Friday, June 30, 2006
A minha ala verde...
Quero um emprego ou actividade em que trabalhar importe muito pouco!
Sei que no meu caso é pedir muito, o meu Office não é nem por sombras semelhante ao do Gervais. Assim sendo, só me resta deleitar com a única vertente que me é apresentada num outro local de trabalho, um hospital, onde se encontram os trabalhadores mais dementes que já tive o prazer de conhecer!
Bem sei que é ficção e psicoses destas, em tão larga escala, apenas existem na televisão, mas enquanto uns (embora existam canais aos pontapés), continuam a estrebuchar pelos horrores programacionais existentes, acho que tudo se resume à escolha do que se quer ou realmente interessa ver. E, em séries sobre médicos e hospitais, eu quero é ver psicoses! O paciente, a interacção com o doutor herói, o drama da doença que se lixe! Por isso escolho Green Wing!
Há quem diga que eu tenho uma visão distorcida da realidade. Nada melhor então que a existência de um programa directamente vocacionado para todos os que padecem deste mal.
A distorção difere da perda do contacto com a realidade, aspecto central da psicose. E, por esse motivo, ainda consigo viver no mundo real, ainda que, polvilhado por alguns comportamentos absurdos ou incompreensíveis. Mas são nesses que me revejo e naqueles que são capazes de nos darem a conhecer as suas verdadeiras personalidades e não aquilo que socialmente temos que reflectir.
Por isso, adoro tudo o que me permita visualizar a insanidade da mente (Scrubs - embora sem as liçoes morais), médicos que odeiam doentes (homenagem seja feito à personagem e apenas a essa do Dr. House) mas, principalmente ao descalabro doentio de uma panóplia de personagens, completamente insanas, que se descontrolam à velocidade de uma câmara ora veloz, ora lenta, consoante a demência instalada.
O meu delírio psicótico é a convicção inabalável, incompreensível e absurda que tenho, de que todos devíamos ser mais como a "staff management liaison officer" desta série... descubram-na...
O meu minuto matinal de holocausto
Sexta-feira, 8h30 - Comprar o Público, sentar-me no café e folhear o jornal. Peço o café, leio algumas notícias, passo pela entrevista a Mari Alkatiri (primeiro-ministro demissionário da mais idílica República do mundo, cujo presidente é a figura em pessoa de Pangloss, mas um Pangloss do Benfica, imagine-se!); não a leio, fica para mais tarde. Ponho de lado a Y para, na hora certa, alimentar a minha curiosidade pelas artes: Concerto de Ligeti na Casa da Música. É no Porto, não dá para ir ver. Vem o café, pego no pacote de açúcar e despejo-o como exercício de preparação (não confundir com aquecimento) para o desafio fatídico que se adivinha na última página.
Respiro fundo, fecho o jornal e viro-o. Ele aparece. O preto e branco da fotografia não disfarça o ar de quem nutre um profundo nojo pelo mundo, mais em concreto, pelo país onde vive. Hoje, escapa ao habitual, isto é, não zurze a torto e a direito nas coisas que merecem o seu esforço analítico, ou como ele deve pensar, nas pérolas que oferece aos porcos ignorantes e laxistas de merda que ainda se dão ao trabalho de o ler. Não há uma única referência a Pina Manique ou a Fontes Pereira de Melo. Nem há, sequer, a comparação de uma figura pública actual com o ministro mais pútrido, pestilento e jacobino da Primeira República. Nesta sexta-feira, ele deriva para a fenomenologia e entra nesse universo pré-reflexivo e grotesco que é o futebol. Mantém, no entanto, o registo habitual; olha de esguelha para o assunto e, após consumado o aborrecimento de ter de pensar sobre isso, "escarra" violentamente o seu ódio em tudo o que mexe, respira ou inala os cheiros nauseabundos da vileza que é este mundo. É-lhe indiferente que, amanhã, Portugal ganhe ou perca. Em síntese, o facto não lhe desperta nem repulsa nem simpatia. A grande verdade é que lido o artigo, pus termo ao minuto de holocausto a que me dispus neste novo dia.
