Sunday, February 24, 2008

Dedalus

Era pequeno-burguês, mas nem por isso sanguinário e fascista. O pai, sim, era membro do partido que dera origem ao nacional socialismo alemão. Queixava-se constantemente que os judeus lhe estavam a estragar o negócio dos naprons. Ele não, queria ser escritor. Um James Joyce, mas sem pala no olho. Era o único escritor que conhecia, por acaso. O senhor da leitaria Hoffmann dera-lhe o Retrato do Artista enquanto Jovem. Hoffmann gostava do menino Hans e o menino Hans gostava do senhor Hoffmann. O menino Hans era pequeno, loiro e de olhos azuis. O senhor Hoffmann era grande, moreno e meio enrugado, mas não usava bigode.

O pai usava, desde o casamento com Hannah Winmeinster, que se tornara entretanto Hannah Hammer. A mãe gostava do menino Hans e o menino Hans gostava da senhora Hannah Hammer. Contudo, herdou o Hammer, de que não gostava. Preferia Dedalus, o nome de Stephen, do livro que o senhor Hoffmann lhe oferecera. O menino Hans gostava do menino Hans e era mútuo, porque o outro menino Hans era sua metade esquizofrénica, que gostava de Hammer, e aí havia conflito com o que gostava de Dedalus. (a continuar)

2 comments:

Ivone said...

clap clap

Klatuu o embuçado said...

Belo texto, cheio de deliciosas ambiguidades.