Por cá, a maltinha do politicamente correcto já se mostrou bastante indignada pelo facto de Grass ter feito parte das SS. Escreveram-se editoriais, artigos e posts de pendor moralista a retirar a legitimidade moral ao homem pelo erro cometido no passado. Porém, aquilo que seria importante, ler a auto-biografia do visado, onde este explica por que razão só revelou a verdade na velhice vai estar vedado a muitos portugueses. As editoras portuguesas, por razões de rentabilidade comercial, não parecem muito interessadas em publicar a auto-biografia de Grass. Na Alemanha já esgotou. Aqui, o que se esgota é a paciência. E esgota-se porque aquilo que poderá ser um dos grandes testemunhos sobre o século XX já está previamente condenado pelos outros moralistas (a obre de Grass é conhecida pelo seu teor moralista), mas, neste caso, os pequeninos, que saem da toca com as suas pomposas verdades antes de mergulharem a fundo na questão.
Na nossa democracia de explicadores - os opinion makers - é natural que assim seja. Embora noutros formatos, é a grande tradição católica do nosso país que emerge, a verdade vem sempre de cima sem que o indivíduo tenha a dignidade de a formular por si. Quando há cerca de três anos se falou em Portugal das duas obras de propaganda de Leni Riefenstahl (O Triunfo da Vontade e Olympia), houve quem prontamente dissesse que era necessário explicar às pessoas o que significavam aqueles filmes porque a sua beleza estética poderia levá-las a simpatizarem com aquelas ideias. Será que há paciência para esta gente que julga que quem está fora do seu raio de acção de cem metros não é dotada de juízo para avaliar por si as questões? Francamente, eu já perdi toda a paciência.
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