Thursday, June 29, 2006
A arte de opinar e tudo aquilo com que temos de levar
OPINIÃO
do Lat. Opinione
s. f., maneira, modo pessoal de ver; aquilo que se pensa sobre determinado assunto; ideia; juízo, parecer, voto; crença, credo político ou religioso; teima; convicção;
Ponto 1: Ter opinião é um acto inerente à condição humana. Independentemente das bases intelectuais, das capacidades de raciocínio, do background sócio-cultural ou dos dons de oratória, argumentação e fundamentação associados a cada indivíduo, todos temos opinião. É um facto, inquestionável. (Ok, até pode ser questionável se estivermos a falar de humanos com graves perturbações mentais, mas, como devem perceber, não é esse o caso em análise neste post).
Ponto 2: Aliada à capacidade de ter opinião, surge a faculdade de emiti-la. Faculdade essa, aliás, consagrada em forma de direito no artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem. É também, portanto, um facto.
Ponto 3: Existe, se me é permitida a expressão, uma grande amplitude de ‘graus de opinião’, entendendo-se por esta expressão não a simples qualificação das opiniões como ‘boas’ ou ‘más’, mas sim o resultado natural de toda a envolvência da opinião propriamente dita. Ou seja, uma opinião comezinha, proferida em família, durante o jantar, sobre a eventual suprema qualidade de um sketch dos Batanetes é, por muito que nos custe, uma opinião. Da mesma forma que uma crítica violenta à falta de empenho do Ocidente na resolução dos problemas do Darfur, proferida por um alto quadro da ONU numa reunião do Conselho de Segurança é uma opinião.
Ponto 4: Quem tem opiniões gosta de emiti-las, lançá-las nos confrontos de ideias com outros indivíduos, colocá-las à consideração dos interlocutores. Por mais estapafúrdias e mal fundamentadas que elas se apresentem, é legítimo que quem tem opiniões as debite. Nem que as mesmas se apresentem como prenúncio de um universo de bestialidade mental. Em democracia é isso que acontece. E ainda bem. Porque nestas coisas dos processos de comunicação, temos também sempre presente a salvaguarda da liberdade de não ter de ouvir/ler/ver o que não queremos. É, também, um direito. Factual e inquestionável.
Ponto 5: Vivemos um crescente frenesim opinativo. Reduzindo a minha análise à realidade portuguesa, constato que a sociedade actual é, iminentemente, uma sociedade de opiniões. Toda a gente opina. Em todo o lado, a toda a hora, sobre todo o tipo de assuntos. Msmo que não os domine. Vivemos um período que se assemelha a uma deriva do estafado conceito cartesiano, para qualquer coisa como “Opino, logo existo”. Mas também neste ponto, a ‘gente que opina’ é passível de ser estruturada num amplo universo de, digamos assim, ‘graus de importância: uma coisa é ter a eloquência do discurso, a imponência da pose ou a versatilidade do raciocínio analítico de um Pacheco Pereira; outra coisa diametralmente oposta é a apresentação de argumentos mal esgalhados num qualquer xaroposo “Fórum TSF” ou “Praça Pública”.
Ponto 6: Se outrora o uso do espaço público para emissão de opiniões estava confinado a uma elite intelectual – privilegiada no acesso às fontes que possibilitavam a transmissão das suas ideias, convicções e, enfim... opiniões – o advento da internet e o posterior fenómeno da blogosfera veio acelerar a democratização desse acesso e refrescar o (até então) arcaico conceito de ‘espaço público’: os media, finalmente, como caixa de ressonância de todas as opiniões possíveis e imaginárias. Um cenário que pode ser analisado sob duas perspectivas. A Positiva: é bom, porque alarga o espectro de opiniões e de ‘opinadores’ sobre todo o tipo de temáticas. A negativa: é mau, porque este alargamento incorpora na sua essência mais de 95% de opiniões vazias, indefensáveis ou pura e simplesmente miméticas.
