente Mundial 2006. “O comité executivo da FIFA tem o direito e o dever de intervir quando vir um comportamento contrário à ética desportiva”, disse o presidente da entidade máxima do futebol, Joseph Blatter, ao diário italiano La Repubblica.

Este tipo de postura mete-me, digamos assim, um certo asco. Não que seja apologista da violência ou que entenda que a FIFA não deve pugnar pela defesa do fair-play e blá, blá, blá... É tudo muito bonito, sim senhor. E acho que esses argumentos são válidos. Da mesma forma que também acho que não devia haver fome no mundo e que deviam acabar as guerras e que as crianças são o melhor do mundo e todos esses clichés celebrizados pelas misses naquela fase da cerimónia em que são convidadas a debitar umas banalidades para se aferir da sua personalidade.

Mas a verdade é que tenho uma certa alergia a esta visão tecnocrata do futebol, típica de senhores eternamente acompanhados pelos seus charutos, em animados convívios nas tribunas de honra dos estádios. A cabeçada do Zidane foi um erro? Pois foi. Mas, no limite, entendo-a como uma demonstração de fraqueza. Típica da condição humana. Sublinhando, no fundo, o lado tantas vezes esquecido nas ‘estrelas’ que os adeptos veneram: são homens que ali andam nos relvados, não são máquinas.

Hoje, em conferência de imprensa, Zidane pediu desculpa “às crianças que assistiram àquela cena (...) e também aos seus pais, que tentam mostrar às crianças o que devem e o que não devem fazer” . É de homem. E continuou: “Mas não posso dizer que me arrependo do que fiz porque isso significaria que ele [Materazzi] poderia dizer o que disse”. Também é de homem. Mas a FIFA, obviamente, assim não o entende. Há que punir. Há que disciplinar. Há que castigar. Há que ponderar retirar o troféu legitimamente ganho no terreno. Colocando de lado qualquer envolvência social e/ou humana que possa justificar um (legítimo e humano) erro daquele que foi o melhor jogador de futebol do pós-Maradona.

E já que falo em Maradona... À medida que cresço e que tomo noção desta(s) triste(s) realidade(s), mais admiro e compreendo a sua eterna revolta. À medida que cresço e que tomo noção desta(s) triste(s) realidade(s), mais reforço a convicção de que ele é, foi e será para sempre a personificação do verdadeiro mito do futebol. A arte, o prazer, a emoção. Longe dos espartilhos cinzentos que a FIFA nos quer impingir. Nem que isso implique ter de investir nas narinas o montante de todos os prémios em ouro que a FIFA distribui a quem se acomoda no seu rebanho.

Sete Palmos de Terra


Exibido esta semana na 2:, o último episódio da série Sete Palmos de Terra fechou com chave de ouro um dos projectos mais estimulantes da ficção televisiva dos últimos anos. As personagens, o argumento e a estética do universo criado por Alan Ball deixam já saudades aos telespectadores fartos de “formatos-chapa-três”. Restam agora os DVD para recordar que (quando quer) a televisão ainda pode surpreender. Paz aos Fisher.

(Não que queira comparar os universos e a realidade dos mercados mas, por cá, continuamos alegres e felizes, a conviver numa base diária com a produção em série de novelas da NBP e com a adaptação de formatos oriundos da América do Sul. O mais recente caso é a novela Floribella. Cujo CD, por acaso, atingiu hoje a quíntupla platina - o que significa 100 mil exemplares vendidos em duas semanas, para quem não sabe. Será nestes pequenos pormenores que se afirma a nossa irreversível caminhada para o terceiro mundo?)