Friday, February 29, 2008

Frisbis

Doi-me o calcanhar d'aquilo... provavelmente devido à hérnia discal entre a L5 e a S1. O neuro-cirurgião que me analisou o tic-tac, fez uma comparação da minha hérnia discal com um tremoço. "Como disse?" - perguntei eu com ar de Carlos Pinto Coelho no Acontece...
É que das duas, uma:
Sabem quando apertam um tremoço e ele não sai da casca por nada no mundo? Pois é, o meu disco (vertebral) é assim! Não vai sair daqui por nada neste mundo!
Sabem também o que acontece quando fazem um furo na casca do tremoço e o apertam? Pois é, o meu disco (vertebral) também é assim! Nunca mais o vão ver, porque vai sair disparado dali até à tasca mais próxima!
E já que aí estou, saia mais uma mine e um pires de tremoços...

Sunday, February 24, 2008

Dedalus

Era pequeno-burguês, mas nem por isso sanguinário e fascista. O pai, sim, era membro do partido que dera origem ao nacional socialismo alemão. Queixava-se constantemente que os judeus lhe estavam a estragar o negócio dos naprons. Ele não, queria ser escritor. Um James Joyce, mas sem pala no olho. Era o único escritor que conhecia, por acaso. O senhor da leitaria Hoffmann dera-lhe o Retrato do Artista enquanto Jovem. Hoffmann gostava do menino Hans e o menino Hans gostava do senhor Hoffmann. O menino Hans era pequeno, loiro e de olhos azuis. O senhor Hoffmann era grande, moreno e meio enrugado, mas não usava bigode.

O pai usava, desde o casamento com Hannah Winmeinster, que se tornara entretanto Hannah Hammer. A mãe gostava do menino Hans e o menino Hans gostava da senhora Hannah Hammer. Contudo, herdou o Hammer, de que não gostava. Preferia Dedalus, o nome de Stephen, do livro que o senhor Hoffmann lhe oferecera. O menino Hans gostava do menino Hans e era mútuo, porque o outro menino Hans era sua metade esquizofrénica, que gostava de Hammer, e aí havia conflito com o que gostava de Dedalus. (a continuar)

Sunday, February 17, 2008

Wednesday, February 13, 2008

Dores... d'alma.

Hoje, num café perto do trabalho, enquanto esperava pela mutação de uma nota de cinco euros em moedas para tabaco, uma rapariga, nos seus 20 e poucos anos - diria que 22 se me pedissem para adivinhar - falava ao telefone. Sentada na sua mesa, na sua vida, com um prato de sopa por companhia.

Que não, que não tinha razão. Que não, que não tinha sido assim. Que, quem quer que fosse o interlocutor, não estava a ver bem as coisas. Terminou a conversa, enfadada, com uma frase que - se me pedissem para escolher - seria a minha frase do dia: "Quando te passarem as dores d'alma logo me ligas, que agora tenho de comer a sopa".

Confesso que não sei ao certo o que são dores da alma. Se têm diagnóstico, tradução física. Não sei sequer se realmente existem, se doem ou se têm cura. Mas - se me pedissem para adivinhar -, diria que ela tem 22 anos e que tem futuro.

A sopa era de nabiça, a 0,90 euros o prato. E estava a arrefecer.

Do you have another opinion?

«As pessoas que deixamos de ver, de ouvir, de ler, nem por isso se afastam da nossa existência. O que sucede com maior frequência é precisamente o oposto. Essas pessoas, as que deixamos de ver, de ouvir, de ler, são as que mais estão dentro de nós. De forma dura, incómoda até. Quando penso nessas pessoas, sempre que penso nessas pessoas, quando não passa um dia sem que pressinta a sua presença em forma de sombra, de dúvida, de escuro, quando penso nessas pessoas, percebo que a dimensão do meu ridículo não cabe sequer dentro de mim. Dentro de mim, onde habitam essas pessoas. Presto-lhes, por isso, o meu tributo. Sejam bem vindas, pessoas ausentes. Vocês são a minha substância.»

(Harunnas Tedelski, in “Talvez um dia faça cocó no passeio – Visões semânticas da dialéctica entre o ser e o infinito” )

É como quem diz... paralelos, ou assim...

gouge away
you can gouge away
stay all day
if you want to
missy aggravation
some sacred questions
you stroke my locks
some marijuana
if you got some
gouge away
you can gouge away
stay all day
if you want to
sleeping on your belly
you break my arms
you spoon my eyes
been rubbing a bad charm
with holy fingers