Ponto 7: O alargamento do espectro opinativo implica, forçosamente, a utilização de um filtro por parte do consumidor para a selecção daquilo que interessa. É o tal direito à liberdade de não ter de ouvir/ler/ver o que não queremos. Não gosto de um blog, não o leio. Não gosto de um jornal, não o leio. Não gosto de um comentador, não o ouço. Simples.
Ponto 8: Este alargamento do espectro opinativo colocou à disposição dos media mais tradicionais todo um novo universo de ‘opinion makers’. Com melhores ou piores exemplos, vários foram já os protagonistas que saltaram da blogosfera para os jornais, rádios ou canais de televisão. As escolhas feitas nesse contexto foram, também elas, elaboradas através da aplicação de filtros, de uma selecção, exercida consoante o âmbito de cada projecto e o perfil de cada ‘opinador’. Uma estratégia já aplicada um pouco por todo o lado, com resultados felizes ou infelizes. O julgamento máximo dessa felicidade ou infelicidade cabe ao ouvinte/leitor/telespectador, que avalia a aposta de cada meio nesse âmbito. E a resposta mede-se através dos resultados de audiência de cada órgão de comunicação social, baseados num reflexo simples: quem gosta vê; quem não gosta, não vê.
Ponto 9: Existem, porém, excepções a esta regra aparentemente simples. Um exemplo: eu quero ver um jogo de futebol, ou um resumo do jogo, e beneficiar do respectivo acompanhamento jornalístico. Gosto do jogo, mas não gosto do acompanhamento jornalístico que me é oferecido. O que faço? Tirar o som não é opção, porque gosto de ter som ambiente. Mudar de canal não é opção, porque quero ver o jogo ou o resumo. Fico, portanto, num dilema, que me leva às seguintes questões:
Quem foi o caralho que teve a infeliz ideia de convidar o alarve do Mozer para fazer comentários sobre o Mundial da RTP1? Que raio de filtro foi utilizado para escolher tão medonha criatura para analisar o que quer que seja? Com tanta gente nova a aparecer no últimos tempos no 'espaço público' com capacidades de análise clarividentes, válidas e lúcidas, porquê o Mozer, meus senhores?! Por ser brasileiro? Por ter sido jogador de futebol? Mas vocês pararam no tempo? Não sabem, como os outros, renovar o vosso leque de comentadores?
Se fosse num canal privado, a coisa até podia passar. Mas não: estamos a falar de um canal estatal, pago pelos contribuintes e cuja assinatura se arroga como sendo “serviço público”. Serviço público, meus amigos? Brincamos? Um homem que não sabe falar português? Um homem que não se sabe explicar? Um homem que não consegue articular duas ideias sem dar um pontapé na gramática? Um homem com claras dificuldades de compreensão? Um homem que não sabe ter presença? Um homem que, apesar do seu passado de futebolista, não sabe analisar uma merda de um jogo? Um homem que se limita a debitar banalidades?
Ide mas é bardamerda, senhores directores de informação da RTP. Sois pagos para saber que há casos em que nem o artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem se aplica. E um mongolóide armado ao pingarelho com meia hora de tempo de antena no horário nobre de uma televisão estatal é, claramente, um desses casos.
do Lat. Opinione
s. f., maneira, modo pessoal de ver; aquilo que se pensa sobre determinado assunto; ideia; juízo, parecer, voto; crença, credo político ou religioso; teima; convicção;
Ponto 1: Ter opinião é um acto inerente à condição humana. Independentemente das bases intelectuais, das capacidades de raciocínio, do background sócio-cultural ou dos dons de oratória, argumentação e fundamentação associados a cada indivíduo, todos temos opinião. É um facto, inquestionável. (Ok, até pode ser questionável se estivermos a falar de humanos com graves perturbações mentais, mas, como devem perceber, não é esse o caso em análise neste post).
Ponto 2: Aliada à capacidade de ter opinião, surge a faculdade de emiti-la. Faculdade essa, aliás, consagrada em forma de direito no artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem. É também, portanto, um facto.
