Saturday, February 28, 2009
Wednesday, February 18, 2009
Gastronomia Portuguesa à la Ferdinand
"Subo a íngreme Calçada da Glória pelo lado dos carris do funicular, com as solas de pele escorregando das pedras da calçada que são como cubos irregulares de gelo vulcânico.
Falha-me um pé e agarro-me ao corrimão partido. Esta ravina urbana espartilha dramaticamente a cidade velha de Lisboa. As paredes estão cobertas de graffiti em gatafunhos tipo esparguete enrolado com cores anarquistas de sprays.
Encontro-me com o Parker à porta do Alfaia na esquina da Rua do Diário de Notícias e da Travessa da Queimada. A cadeira de alumínio onde me sento está de tal forma inclinada que me faz escorregar para o espaldar.
Trazem-nos à mesa uma selecção de queijos, presunto e azeitonas. Vale a pena ir a Lisba só para comer queijo de Azeitão. A casca velha, envolta em gaze muçulmana, parece a pele de uma múmia egípcia.
Cortaram-lhe uma tampa na parte de cima e traz uma colherzinha espetada no interior cremoso. É feito numa terra um pouco a Sul, perto da serra e do litoral, a partir de leite de ovelha cru e não pasteurizado, com cardo em vez de coalho.
Barramo-lo como mel em fatias de pão fresco e a sua doce pungência dilata-nos as narinas, forrando-nos o tecto das bocas.
Surge uma travessa roxa de polvo, temperada com um picante suave. O Parker fala-me na escala de Scoville, usada para classificar os picantes. Uma pimenta jalapeno tem cerca de 3.000 pontos e um pimento vermelho zero. O que comemos só perfaz umas duas centenas.
À nossa direita fica a janela da cozinha. Filas de metais contemplam, na nossa direcção, as fotografias desbotadas dos penteados do ano passado na montra do cabeleireiro do outro lado da rua.
O chefe vê-nos e enfia o polegar e o indicador nos olhos de um salmão do mar de nariz atrevido, segurando-o para o podermos ver, abrindo as guelras num sorriso escancarado.
Pedimos peixe. A Caldeira de Peixes do Mar é descrita como "diferentes pedaços de peixe cortados aos bocadinhos e cozinhados em tomate, cebola, alho, vinho branco, pimentos, com batata a acompanhar".
Nacos grosseiros de peixe desconhecido nadam num molho com um sabor rico de ter estado a refogar de um dia para o outro. Para o caso de as batatas amarelas não terem absorvido todos os sabores, há fatias esponjosas de pão no fundo, debaixo dos ossos.
Raspamos a última colher da casca do Azeitão. Entornamos a última gota do vinho tinto. As pedras da calçada parecem mais escorregadias a descer."
Tuesday, February 17, 2009
Neonsychosis
Wednesday, February 11, 2009
O meu "Top 15"
Consta que Aristóteles terá dito, um dia, nos arredores de 350 a.c., que "dois amigos são uma mesma alma vivendo em dois corpos". Sorte a do filósofo não ter vivido a época tecnológica de hoje. Gostava de vê-lo enfrentar o desafio de alterar o seu tarifário de telemóvel e compor uma listagem de 15 almas preferenciais vivendo em 15 telemóveis diferentes. "Uma mesma alma"? Lol. Props po ppl da Grec.
Há muito me habituei a fazer "rankings". Graças ao "factor High Fidelity/Nick Hornby", consigo hoje aplicar uma série de princípios que me permitem, em meia dúzia de minutos, esgalhar um qualquer "top 5" de músicas, filmes, álbuns, clubes, jogadores, actores, comidas, bebidas, destinos, whatever. É simples, é ordenar preferências num exercício que não compromete. E que pode sempre ser alterado com a justificação do "ah!, esqueci-me desse".
Mas hoje tive de fazer um "ranking" diferente. Um "top 15" de contactos de telemóvel que passam a integrar a minha rede de chamadas com um custo mais barato. Independentemente da rede. É a amizade "powered by Optimus".
Confesso que me senti mal. A meia hora que dediquei à tarefa soou-me a pura instrumentalização de laços afectivos. 15 pessoas.
A família próxima é cabeça de série, tem direito a pote especial, ocupa 3 lugares.
A família menos próxima preenche o pote 2, ocupa 3 lugares.
Sobram 9.
Há os amigos. Há os "amigos".
Há os contactos obrigatórios, por mais frequentes.
Há os outros contactos mais dispensáveis, por poderem ser feitos por segundas vias.
Há 9 lugares.
Há mais pessoas do que lugares.
Este é mais amigo que aquele? E para este, ligo mais do que para aquele?
Este gajo é fixe. Mas é amigo?
Basicamente dei por mim a pensar, lá no alto da arrogância que a Optimus me ofertou, em quem é que merecia, ou não, estar no meu "top 15 de telemóvel". Um luxo, portanto. Uma espécie de Deus. Da minha lista de telemóvel.
Razão e coração em cima da mesa.
Carteira e sentimentos em equação.
Lá fiz a puta da lista.
15 pessoas.
Que me custarão, a partir de agora, € 0,159 por minuto. Em 90% dos casos, passo a pagar menos € 0,390 por minuto.
É a minha lista.
E deixou-me a pensar na vida.
Há muito me habituei a fazer "rankings". Graças ao "factor High Fidelity/Nick Hornby", consigo hoje aplicar uma série de princípios que me permitem, em meia dúzia de minutos, esgalhar um qualquer "top 5" de músicas, filmes, álbuns, clubes, jogadores, actores, comidas, bebidas, destinos, whatever. É simples, é ordenar preferências num exercício que não compromete. E que pode sempre ser alterado com a justificação do "ah!, esqueci-me desse".
Mas hoje tive de fazer um "ranking" diferente. Um "top 15" de contactos de telemóvel que passam a integrar a minha rede de chamadas com um custo mais barato. Independentemente da rede. É a amizade "powered by Optimus".
Confesso que me senti mal. A meia hora que dediquei à tarefa soou-me a pura instrumentalização de laços afectivos. 15 pessoas.
A família próxima é cabeça de série, tem direito a pote especial, ocupa 3 lugares.
A família menos próxima preenche o pote 2, ocupa 3 lugares.
Sobram 9.
Há os amigos. Há os "amigos".
Há os contactos obrigatórios, por mais frequentes.
Há os outros contactos mais dispensáveis, por poderem ser feitos por segundas vias.
Há 9 lugares.
Há mais pessoas do que lugares.
Este é mais amigo que aquele? E para este, ligo mais do que para aquele?
Este gajo é fixe. Mas é amigo?
Basicamente dei por mim a pensar, lá no alto da arrogância que a Optimus me ofertou, em quem é que merecia, ou não, estar no meu "top 15 de telemóvel". Um luxo, portanto. Uma espécie de Deus. Da minha lista de telemóvel.
Razão e coração em cima da mesa.
Carteira e sentimentos em equação.
Lá fiz a puta da lista.
15 pessoas.
Que me custarão, a partir de agora, € 0,159 por minuto. Em 90% dos casos, passo a pagar menos € 0,390 por minuto.
É a minha lista.
E deixou-me a pensar na vida.
Monday, February 02, 2009
O mito do escarafaboncho
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