Brutal! Finalmente, consegui uma foto do Zé, o Zé das Cabras. Mas atenção: Não o tratem por Zé das Cabras, pois ele não gosta. Fiquem-se pelo Zé, ok?! Ele enfurece-se, cospe, pega em pedras e atira-nos da forma atabalhoada que a sua digníssima postura de clochard lhe permite. Nunca sem um: «Vai pó caralho!», ou não fosse ele uma daquelas figuras que dão aquele toque e cor tão ímpares ao nosso espaço público.
E de onde terá ele vindo? Terá sido da Nau dos Loucos - Stultifera Navis, retratada por Bosch, que transportava as criaturas mais bizarras e loucas, aportando-as posteriormente nas mais diversas cidades europeias? Pela minha parte, é uma hipótese a não descurar, pois quero enriquecer o meu imaginário com todos estes seres fantásticos vindos da margem, e confessar que simbolicamente também lá me situo.
Stultifera Navis: A loucura confere a sua força à razão. Tempos idos. O classicismo reforçou e vincou uma fronteira entre a razão e as desconcertantes viagens da imaginação, que antes fluía com pouca espessura. Num território bem delimitado e ordenado, tudo foi classificado: loucos, vagabundos, histéricos, prostitutas, libertinos, espíritos arruinados, dementes, e alucinados entraram na categoria dos desrazoados - "a-sociais" diante do grande edifício ético, e não menos monótono, da cidade e do Estado burgueses. Empobrecimento da vida numa ética que enaltece as virtudes do tédio e do enraizamento? Sim, e por que não?! E...sim, porque na ânsia de tudo classificar, remetemos para a margem tudo o que nos horroriza, por sabermos precisamente que algo disso também está contido em nós - o impulso e o apelo demente das forças "malditas" da natureza. Só por isso, o Zé e outros como ele, também têm a sua história.
4 comments:
"simbolicamente também lá me situo" !!!
... hummmm
"A loucura confere a sua força à razão."
não será a inversa mais verdadeira?...
beijos! e não me "postes"...!
Olha! postou!
Então?!...
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