Ponto 3: Existe, se me é permitida a expressão, uma grande amplitude de ‘graus de opinião’, entendendo-se por esta expressão não a simples qualificação das opiniões como ‘boas’ ou ‘más’, mas sim o resultado natural de toda a envolvência da opinião propriamente dita. Ou seja, uma opinião comezinha, proferida em família, durante o jantar, sobre a eventual suprema qualidade de um sketch dos Batanetes é, por muito que nos custe, uma opinião. Da mesma forma que uma crítica violenta à falta de empenho do Ocidente na resolução dos problemas do Darfur, proferida por um alto quadro da ONU numa reunião do Conselho de Segurança é uma opinião.
Ponto 4: Quem tem opiniões gosta de emiti-las, lançá-las nos confrontos de ideias com outros indivíduos, colocá-las à consideração dos interlocutores. Por mais estapafúrdias e mal fundamentadas que elas se apresentem, é legítimo que quem tem opiniões as debite. Nem que as mesmas se apresentem como prenúncio de um universo de bestialidade mental. Em democracia é isso que acontece. E ainda bem. Porque nestas coisas dos processos de comunicação, temos também sempre presente a salvaguarda da liberdade de não ter de ouvir/ler/ver o que não queremos. É, também, um direito. Factual e inquestionável.
Ponto 5: Vivemos um crescente frenesim opinativo. Reduzindo a minha análise à realidade portuguesa, constato que a sociedade actual é, iminentemente, uma sociedade de opiniões. Toda a gente opina. Em todo o lado, a toda a hora, sobre todo o tipo de assuntos. Msmo que não os domine. Vivemos um período que se assemelha a uma deriva do estafado conceito cartesiano, para qualquer coisa como “Opino, logo existo”. Mas também neste ponto, a ‘gente que opina’ é passível de ser estruturada num amplo universo de, digamos assim, ‘graus de importância: uma coisa é ter a eloquência do discurso, a imponência da pose ou a versatilidade do raciocínio analítico de um Pacheco Pereira; outra coisa diametralmente oposta é a apresentação de argumentos mal esgalhados num qualquer xaroposo “Fórum TSF” ou “Praça Pública”.
Ponto 6: Se outrora o uso do espaço público para emissão de opiniões estava confinado a uma elite intelectual – privilegiada no acesso às fontes que possibilitavam a transmissão das suas ideias, convicções e, enfim... opiniões – o advento da internet e o posterior fenómeno da blogosfera veio acelerar a democratização desse acesso e refrescar o (até então) arcaico conceito de ‘espaço público’: os media, finalmente, como caixa de ressonância de todas as opiniões possíveis e imaginárias. Um cenário que pode ser analisado sob duas perspectivas. A Positiva: é bom, porque alarga o espectro de opiniões e de ‘opinadores’ sobre todo o tipo de temáticas. A negativa: é mau, porque este alargamento incorpora na sua essência mais de 95% de opiniões vazias, indefensáveis ou pura e simplesmente miméticas.
Ponto 7: O alargamento do espectro opinativo implica, forçosamente, a utilização de um filtro por parte do consumidor para a selecção daquilo que interessa. É o tal direito à liberdade de não ter de ouvir/ler/ver o que não queremos. Não gosto de um blog, não o leio. Não gosto de um jornal, não o leio. Não gosto de um comentador, não o ouço. Simples.
Ponto 8: Este alargamento do espectro opinativo colocou à disposição dos media mais tradicionais todo um novo universo de ‘opinion makers’. Com melhores ou piores exemplos, vários foram já os protagonistas que saltaram da blogosfera para os jornais, rádios ou canais de televisão. As escolhas feitas nesse contexto foram, também elas, elaboradas através da aplicação de filtros, de uma selecção, exercida consoante o âmbito de cada projecto e o perfil de cada ‘opinador’. Uma estratégia já aplicada um pouco por todo o lado, com resultados felizes ou infelizes. O julgamento máximo dessa felicidade ou infelicidade cabe ao ouvinte/leitor/telespectador, que avalia a aposta de cada meio nesse âmbito. E a resposta mede-se através dos resultados de audiência de cada órgão de comunicação social, baseados num reflexo simples: quem gosta vê; quem não gosta, não vê.
Ponto 9: Existem, porém, excepções a esta regra aparentemente simples. Um exemplo: eu quero ver um jogo de futebol, ou um resumo do jogo, e beneficiar do respectivo acompanhamento jornalístico. Gosto do jogo, mas não gosto do acompanhamento jornalístico que me é oferecido. O que faço? Tirar o som não é opção, porque gosto de ter som ambiente. Mudar de canal não é opção, porque quero ver o jogo ou o resumo. Fico, portanto, num dilema, que me leva às seguintes questões:
Quem foi o caralho que teve a infeliz ideia de convidar o alarve do Mozer para fazer comentários sobre o Mundial da RTP1? Que raio de filtro foi utilizado para escolher tão medonha criatura para analisar o que quer que seja? Com tanta gente nova a aparecer no últimos tempos no 'espaço público' com capacidades de análise clarividentes, válidas e lúcidas, porquê o Mozer, meus senhores?! Por ser brasileiro? Por ter sido jogador de futebol? Mas vocês pararam no tempo? Não sabem, como os outros, renovar o vosso leque de comentadores?
Se fosse num canal privado, a coisa até podia passar. Mas não: estamos a falar de um canal estatal, pago pelos contribuintes e cuja assinatura se arroga como sendo “serviço público”. Serviço público, meus amigos? Brincamos? Um homem que não sabe falar português? Um homem que não se sabe explicar? Um homem que não consegue articular duas ideias sem dar um pontapé na gramática? Um homem com claras dificuldades de compreensão? Um homem que não sabe ter presença? Um homem que, apesar do seu passado de futebolista, não sabe analisar uma merda de um jogo? Um homem que se limita a debitar banalidades?
Ide mas é bardamerda, senhores directores de informação da RTP. Sois pagos para saber que há casos em que nem o artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem se aplica. E um mongolóide armado ao pingarelho com meia hora de tempo de antena no horário nobre de uma televisão estatal é, claramente, um desses casos.
Uma estreia por estrear
O nosso Quim, face à pressão alta a que diariamente é sujeito, faz que não é nada com ele, dribla um adversário e chuta a bola para canto como se estivesse a disputar um três para três de balizas pequenas numa praia ali para os lados da Cruz Quebrada. Acredita-se, porém, que quando irromper pelo campo dentro faça dribles épicos, dignos de um El Pibe, que apenas acabarão no fundo da baliza adversária.
Íntima fracção - Sempre pouco para dizer... muito para escutar... tudo para sentir...
Continuando na senda da descoberta do som... regresso ao passado...
Já lá vão mais de 20 anos... mais de 10 no meu caso e, a propósito da Íntima, aconselho que seja ouvida com atenção. Não serve a escuta dentro de carros em movimento que não sejam muito silenciosos, a escuta em rádios colocados sobre os balcões de restaurantes de bitoques, a escuta em balcões de roulottes de venda de cachorros ou farturas, a escuta em pequenos rádios a pilhas sem qualidade áudio, a escuta em salões de jogos. Não serve. A sua audição é para ser feita com headphones no quarto, na sala, em boas aparelhagens, nos carros parados ou a andar lentamente, em rádios portáteis na praia (à noite) ou no meio do campo, num quarto escondido e perdido no meio da cidade, sozinho, a olhar para a janela. A IF serve para desenhar com os ouvidos e não, não induz ao sono, induz ao sonho.
"Imagine a radio program like no other. One that makes public those artworks that have no place in traditional broadcasting. A radio program that is an archive of the new, the undiscovered, the forgotten, the impossible. That is an invisible gallery, a virtual arts centre whose location is at once local, global and timeless. And that is itself a work of art."
Wednesday, June 28, 2006
Dos escritores que traçaram linhas de fuga
Friends Within the Darkness
I can remember starving in a
small room in a strange city
shades pulled down, listening to
classic music.
I was young i was so young it hearts like a knife
inside
because there was no alternative except to hide as long
as possible--
not in self-pity but with dismay at my limited chance:
trying to connect.
the old composers -- Mozart, Bach, Beethoven,
Brahms were the only ones who spoke to me and
they were dead.
finally, starved and beaten, I had to go into
the streets to be interviewed for low-paying and
monotonous
jobs
by strange men behind desks
men without eyes men without faces
who would take away my hours
break them
piss on them.
now I work for the editors the readers the
critics
but still hang around and drink with
Mozart, Bach, Brahms and the
Bee
some buddies
some men
sometimes all we need to be able to continue alone
are the dead
ratting the walls
that close us in.
Anonymous submission.
(Charles Bukowski)
Timor
Aqui ainda não se escreveu sobre Timor, não se escreve, nem se escreverá. Não fui acender velinhas porque não acredito no homem bom Rousseauniano, e como a má consciência também não me assalta, não virão daqui recados paternalistas em relação ao destino dos outros povos. Porque foi sempre assim que o Ocidente agiu com os resultados que bem se conhecem.
22 anos
Veste-se de forma estranha, o que não é mau, rodeia a sua música por uma panóplia vasta de instrumentos, já tem voz de homem e fala muito do desejo de liberdade. No segundo álbum, Wind in the Wires (2005), demonstra uma maturidade invulgar para a idade. Para além do mais, é um esteta, pois se alguém reencarna a figura do dandy é este míudo britânco com o nome de Patrick Wolf.
Contra as figuralidades dominantes, aguarda-se com expectativa o seu terceiro álbum - "The Magic Position". To be free.
Saturday, June 24, 2006
Portugal - dispositivos de A a Z sem U
dispositivo de alienação - as novelas da TVI, a Selecção Nacional de Futebol e, antes de tudo isso, o Benfica
dispositivo de banalidade - Sic Mulher, Eles sobre Elas, Elas sobre Eles e a revista Xis
dispositivo de consumo - ambiência do Centro Comercial e do hipermercado - Belmiro
dispositivo de défice - a mitologia da Nação
dispositivo de enunciação - Impresa, Media Capital
dispositivo de farsa - a política e os seus actores
dispositivo de gosto - o lobby gay
dispositivo de humanidade - as Misericórdias, o Padre Vitor Milícias e a sua caridade desinteressada
dispositivo de ilusão - a modernidade da Nação
dispositivo de juventude - Sic Radical e Morangos com Açúcar, be nice be cool
dipositivo de lucidez - emigração
dispositivo de modernidade - a ilusão da Nação
dispositivo de novo-rico - mente recalcada pela pobreza
dispositivo de opinião - José Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa e...depois, todos os outros
dispositivo de procriação - a banca e a institucionalização do endividamento exponencial
dispositivo de quota - Ana Gomes
dispositivo de racionalidade - lapso histórico do Pombalismo
dispositivo de sedução - o encadeamento sígnico dos objectos
dispositivo de transgressão - o código da estrada
dispositivo de virilidade - erotizar o corpo num topo de gama alemão
dipositivo de x em equacão = eterno retorno do país à miséria
dispositivo de zombaria - a especularidade do real
dispositivo - instância indutora de práticas, discursos e acções.
Friday, June 23, 2006
11 dias depois
A homenagem feita por Bernardo Mariano, no suplemento 6.ª do Diário de Notícias, a um nome tão grande da música como foi Ligeti, poderia ser algo mais do que a mera enumeração das obras do autor nos catálogos da Sony, Teldec e Wergo. Também escreve um texto, ou melhor, uma sinopse sobre o percurso biográfico e artístico do compositor. Mesmo assim, sempre é melhor que nada.
Thursday, June 22, 2006
O passado não é muito longe
Inaugurar Marias é revolver a alma para escrever as coisas não ditas. Elas ficam-se assim simples e outras. Javier transporta o passado para o presente em mistério e, com ele, morremos por um acaso. É enorme e, independentemente das condições, o maior escritor vivo.
Tuesday, June 20, 2006
Cartaxo - Relances da criação dos maiores compositores de sempre, da Renascença ao nosso tempo, em ligação à vida, à sociedade e às outras artes.
A procura diária por uma uma sintonia, a tal busca por um posto mágico, de que fala Sam Shepard, que nos satisfaça os anseios das nossas vidas. É o que procuro na rádio quando a sintonizo a cada dia.
António Cartaxo, radialista de longa data, a maior parte do tempo na rádio pública portuguesa (com passado no serviço internacional da BBC em Londres, e uma breve passagem pela TSF nos inícios dos anos 90) é, a par de Francisco Amaral e da sua "Íntima fracção", o meu novo arauto desta sintonia.
A sua voz é inconfundível. Diria mesmo invulgar. Suave, segura, ondulatória. Um tanto ou quanto encantatória. É com toda esta envolvência e classe, de grande contador de histórias, num misto de simplicidade e sensibilidade que a música é-nos apresentada e explicada, despindo-a da aura de distanciamento e de uma certa frieza. Torna-se quente e próxima de nós.
Embora, já tivesse ficado impressionado por anteriores colocações de dilemas contemporâneos de como pronunciar correctamente os nomes dos compositores clássicos, como o do compositor da Paixão Segundo S. Mateus, Johann Sebastian Bach? Com todo o ruir teotónico do som germânico mais puro e enraizado ou simplesmente (e à portuguesa) João Sebastião Bach? Diremos Dvorak (devoraque) ou pronunciar correctamente Dvorak (devorjaque)? Foi a emissão de hoje, que me fez prestar um tributo a este singular comunicador.
Romancistas, filósofos, poetas, categorias intelectuais onde figuram Rousseau, Nietzsche, Anthony Burgess, José Gomes Ferreira. Sabem o que liga todos estes nomes? Todos eles compuseram música! Jean-Jacques Rosseau chegou a julgar-se mais compositor que filósofo. Compôs entre outras obras a primeira ópera cómica francesa e trancreveu para flauta a Primavera das 4 estações de Vivaldi. Nietzsche hesitou muito tempo entre ser músico ou filósofo. Era um notável pianista, embora como compositor alguém o considerasse um Schumman de segunda categoria, compondo entre outras Marcha Húngara e uma miniatura ao piano denominada "Por ali corre um ribeiro". Também Katherine Mansfield hesitou entre a pena que a tornou célebre e o violoncelo.
Surpreendente... ou talvez não... nada como um bom Cartaxo, logo pela manhã, antes de entrar ao serviço, para deixar um indivíduo bem disposto.
O erudito toma forma através das Grandes Músicas, pelas 09h25, na Antena Um, de segunda a sexta. Ou então, se isso não for possível, entrar Em Sintonia, ao sábado, na Dois, pelas 11h00, com repetição às 22. O som tem a dimensão do infinito, mas para quem se deixe limitar pela imposição da imagem, ainda assim, é possível manter uma certa dimensão de transcendência nas Grandes músicas da RTPN.
Neuróticos Anónimos
Sou um rapaz neurótico imerso e diluído em aporias que estorvam os meus passos, a respiração. Também tenho asma. W. Benjamin sentia a iminência da morte no ataque de asma, ausência de respiração, negação da vida. A natureza assim o quis, já não me importo. Benjamin suicidou-se e legou-nos uma obra onde em cada parágrafo descobrimos um plano original, um vislumbre que os outros não captaram. Viveu num tempo em que o sentido era depurado a partir das grandes clivagens ideológicas. Preferiu a morte pelas suas mãos a ser capturado pelos Nazis. Fim do ataque de asma.
O sentido de Benjamin está morto. No começo do séc. XX os soldados marchavam gloriosamente para o campo de batalha. Hoje, dá-se o absurdo de um soldado ficar estacionado no Iraque e vir de lá sem ter tido sequer a oportunidade de confrontar-se cara a cara com o inimigo. Sam Mendes retratou isto sem grande brilho no seu último filme. As guerras sempre serviram para isso, para o confronto com a morte na presença do Outro. Logo, perdeu-se o sentido original da guerra. Como se tem vindo a perder o sentido de consciência colectiva onde cada indivíduo assumia a sua identidade numa ideologia ou nessa entidade forjada pela modernidade que é a nação. Esse é um tempo outro que já não nos diz respeito porque o nosso tempo presente encontra-se hiper-fragmentado em múltiplas comunidades de interessese onde até mesmo a dor, a angústia e o sofrimento são trazidos para o centro, ou seja, a dor psiquica é mais do que nunca institucionalizada. Daí o título deste post - Neuróticos Anónimos.
No meu caso, a convivência regular com os abismos da alma já decorre com a normalidade de quem não partilha qualquer entusiasmo por essas comunidades carregadas de rituais próprios, códigos de estabilização da experiência e regras com as quais nunca me dei nem darei bem. Prefiro acreditar que da neurose também surjem coisas belas e é aí que encontro o meu mais do que merecido conforto. Segue aqui apenas um exemplo.
Street Spirit (Fade Out).
Rows of houses all bearing down on me
I can feel their blue hands touching me
All these things into position
All these things we'll one day swallow whole
And fade out again and fade out.
This machine will not communicate
These thoughts and the strain I am under
Be a world child, form a circle
Before we all go under
And fade out again and fade out again.
Cracked eggs, dead birds
Scream as they fight for life
I can feel death, can see it's beady eyes
All these things into position
All these things we'll one day swallow whole
And fade out again and fade out again.
Immerse your soul in love.
Immerse your soul in love.
(Thom Yorke) Radiohead - 1995. The Bends.
Monday, June 19, 2006
Galliano e Miu Miu
A senhora já se mostrou intranquila e ofendida com o texto de Augusto M. Seabra. É certo que A.M.S. não necessita que alguém saia em sua defesa, ainda mais quando esta vem de um sujeito que tem este pobre blogue com não mais do que três leitores diários (o meu Eu esquizofrénico que ouve vozes durante a manhã, o meu Eu bipolar das tardes de Primavera e o meu Eu depressivo crepuscular). Porém, daqui recomenda-se vivamente que a Hilário se dedique exclusivamente à produção de catálogos Galliano e Miu Miu. Seria um motivo mais que plausível para se ausentar por longas temporadas do país e, dessa forma, aliviar-nos da carga inane, frívola e nefasta de que são constituídos os seus textos.
Pretensiosismo
O que poderá haver de mais pretensioso do que alguém julgar-se portador de uma Bomba Inteligente? Aparentemente e essencialmente nada. De quem é a tal bomba? É de Carla Hilário de Almeida Quevedo (com um nome destes, só podia). Quem descreve a criatura na perfeição? Augusto M. Seabra no Mil Folhas do último sábado: "Se é bomba ou não, desconheço, mas em vez de inteligente é ignorante...".
Ligeti 1923 - 2006. Coisas sem Importância.
Morreu há dias um dos maiores compositores do século XX. Talvez o maior de todos. Foi o compositor que pôs de lado a pré-determinação do léxico musical e que tornou possível a compatibilidade entre a ordem e o acaso. No dia da sua morte, a mais justa homenagem foi-me sugerida por um amigo, ouvir o seu lindíssimo Requiem. Mas a sua audição não se ficará por esse dia, pois a obra dos grandes génios não é sequer beliscada pela erosão do tempo.
Em Portugal, o facto não teve muita relevância. Uma breve página no Público e pouco mais. Tivesse Ligeti jeito para o humor e para o Podcast e, certamente, o seu nome invadiria os serviços noticiosos dos vários canais de televisão. Não sendo esse o caso, ficamos todos à espera que, na primeira oportunidade, Clara Ferreira Alves nos explique quem foi e o que significou a obra de Ligeti no nosso tempo.
Não é necessário ler As Mitologias de Barthes para, ao interpretar o cabeçalho deste arrastão, perceber que o rapaz é muito narcisista. Ele poderá alegar que não, que é, isso sim, um tipo com ideias muito arejadas e criativas. E isso, em Portugal, só mesmo para os Supeitos do Costume, ou seja, os mesmos, sempre os mesmos e não mais do que os mesmos.
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